O AVENTAL
by Immanuel
O avental é a vestimenta mais importante para o maçom, e se constitui por si só detentora de um simbolismo iniciático rico e completo. Inicialmente seu uso está relacionado à sagrada tarefa de construir. Desde os mais remotos tempos, quando o homem começou a utilizar suas mãos para modificar as formas, o avental é utilizado como objeto de proteção. Mais tarde veio reunir elementos de identidade social, tornando-se a insígnia característica daqueles que constroem e manipulam a matéria.
Existem arquétipos universais que trabalham no chamado inconsciente coletivo da humanidade, e que são manifestações primitivas presentes na psique humana. Tais arquétipos são referenciais simbólicos que influem no processo evolucionário humano, seja no âmbito individual ou coletivo. Se apresentam através da linguagem simbólica, que é um importante instrumental utilizado para facilitar o significado dos arquétipos, tornando-os um pouco mais compreensíveis a nosso modo racional de pensar.
O avental em si é a expressão de um arquétipo relacionado à proteção, mas também possui múltiplos significados. Muitas culturas mundo afora adotam o avental como símbolo da vontade criadora, e da pureza de intenções do artífice. Para alguns o avental é associado a proteção dos dois chacras ou centros de energia inferiores – básico e sacro. Nesse sentido possui uma função ética, pois ao cobrir a parte inferior do corpo, refrega as paixões e as afetividades extremas, ao mesmo tempo que deixa descoberto as partes superiores do corpo, as quais são sede das faculdades racionais e espirituais, que são necessárias ao trabalho do espírito, que produz o verdadeiro iniciado.
É também a principal vestimenta do maçom e suas origens remontam ao tempo da Maçonaria Operativa, quando tinha utilidade prática durante o ofício. Inicialmente era inteiramente branco e, com o passar dos séculos, foram incluídos adornos para identificar o simbolismo em cada grau correspondente, nos muitos ritos e potências maçônicas existentes. Podemos ainda, relacioná-lo a um triplo simbolismo: o da pessoa que se dedica ao trabalho – o Maçom – , que pertence a um meio de trabalho – a Maçonaria – e proteção aos riscos do trabalho – na escola alquímica de formação do caráter.
O avental caracteriza a roupa do iniciado, sendo ainda o emblema do trabalho, e recordando ao maçom que ele deve ter uma vida dinâmica e voltada ao trabalho no autoaperfeiçoamento
L. Wilmshurst, em seu livro “The Meaning of Masonry” escreve:
” Lembrai-vos de que usais o avental primeiro com a abeta levantada, sendo assim uma insígnia de cinco ângulos, indicando os cinco sentidos, por meio dos quais entramos em relações com o mundo material que circunda nossos ‘cinco pontos de fidelidade’ ou ‘ perfeição’, mas indicando também pela porção triangular em cima, em conjunção com a porção quadrangular embaixo, que a natureza do homem é uma dualidade de alma e corpo.”
O avental se relaciona a túnica de pele com que Adão e Eva ocultaram a sua nudez a pós o pecado original. É a vestimenta do espírito ao “cair” no mundo manifestado e o veículo que cada um deverá vestir para realizar a obra da construção universal.
Podemos então relacionar o avental do aprendiz com a constituição septenária presente na tradição esotérica oriental. Esta constituição representa o próprio homem e seus veículos manifestados e sutis, conforme representado ao lado.
Juntos, o triângulo e o quadrado possuem sete ângulos internos. No quadrado encontramos ângulos retos, simbolizando a retidão no agir enquanto lidamos com os quatro elementos ou veículos de aperfeiçoamento do espírito na matéria. O triângulo possui três ângulos agudos que podem variar de acordo com os graus de perfeição da percepção espiritual.
Wilmshurst escreveu que:
“O trilateral emblema no alto, adicionado ao quadrilateral emblema formam ambos o sete, que é o número perfeito, pois está escrito nume antiga doutrina hebraica, a qual a Maçonaria esta intimamente aliada: ‘Deus abençoou e amou o número sete mais do que a todas as coisas sob o Seu trono’, pelo que significa que o homem, o sétuplo ser, é a mais dileta das obras do criador.
O avental é o símbolo da vestimenta corpórea e da condição da alma (mais de sua permanente corporeidade invisível, que sobrevive a morte, do que do seu corpo físico temporal). A alma fabrica o seu próprio corpo ou ‘avental’, por meio de seus próprios desejos, e pensamentos (cf. Gen III:7: ‘eles fizeram seus aventais’), e segundo sejam estes puros ou impuros, assim será o corpo físico correspondentemente transparente e branco ou denso e opaco.”
O avental do aprendiz é branco por associar o grau a pureza da alma recém-nascida, e a abeta levantada indica que o triângulo ainda não é incisivo sobre a matéria. O avental do Companheiro possui a abeta virada para baixo, indicando que o espírito começa a impor ação sobre a matéria, e o homem começa a desabrochar e a brotar ao iniciar o processo de descoberta da quintessência, representado pela presença da pentalfa – a joia do grau de Companheiro – na abeta sobreposta do avental. A presença da cor azul-celeste permeando o avental, também remete a espiritualidade, lembrando ao Companheiro Maçom que agora deverá observar a sutileza esotérica e iniciática que cerca o seu processo formativo dentro do modo de vida Maçom.