I.N.R.I

by Immanuel

As letras que formam a palavra INRI são comumente associadas a uma frase latina colocada no cimo da cruz do Cristo pelos romanos, representando Ieshua Nazarenus Rex Iudeorum – Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus. No entanto, essas letras foram relacionadas, por muitas tradições, esotéricas, filosóficas e teológicas, a vários significados ao longo da história.

A título de exemplo, os alquimistas medievais sugerem que as letras se referem a frase Ignis Natura Renovatur Integra – Tudo na Natureza é Renovado pelo Fogo. Ou ainda Igni Nitrum Raris Invenitum – O brilho é raramente encontrado no fogo.

Os Jesuitas associaram as letras a frase Justus Necare Regis Impius – É justo matar um rei ímpio.

Embora ofereçam interpretações mais populares, no âmbito da tradição simbólica e iniciática, tais letras possuem significação mais ampla para os candidatos ao adeptado maçônico, e devem ser objeto de constante reflexão e estudo.

A Maçonaria possui raízes profundas nas tradições simbólicas iniciáticas ocidentais, que possuem sua maior expressão nas tradições Cabalística, Gnósticas e Egipcias. Portanto, os desdobramentos de um estudo aprofundado da palavra INRI, quando associado a tais tradições, oferecem importantes elementos de orientação ao estudante Maçom.

Acerca da tradição hebraica, podemos associar as letras latinas INRI às letras iniciais hebraicas que fazem referência aos elementos antigos: Yam (água), Nour (Fogo), Ruach (Ar) e Yebeshah (Terra). Daí cabe ampla associação, porém a mais importante se refere aos equivalentes hebraicos das letras latinas, que ficam como segue:

I: Yod

N: Nun

R: Resh

I: Yod

A tradição astrológica associa as letras hebraicas aos seguintes equivalentes:

I: Yod: Virgem

N: Num: Escorpião.

R: Resh: Sol.

I: Yod: Virgem

Os símbolos astrológicos possuem a seguinte associação: Virgem se refere a pureza original da natureza, a um estado de inocência edênica. Escorpião se relaciona à morte ou a transformação iniciática, que se dá de forma violenta ou súbita. O Sol, por sua vez, é o símbolo da luz, do centro que a tudo alimenta, sendo relacionado também a ressurreição. Como tudo na astrologia  faz referência aos ciclos da natureza celeste, podemos correlacionar esta simbologia com os ciclos das estações. Ao final do inverno no hemisfério norte o sol ilumina fracamente, tem seu ocaso e morte e a vida na terra se recolhe. Tudo se renova e renasce na primavera, e o mundo reinicia seu ciclo de esplendor. Virgem e Escorpião são a antítese, o nascimento e a morte.

Por outra via a tradição hermética associa os signos astrológicos as antigas divindades egípcias:

I: Yod: Virgem: Isis.

N: Num: Escorpião: Apophis (Set).

R: Resh: Sol: Horus.

I: Yod: Virgem: Isis.

Aqui cabe fazer uma interpretação simbólica com a situação do homem em estado pré edênico. A humanidade vivia sua primavera virginal no Jardim do Éden. Tal estado é abalado quando da intrusão de Lucifer ou Apophis, o portador da Luz ou do conhecimento do Bem e do Mal. Daí vem a queda na matéria ou o advento do outono. A isto segue que a humanidade ressurge com Osiris, que é o homem revigorado, aperfeiçoado pela experiência na matéria. Osiris, tal como o Cristo, foi traído e morto na matéria, sendo posteriormente o renovador de todas as coisas. Osiris declara: “Este é o meu Corpo, que eu destruo, para que possa ser renovado”.

Isis – Apophis – Osiris, formam com suas iniciais IAO, que é a divindade máxima dos gnósticos.

Este processo de iluminação é sintetizado na palavra latina LUX, que designa a luz. Isso se refere a um processo divino que transforma o psíquico do homem e o liga mais estreitamente a sua divindade ou Eu Superior. A palavra LUX, inclusive pode ser interpretada como a luz que emana da cruz de Cristo, pois a grafia latina da palavra é LVX, e todas as letras são partes da cruz.

Um antigo cerimonial iniciático relaciona a grafia da palavra LUX a verbalização das seguintes frases, seguidos de posturas específicas:

L é o sinal do luto de Isis. O adepto aqui reconhece o pesar de Isis pela morte de Osiris por Apophis.

V é o sinal de Apophis e Typhon. Osiris foi assassinado e teve o seu corpo despedaçado por seu irmão Apophis.

X é o sinal de Osiris morto.

Por fim o adepto acrescenta: “E renascido. Isis, Apophis Osiris. IAO”.

Os Rosacruzes clássicos apresentam uma fórmula semelhante no Fama Fraternitatis: “Ex Deo Nascimur. In Jesus Morimur. Per Spiritus Sanctus reviviscimus” – De Deus Nascemos. Em Cristo Morremos. Revivemos pelo Espírito Santo.

A palavra LVX possui ainda um equivalente numerológico romano ao número 65 (L+V+X). Este número então pode ser relacionado simbolicamente a luz ou iluminação. Ocorre que na interpretação cabalística, o iniciado deverá procurar unir-se ao Eu Superior, simbolizado aqui pela palavra hebraica Adonai (אדני). Esta última pode ser traduzida por “Meu Senhor”. Uma interpretação gemátrica – ou do simbolismo numerológico presente nas palavras hebraicas – indicam que suas letras possuem a seguinte correspondência:

Aleph א – 1.

Daleth ד – 4.

Nun נ – 50.

Yodי  – 10.

Totalizando 65.

Podemos então identificar uma relação entre LVX e Adonai.

Para o estudante Maçon, que aspira o Mestrado e as trilhas nos graus superiores que seguirão, a compreensão de INRI como um emblema simbólico é uma referência decisiva para o entendimento de que o caminho iniciático leva a um re-ligare ao Eu Superior, a um estado edênico, porém que agora é sublimado e aperfeiçoado pela experiência do renovatur integra proporcionado pelo processo de desapego material.

⸫ ⸫ ⸫