O NÚMERO 5

by Immanuel

Em suas origens, muitas das tradições iniciáticas, sejam elas esotéricas ou filosóficas tomam por base o conceito abstrato de número como modelos ideias – no dizer de Platão – da criação do Universo e dos seres que nele habitam. O conceito de idolatria surgiu muito tempo depois, com a degeneração das concepções religiosas. Em essência o filosofo maçom tende a reverenciar as ideias criadoras presentes no templo, deixando de lado os conceitos envolvendo toda espécie de idolatria.

Para desenvolvermos um referencial acerca do curso da manifestação do universo, podemos seguir a mesma sequência dos números inteiros, desde o zero até o cinco, que é o foco desta instrução. Em muitas tradições a criação do universo está relacionada ao conceito de zero, ou absoluto, ou existência negativa. Esta existência é chamada de negativa não em sentido pejorativo, mas para expressar algo diferente e oposto a nossa concepção positiva da realidade que nos se apresenta. Segue-se então uma escala numérica de emanações, desde o 0 até o 10, sendo este último numeral o símbolo de um tipo de retorno a esta misteriosa e inconcebível existência primordial.

O zero representa o absoluto sem dimensões, de onde tudo veio e para onde tudo retornará. Simboliza o ovo do mundo, o Ain Soph Aur cabalístico. Blavatsky escreve que é “a primeira diferenciação nas manifestações periódicas da Natureza eterna, sem sexo e infinita, ou o Espaço Potencial no Espaço Abstrato” (BLAVATSKY, SD, 4)

A emanação se inicia quando a divindade se vislumbra na eternidade, quando ocorre um tipo de descontinuidade na uniformidade da eternidade, e vem à tona o desejo de existir. Este “é o símbolo da Mãe-Natureza, divina e imaculada, no Infinito absoluto, que abrange todas as coisas” (BLAVATSKY, SD, 5). A unidade é a harmonia entre o pensamento consciente e o inconsciente, onde pode haver um equilíbrio entre os opostos, do racional com o irracional, e de tudo o que é concreto com o mundo das formas abstratas.

Pitagoras associava o conceito do dois ou dualidade a música contínua das esferas. Quando a pausa ocorre a música continua é interrompida e a manifestação acontece. É o nascimento da natureza, princípio feminino receptáculo de toda vida. Aqui surge a multiplicação e a síntese das formas. A dualidade arquetípica reúne toda a criação, mas também é o símbolo do conflito, pois é a marca de todas as ambivalências.

O número três representa a trindade do ser vivo e o próprio intelecto da divindade. Assim como o dois é o número da terra o três é o do céu, representando ainda a perfeição, nada podendo a ele ser acrescentado. Para os cristãos, Deus é um em três pessoas, para os budistas a expressão da perfeição se dá na Joia Tripla – Buda, Darma, Sanga – , no hinduísmo a manifestação divina é tripla – Brama, Vishnu e Shiva – , os reis magos são três, que simbolizam as três funções do rei do mundo – rei, sacerdote e profeta – , personificada na pessoa do Cristo. Assim o universo é estruturado espiritualmente em três formas ou logos.

O número quatro é associado a cruz do mundo e ao quadrado,  à matéria sólida e tangível. Também podemos associá-lo ao mundo, representado pelo cruzamento das linhas paralelas e meridianas, indicando a totalidade da criação e do que foi revelado por Deus aos homens. São então quatro os pontos cardeais, os pilares do Universo, as fases da lua, as estações, os elementos, rios do Paraíso, as letras do nome de Deus – YHVH, sintetizando a mesma totalidade dos elementos, associando o Y ao homem, H ao Leão, V, ao touro e H à águia – e do primeiro homem – Adão. Para os pitagóricos representa a tétrada e a década (pela adição dos quatro primeiros números), representando a chave de um simbolismo numérico capaz de ordenar o mundo. Entre os dervixes e sufis, o adepto deveria transpor quatro portas em sua via iniciática para vencer os sentidos, estando cada porta associada a um dos elementos. O quatro surge então como um receptáculo de potencialidades, aguardando a manifestação do cinco, a evolução para uma outra forma de percepção da realidade.

 A meio termo do caminho se encontra o número cinco. Ele também é constituído da soma de 2 e 3. Para os Pitagóricos ele é símbolo de união, de harmonia e equilíbrio. Simboliza o casamento do princípio celeste (3) com o princípio terrestre (2). Ele também simboliza o homem – que é representado disposto de braços abertos em cruz – bem como representa o universo manifestado, pois se compõe do vertical (3) e do horizontal (2). Também é o símbolo da perfeição e da ordem divina. Representa ainda os cinco sentidos ou manifestações sensíveis da matéria.

Os Pitagóricos também ensinam que a harmonia pentagonal está presente em todas as formas perfeitas, pois representa a quintessência ou o éter, que transcende os quatro elementos materiais. O cinco é então a representação de cada um dos microcosmos que compõem o grande macrocosmo universal.

Por outro lado, sendo representado como um número dual, já que é formado pela combinação de dois números, terra e céu, também exprime um estado de imperfeição, de ordem e desordem, de vida e morte, positivo e negativo. Este binário agindo dentro do ternário é visto como um mau princípio na Maçonaria.

Para os gregos antigos o cinco representa a totalidade, já que nele se reúnem os quatro elementos – terra, água, ar e fogo – e mais o éter ou quintessência. Daí que Penta em grego se traduz como cinco, e Pan como Tudo.

No Sepher Yetzirah o cinco se relaciona ao quinto caminho, o da inteligência fundamental ou primordial. Também na mesma tradição judaica, o cinco se refere ao nome sagrado de Deus, aos espíritos ou inteligências superiores, a algumas classes de anjos e aos espíritos planetários.

Ainda acerca da cruz, cada um de seus braços corresponde a um dos elementos, e o centro à quintessência ou éter, que representa o um o princípio da vida ou o próprio espírito, O simbolismo da cruz, neste sentido, indica que o espírito ou Christos deverá morrer na cruz, isto é domando os elementos na cruz, tonando-se o homem que ascende aos céus. O homem elevado e vivendo como espírito é representado pela estrela flamígera de cinco pontas. A estrela é o homem que seguiu a planos superiores e espirituais de existência, porém que ainda vive na matéria, pois os elementos ainda se encontram presentes. Caso seja invertido, o pentagrama se torna símbolo do homem em desequilíbrio e desarmonia. Podemos referir os dois pentagramas – o direito, e o de ponta cabeça – respectivamente ao Adão Kadmon e ao Adão Belial, conceitos derivados da tradição cabalística. O primeiro se refere ao homem primordial, antes da queda, e o segundo à inteligência dominada pela matéria, que deverá galgar forças para regenerar-se e exercer o domínio sobre a matéria.

Podemos relacionar o éter a energia do vácuo ou energia quântica, conforme definida pela física moderna. O vácuo quântico é um repositório de energia que permeia o espaço-tempo, podendo em essência ser o constituinte de onde surgiram as partículas elementares. O nosso universo é quadrimensional, segundo a relatividade de Einstein, haja vista que possuímos a percepção de três dimensões no espaço e mais uma no tempo. Alguns estudos recentes sugerem que existem infinitas dimensões contidas na estrutura do espaço-tempo, mas que não podemos perceber devido a singularidade de nossa relação com a realidade que vivenciamos quotidianamente. Outros estudos sugerem que a mecânica cerebral dos seres vivos – incluindo a nosso – indicam a existência de outras dimensões em sua estrutura, que seriam necessárias para justificar a presença do pensamento. Assim sendo, podemos elaborar o conceito hipotético de que o pensamento é fruto de uma presença dimensional superior, um tipo de “quinta dimensão” ou quintessência, se assim podemos nos referir.

Talvez seja este o motivo por que o pentagrama apontando para cima remete para algo que esta além das dimensões materiais físicas.

A título de referência simbólica, a maçã – símbolo do conhecimento do bem e do mal no estado edênico – possui em seu metacarpo cinco sementes dispostas em pentagrama. No livro do Gênese este é o fruto proibido porque o cinco refere-se ao conhecimento do quaternário, o saber material que afasta o homem do éden, e o leva ao conhecimento da vida e do sofrimento. Aqui o cinco se refere ao conhecimento e a inteligência, relacionando-se a serpente que cerca os conceitos da natureza, para desvendá-los.

Para a tradição Teosófica recente o cinco se relaciona ao corpo mental puro, no qual reside as aspirações espirituais e virtuosas do ser humano. O corpo mental puro – ou Budhi – é o ponto de contato mais próximo que temos do mundo espiritual, e, quando fortalecido por hábitos virtuosos, é capaz de nos levar ao pensamento intuitivo, verdadeira linguagem do espírito. Devido a esta capacidade de reduzir a ação do quaternário o quinto elemento vem romper a carapaça envolvente dos veículos materiais, e nos leva ao renascimento alquímico. Este talvez seja o principal significado do número cinco, dentre os muitos que listamos.

Para o peregrino Maçom, o número cinco se constitui em um importante símbolo de reflexão, que poderá leva-lo a conceitos profundos acerca do caminho iniciático presente nas tradições esotéricas ocidentais, das quais a Maçonaria é uma importante representação.