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AS VIAGENS INICIÁTICAS DO COMPANHEIRO MAÇOM

Os princípios herméticos basilares indicam que tudo no Universo está em constante movimento, dirigindo-se desde estados menos ordenados rumo a vibrações mais sublimes e mais bem organizadas.

Nesse contexto, e partindo da premissa hermética de que todos os seres são organizados de maneira plural, sendo constituídos de veículos ou princípios harmonicamente integrados, o motivo da evolução de todos os seres é a melhora de sua organização interna, passando pela devida atenção aos princípios mais densos que os compõem até os veículos mais sutis de manifestação. A raiz de todo conhecimento iniciático reside na mitologia que permeia a todas as culturas humanas. Tais mitos refletem o devido trabalho sob a psique que o neófito deve trabalhar em sua trajetória no caminho iniciático. Assim, ritos e mitos se mesclam enquanto são vivenciados no âmbito do contexto mental de cada neófito, haja vista que a realidade última do universo – o verdadeiro teatro filosófico onde se aperfeiçoa o homem – se dá justamente no tecido mental.

Todo mito remete a uma jornada onde heroicos furores são vivenciados e a sua repetição imaginativa, durante uma cerimônia iniciática, despertam na mente do neófito uma mensagem sutil e intuitiva que fala diretamente à linguagem do espírito. Tal vivência cerimonial realiza uma conexão com estruturas arquetípicas e ideais que estão presentes no tecido astral da humanidade desde tempos primordiais. A elevação da consciência do neófito até estas esferas superiores de pensamento o aproxima da realidade última, que é o estado natural de graça dos espíritos que contemplam a divindade. Inúmeras culturas nos apresentam ciclos heroicos em que o neófito deverá cumprir tarefas em uma jornada por terras distantes, resgatando artefatos místicos, enfrentando feras, salvando donzelas indefesas, sendo que tudo no fundo se remete a um trabalho de autoaperfeiçoamento e consequente reencontro com a divindade superior que a todos habita.

No decurso do Cerimonial de Elevação do Aprendiz a Companheiro, o neófito vivencia este ciclo heroico ao realizar cinco viagens iniciáticas, as quais resgatam este sentido de ciclo dinâmico ao qual o universo está submisso. Lembra ao Aprendiz que absolutamente tudo está em movimento. Até mesmo as inertes pedras obedecem ao fluxo telúrico dos veículos densos que animam os corpos físicos. Diz que não existe a morte pois tudo está em movimento, e quando cessa o físico, o mental e o espiritual continuam a marcha da existência.

As viagens tomam o rumo do oriente, onde reside o verbo criador inesgotável, o primeiro logos ou vontade criativa de todas as coisas, representado pelo Sol Espiritual, o GADU que permeia o trono do Venerável Mestre, e de onde emana a Luz Infinita. Durante as viagens o neófito encontra cinco colunas, que representam o caminho ascendente até o Sol central e espiritual. São as espinhas dorsais do universo, que convidam o neófito a olhar para o alto, para seus capiteis, simbolizando tal ato a vontade de elevar sua consciência até esferas superiores.

Na primeira viagem o neófito faz uso do maço e do cinzel como instrumentos de trabalho, e utiliza a determinação e agudez intelectual para avançar no caminho até contemplar a coluna que representa a Ordem Coríntia de Arquitetura que é “a terceira e a mais rica das ordens, ornada de folhas de acanto, simbolizando a Beleza”. Neste primeiro ciclo o neófito deverá aperfeiçoar o discernimento, refinando o uso da vontade e da inteligência para aperfeiçoar as suas faculdades intelectuais e morais.

Na segunda viagem o neófito faz uso do compasso e da régua de 24 polegadas. No compasso se encontram as duas hastes da dualidade no ponto de equilíbrio, e ele também é símbolo da manifestação do universo, o qual emana de um ponto central, pois é utilizado para construção geométrica circular. Nesse sentido, o compasso remete a justiça e ao equilíbrio. A régua de 24 polegadas lembra ao Maçom que deve cultivar a perseverança e a constância nas vinte e quatro horas do dia, além de ser um símbolo de equidade, lembrando que tudo deve ser dado na medida certa. Neste segundo ciclo o neófito deverá aperfeiçoar o intelecto e a sensibilidade, observando a educação interna com o estudo da ética e prática da moral. Nesta viagem o neófito será convidado a contemplar a coluna que representa a Ordem Dórica de Arquitetura que é “caracterizada pela sobriedade, sendo a mais antiga das ordens gregas, derivando a sua ideia do antigo Egito, simbolizando a Força”.

Na terceira viagem o neófito faz uso da alavanca e da régua de 24 polegadas, cumprindo mais um ciclo de aprendizado e chegando até o lugar de contemplação da coluna que representa a Ordem Jônica de Arquitetura, a qual é “caracterizada sobretudo por um capitel ornado por duas volutas laterais, tendo origem Assíria e simbolizando a Sabedoria”. A alavanca é o instrumento que, ao ser apoiado no ponto correto, pode erguer pesados fardos com eficácia, remetendo ao cultivo de uma inquebrantável força moral, permeada pela inteligência e pela bondade, e regulada pela equidade, que por sua vez é virtude simbolizada pela régua. Aqui se adquire a capacidade de aperfeiçoar a responsabilidade moral sobre os Irmãos Aprendizes, ajudando os Mestres na consecução da Obra do Templo.

Na quarta viagem o neófito faz uso do esquadro e da régua de 24 polegadas viajando até contemplar a coluna que representa a Ordem Compósita de Arquitetura que contêm elementos das ordens Jônica e Coríntia, representando a Harmonia das formas celestiais a serem contempladas. Neste quarto ciclo de aprendizado o esquadro lembra ao neófito que deverá cultivar a retidão moral em todos os seus atos, pois a construção do Templo Interno deverá ser realizada com a exatidão devida, tendo o construtor de colocar cada pedra ou virtude interna em seu devido lugar. Também lembra ao Maçom que a sua conduta moral na sociedade deverá ser exemplar, observando a devida equidade em todas as suas ações. Como símbolo da retidão no mundo manifestado, o esquadro substitui o quadrado neste simbolismo. Daí que o símbolo máximo da Maçonaria se constitui do compasso (expressão do mundo ideal ou divino) com o esquadro (manifestação da esquadria ou do mundo manifestado) estando o Maçom entre o Compasso e o Esquadro, como o homem peregrino que ruma desde a Terra ao Céu. Ao se tornar um centro entre Céu e Terra é dever do Maçom estar disponível aos demais Irmãos para auxiliá-los em suas jornadas de construção interna.

A quinta viagem será realizada com o neófito desprovido de ferramentas, e será levado até a coluna que representa a Ordem Toscana de Arquitetura a qual “possui origem Romana sendo a mais simples das cinco ordens apresentadas”. Esta coluna inspira o trabalho espiritual a ser cultivado para a ascensão aos planos superiores de pensamento. A capacidade intuitiva deverá ser aperfeiçoada neste último ciclo de aprendizado, a fim de preparar o neófito para o vislumbre da Luz do Mestrado Maçônico. Aqui deverá o neófito conduzir os seus passos para o cultivo da verdade e da santidade, esforçando-se para afastar-se do vício e da violência.

O caminho quíntuplo seguido pelo neófito durante sua jornada iniciática o leva ao encontro de cinco colunas representativas de virtudes a serem absorvidas e cultivadas durante os seus cinco anos simbólicos sob o salário de Companheiro Maçom. O cultivo da Beleza, Força, Sabedoria e Harmonia, conectam o neófito à Divindade interior.

Findo este ciclo representativo da jornada iniciática do neófito, ele agora retorna vitorioso ficando entre colunas para contemplar os demais mistérios iniciáticos que lhe serão agora desvelados.

O RETÁBULO E O DOSSEL

Nas oficinas Maçônicas, existe sobre o trono do Venerável e demais presidenciáveis, uma estrutura quadrangular, adornada com seda e franjas. A essa estrutura denomina-se Dossel.

O Dossel pode ser adornado por diversas cores, e por elementos simbólicos relacionados ao caráter da oficina e ao Rito praticado em Loja. Significa ali a unidade de intenções da Loja, pairando sobre o Venerável Mestre, representante ali presente, que deverá conduzir a sessão conforme ali indicado.

No dossel do Rito Adonhiramita prevalecem as cores azul e amarelo, sem adornos. O azul expressa os pensamentos espiritualizados e elevados. É a cor da verdade, da lealdade, da serenidade e da infinitude, pois São João o relaciona ao grande abismo. O amarelo está relacionado ao Sol e ao ouro, ou a Luz e a Sabedoria divinas. Nas virtudes teologais esta cor simboliza a fé e nas mundanas a generosidade do coração. Para a tradição oriental é a cor relacionada a intuição ou Budhi. Segundo algumas tradições, o amarelo é a junção do branco – símbolo da Sabedoria – com o vermelho – símbolo do Amor. Os egípcios representavam suas divindades sobre um disco dourado, tradição que foi adotada pelos cristãos ao representarem seus santos com um círculo dourado na cabeça – tratava-se de um tipo de representação da iluminação imortal.

Para a Maçonaria, o amarelo ouro exprime a magnificência e a sabedoria, sendo o amarelo pálido símbolo da traição e do vício. Já o azul extremamente desbotado representa a ausência do que é divino e sublime. Portanto, é importante observar a vivacidade das cores presentes no Dossel.

Já o que chamamos de Retábulo – do espanhol retablo – é a estrutura, ou painel, que se encontra abaixo do Dossel e atrás do trono do Venerável Mestre. Nesse painel vemos a Lua e o Sol, respectivamente à direita e esquerda do trono, estando o Delta Luminoso ao centro.

Albert Mackey escreve que “a adoção da Lua no Sistema Maçônico e por anologia, mas pode ser apenas por derivar este símbolo das antigas religiões. No Egito, Osíris era o Sol e Ísis a Lua; na Síria, Adonis era o Sol e Astarot a Lua; os gregos a adoravam como Diana e Hecate; nos mistérios de Céres, enquanto o hierofante ou sumo sacerdote representava o Criador; e o portador de archote o Sol, o epibómios, ou o oficial mais próximo do altar, representando a Lua. Em suma, o culto da Lua era bastante difundido, tanto quanto o do Sol. Os Maçons mantêm a sua imagem em seus Ritos, porque a Loja é uma representação do Universo, onde, como o Sol governa durante o dia, a Lua preside durante a noite; como um regula o ano, assim faz o outro com os meses, e como o primeiro é o rei do exército estelar, esta última é a rainha; ambos, porém, recebem o calor, a luz e a potência Dele que, como a terceira maior luz, o Senhor do céu e da Terra, controla a ambos”.

Está divindade máxima que, no dizer de Mackey, fornece calor, luz e potência ao Sol e a Lua é representado pelo Delta Luminoso, que está ao centro do Retábulo. Este consiste em um triângulo equilátero – símbolo da perfeição, da harmonia e da sabedoria, dentre muitos outros simbolismos – estando em seu centro o olho da inteligência ou da consciência desperta. Do centro do olho seguem raios luminosos, simulando uma irradiação, símbolo da emanação divina que a tudo forma.

Outro elemento presente no Retábulo são as nuvens que a tudo permeiam. Nuvens são resultado da condensação de partículas de água, e estruturas indefinidas. Em nosso contexto elas são a reunião das emanações divinas ainda em estado primordial e incognoscível. Saint Martin escreve que as nuvens “escondem o brilho da luz que às vezes abrem sulcos nas trevas humanas, porque nossos sentidos não poderiam suportar o esplendor.”

Por fim temos no Retábulo a representação do aglomerado estelar das Plêiades. Para os antigos, esse pequeno aglomerado era o centro solar da galáxia, mas aqui se relacionam aos Maçons, pois a palavra possui significado etimológico à reunião de sete pessoas ilustres ou sete Mestres Maçons.