Arte Real

Sic Transit Gloria Mundi

Category: Maçonaria

O SONHO VERDE

Verídico e verdadeiro porque contém Verdade.
Bernardo Trevisano

Neste Sonho, tudo parece sublime; o sentido aparente não é indigno daquele que nos oculta; a Verdade brilha nele com tanto esplendor que não é difícil descobri-la através do véu que se pretendeu usar para disfarçá-la.

Estava profundamente adormecido quando me pareceu ver uma Estátua, com aproximadamente quinze pés de altura, representando um venerável Ancião, belo e perfeitamente proporcionado em todas as partes de seu Corpo. Seus cabelos, longos e ondulados, eram de Prata; seus olhos, de finas Turquesas, em cujo centro estavam engastados rubis cujo brilho era tão intenso que eu não conseguia sustentar a luz de seu olhar. Seus lábios eram de Ouro, seus dentes de Pérolas Orientais, e todo o resto do Corpo era feito de um Rubi muito brilhante. Tocava com o pé esquerdo um Globo terrestre que parecia sustentá-lo. Mantendo o braço direito levantado e estendido, parecia sustentar, com a ponta do dedo, um Globo celeste acima de sua cabeça, enquanto na mão esquerda segurava uma Chave feita de um grande diamante bruto.

Aproximando-se de mim, este homem disse: “Sou o Gênio dos Sábios, não temas e segue-me.”
Segurando-me pelos cabelos com a mão que segurava a Chave, ergueu-me e me fez atravessar as três Regiões do Ar, a do Fogo e os céus de todos os Planetas. Conduziu-me ainda além; depois, envolvendo-me em um redemoinho, desapareceu, e me encontrei em uma Ilha que flutuava sobre um Mar de Sangue.

Surpreso por estar em um lugar tão remoto, caminhei pela Orla; observando com grande atenção aquele Mar, percebi que o Sangue que o compunha estava vivo e quente. Notei também que um vento muito suave, que o agitava incessantemente, mantinha seu calor e provocava nesse Mar uma efervescência que causava um movimento quase imperceptível em toda a Ilha.

Tomado de admiração diante de coisas tão extraordinárias, refletia sobre tantas maravilhas quando vi várias pessoas ao meu lado. A princípio, imaginei que poderiam querer me maltratar e me escondi sob uma moita de Jasmins. Porém, adormecido pelo aroma, fui encontrado e capturado.

O mais alto do grupo, que parecia liderar os outros, perguntou-me, com um gesto altivo, quem me havia tornado tão ousado a ponto de vir dos Países Baixos até aquele tão elevado Império. Expliquei-lhe como fui transportado até ali. Mudando imediatamente o tom de voz, os gestos e modos, disse-me: “Sê bem-vindo, tu que foste conduzido até aqui por nosso altíssimo e poderosíssimo Gênio!”

Em seguida, saudou-me, e todos os demais também, segundo o costume de seu País, que consistia em deitar-se de costas, virar-se e levantar-se. Retribuí a saudação segundo o costume do meu País. Ele prometeu apresentar-me ao Hagacestaur, que é seu Imperador. Pediu-me desculpas por não ter nenhum transporte para me levar à Cidade, que estava a uma légua de distância.

No caminho, falou apenas sobre o poder e as grandezas de seu Hagacestaur, dizendo que este possuía sete Reinos, tendo escolhido o que ficava no centro dos outros seis para fazer dele sua residência habitual.

Observando que eu tinha dificuldade em caminhar sobre Lírios, Rosas, Jasmins, Cravos, Narcisos e sobre uma quantidade prodigiosa das Flores mais belas e raras que cresciam até mesmo nos caminhos, ele me perguntou, sorrindo, se eu temia danificar aquelas Plantas. Respondi que sabia bem que não possuíam alma sensitiva, mas que, por serem escassas em meu País, eu me retraía de pisoteá-las.

Ao não descobrir em toda a Campina nada além de Flores e Frutos, perguntei onde plantavam o Trigo. Respondeu que não o plantavam, mas, como havia muito em terras estéreis, o Hagacestaur ordenava que grande parte fosse enviada aos nossos Países Baixos para agradar-nos, enquanto as Bestas comiam o restante. Para eles, faziam o Pão com as Flores mais belas, amassando-o com o Orvalho e assando-o ao Sol.

Ao ver por toda parte uma quantidade tão prodigiosa de Frutos belíssimos, desejei colher algumas Peras para provar, mas ele quis impedir-me, dizendo que apenas as Bestas as comiam. No entanto, achei-as saborosíssimas. Apresentou-me Melões, Pêssegos e Figos, e não se conheciam Frutos de sabor tão bom nem na Provença, nem em toda a Itália, nem na Grécia. Jurou pelo Hagacestaur que esses Frutos produziam-se espontaneamente e que não eram cultivados de forma alguma, garantindo-me que não comiam nada além disso com o Pão.

Perguntei como podiam conservar essas Flores e Frutos durante o Inverno. Respondeu-me que não conheciam Inverno algum; seus Anos tinham apenas três Estações: a Primavera, o Verão e uma terceira formada pela fusão das duas primeiras, chamada Outono, que encerrava no Corpo dos Frutos o Espírito da Primavera e a Alma do Verão. Era nessa Estação que se colhiam as Uvas e as Romãs, os melhores frutos do País.

Ele ficou muito surpreso quando expliquei que em meu país comíamos carne de boi, cordeiro, caça, peixe e outros animais. Disse-me que devíamos ter uma compreensão muito limitada para utilizarmos alimentos tão materiais. Não me cansava de ouvir tais coisas belas e curiosas, prestando grande atenção ao que dizia. Contudo, ao pedir que eu considerasse o aspecto da Cidade, que estava a apenas duzentos passos de distância, levantei os olhos para vê-la, mas não enxerguei nada e fiquei cego, o que fez meu Condutor e seus Companheiros rirem às gargalhadas.

O desgosto de ver aqueles Senhores se divertirem com meu infortúnio me entristeceu ainda mais que minha desgraça. Percebendo que sua atitude me incomodava, aquele que havia conversado comigo o tempo todo consolou-me, dizendo para não me impacientar, pois minha visão se recuperaria em breve. Ele então buscou uma Erva, com a qual esfregou meus olhos, e, naquele instante, voltei a enxergar. Pude ver o esplendor daquela magnífica Cidade, cujas Casas eram feitas de um Cristal puríssimo, continuamente iluminado pelo Sol, já que naquela Ilha nunca era noite.

Não me permitiram entrar em nenhuma dessas Casas, mas pude ver o que acontecia através de suas paredes transparentes. Observei a primeira Casa; todas eram construídas a partir de um mesmo modelo. Notei que seu interior consistia apenas de um pavimento com três Apartamentos, cada um contendo várias Salas e Gabinetes.

No primeiro Apartamento havia uma Sala decorada com tapeçarias de Damasco, adornadas com galões de Ouro e bordados com franjas idênticas. O fundo dessa tapeçaria mudava de vermelho para verde, realçado com Prata muito fina. Tudo estava coberto por um véu de gaze branca. Em seguida, havia alguns Gabinetes contendo joias de diferentes cores. Depois, aparecia uma Sala completamente mobiliada com um belíssimo Veludo negro, ornado com várias faixas de cetim preto brilhante, e tudo era embelezado com detalhes em Jades cuja escuridão brilhava intensamente.

No segundo Apartamento, havia uma Sala forrada de Moiré branco ondulado, enriquecido com um bordado de Pérolas Orientais muito finas. Depois, via-se vários Gabinetes decorados com móveis de cores variadas: cetim azul, damasco violeta, moiré amarelo-claro e tafetá vermelho-carmim.

No terceiro Apartamento, havia uma Sala adornada com um tecido muito brilhante, Púrpura sobre fundo de Ouro, mais belo e rico, sem dúvida, do que todos os outros tecidos que havia acabado de ver.

Perguntei quem era o Dono e a Dona daquela Casa. Responderam-me que estavam escondidos no fundo dessa Sala e que tinham que passar para outra ainda mais afastada, separada apenas por alguns Gabinetes que as conectavam. Os móveis desses Gabinetes eram de cores muito variadas: alguns feitos de um tabim isabelino, outros de moiré amarelo-claro, e outros de brocado de Ouro puríssimo e fino.

Não pude ver o quarto Apartamento, pois ainda não estava terminado. No entanto, disseram-me que ele consistia apenas de uma Sala, cujos móveis eram tecidos feitos dos raios mais depurados do Sol, concentrados sobre aquele tecido de Púrpura que eu havia contemplado.

Depois de observar essas curiosidades, mostraram-me como eram realizados os Casamentos entre os Habitantes daquela Ilha. O Hagacestaur, possuindo conhecimento perfeito dos humores e temperamentos de todos os seus súditos, desde o maior até o menor, reunia os parentes mais próximos e unia uma Jovem pura e límpida a um Ancião bondoso, saudável e vigoroso. Quanto mais purificada e purgada a Jovem, mais o Ancião era lavado e limpo. Ele oferecia sua mão à Jovem, que aceitava, e ambos eram conduzidos a uma dessas Casas.

A porta era então fechada com os mesmos materiais que compunham a Casa, e eles deviam permanecer juntos ali por nove meses completos. Durante esse tempo, confeccionavam todos os belos Móveis que me haviam mostrado. Ao fim desse período, saíam unidos em um só Corpo; possuindo apenas uma única Alma, tornavam-se um só ser, cujo poder era enorme sobre a Terra. Então, o Hagacestaur utilizava-os para converter todos os Malvados que habitavam seus sete Reinos.

Prometeram-me que eu entraria no Palácio do Hagacestaur e que me mostrariam seus Apartamentos, especialmente um Salão onde se encontravam quatro Estátuas tão antigas quanto o Mundo. A estátua central era o poderoso Seganisegede, que me havia transportado àquela Ilha. As outras três, que formavam um triângulo ao redor desta, eram de três Mulheres: Ellugate, Linemalore e Tripsarecopsem.

Prometeram também mostrar-me o templo onde estava a Figura de sua Divindade, chamada Elesel Vasergusine. Contudo, ao começarem a cantar os Galos, conduzindo os Pastores seus Rebanhos aos campos e os Lavradores aparelhando suas carroças, fizeram tanto barulho que me despertaram, dissipando completamente meu Sonho.

Tudo o que eu havia visto não era nada comparado ao que haviam prometido mostrar-me. No entanto, não me custa consolar-me ao refletir sobre o Império Celeste, onde o Todo-Poderoso está sentado em Seu Trono, rodeado de glória e acompanhado por Anjos, Arcanjos, Querubins, Serafins, Tronos e Dominações. É lá que veremos o que os olhos nunca viram e ouviremos o que os ouvidos nunca escutaram, pois é neste Lugar que experimentaremos uma felicidade eterna, prometida por Deus a todos os que se esforçarem para ser dignos dela, já que todos fomos criados para participar dessa glória.

Esforcemo-nos, pois, para merecê-la. Louvado seja Deus.

FIM

 

O Pássaro de Hermes

Problemas das antigas semelhanças e figuras,
Que se provaram frutíferas em ensinamentos,
E têm autoridade fundamentada na Escritura,
Por meio de aparências notáveis e significativas;
Cujas moralidades concluem com prudência:
Assim como a Bíblia menciona por escrito,
Como as Árvores, certa vez, escolheram um Rei.

2.

Primeiro, em sua escolha, nomearam a Oliveira
Para reinar entre elas, conforme diz o Juízo;
Mas ela mesma prontamente se recusou,
Pois não poderia abandonar sua fartura;
Nem a Figueira poderia deixar sua doce ternura;
Nem a Videira, com seu suco saudável e fresco,
Que traz conforto a todas as idades.

3.

E semelhantemente, os Poetas laureados,
Com parábolas obscuras, porém apropriadas,
Fingiram que Pássaros e Bestas de alto status,
Como as águias reais e os leões, por consentimento,
Enviaram proclamações para convocar um Parlamento,
E estabeleceram decretos, brevemente para dizer,
Alguns para governar e outros para obedecer.

4.

As águias nos céus têm o voo mais elevado,
O poder dos leões se vê sobre a terra;
O Cedro, entre as árvores, é o mais alto à vista,
E o Loureiro, por natureza, é sempre verde,
Entre as flores, Flora é a deusa e rainha:
Assim, em todas as coisas, há diversidades,
Alguns de alta posição e outros de graus inferiores.

5.

Os poetas escrevem maravilhosas semelhanças,
E mantêm-se em segredo de forma bem velada;
Tomam as Bestas e as Aves como testemunhas,
Das quais surgiram as fábulas em seus primórdios,
E aqui me dirijo ao meu propósito,
Tirando do Francês um conto traduzido,
Que em um panfleto li e vi enquanto estava sentado.

6.

Este conto que menciono,
Relata claramente e de maneira simples
Três provérbios pagos como resgate
De um belo pássaro que foi pego em uma armadilha,
Ansioso para escapar de sua angústia:
Seguindo o processo do meu autor,
Relatarei, então, como ocorreu em ordem.

7.

Outrora havia, em uma pequena vila,
Como menciona meu autor,
Um camponês que tinha desejo e grande empenho,
Dentro de si, com seu trabalho diligente,
De organizar seu jardim com notável ornamento,
De comprimento e largura, quadrado e longo,
Cercado e protegido, para torná-lo seguro e forte.

8.

Todos os caminhos foram feitos lisos com areia,
Bancos cobertos com novos tufos verdes,
Ervas plantadas com pequenas fontes ao fim,
Que jorravam contra os raios do Sol,
Como córregos prateados tão cristalinos e limpos:
As águas borbulhantes subiam fervilhando,
Redondas como berilos, irradiando reflexos.

9.

No meio do jardim havia um loureiro fresco,
Sobre ele, um pássaro cantava dia e noite;
Com penas brilhantes mais reluzentes que o ouro,
Cujo canto alegrava os corações mais pesados;
Era uma visão celestial de se contemplar:
Ao cair da tarde e no amanhecer,
Ela se empenhava, alegremente, para cantar.

10.

O crepúsculo reforçava sua disposição,
Ao anoitecer, quando Febo ia descansar;
Entre os galhos, em sua vantagem,
Cantava sua canção da noite como convinha,
E, ao amanhecer, dedicava-se à rainha Alceste,
Cantando novamente, como era seu dever,
Logo cedo na manhã, para saudar o dia.

11.

Era uma melodia verdadeiramente celestial,
À noite e ao amanhecer, o canto do pássaro;
E a doce harmonia açucarada,
Com trinados e variações desconhecidas,
Fazia o jardim todo ecoar com o som:
Até que certa manhã, quando Titã brilhou claramente,
O pássaro foi preso e capturado em uma armadilha.

12.

O camponês ficou feliz por ter pego o pássaro,
De rosto alegre e expressão feliz:
Rapidamente decidiu construir
Uma pequena gaiola dentro de sua casa,
Para alegrar-se com o canto do pássaro.
No entanto, por fim, o pássaro triste acordou
E, serenamente, disse ao camponês:

13.

“Agora estou capturado e estou em perigo,
Segurada com firmeza, sem poder voar;
Adeus ao meu canto e às minhas notas claras,
Pois perdi minha liberdade,
Agora estou em cativeiro, quando antes era livre:
E saiba bem que estou angustiada,
Não consigo mais cantar ou me alegrar.”

14.

“Mesmo que minha gaiola fosse feita de ouro
E os pináculos fossem de berilo e cristal,
Lembro-me de um provérbio já dito:
Quem perde a liberdade, na verdade, está em cativeiro.
Preferiria, em um pequeno galho,
Cantar alegremente entre os bosques verdes,
Do que estar em uma gaiola de ouro brilhante e fechada.”

15.

“Canto e prisão não têm harmonia,
Pensas que vou cantar no cativeiro?
O canto procede da alegria e do prazer;
E a prisão causa morte e destruição,
O tilintar das correntes não soa com melodia.
Ou como poderia alguém estar feliz e contente,
Contra sua vontade, preso em correntes?”

16.

“De que vale a um leão ser rei das bestas,
Se está preso sozinho em uma torre de pedra?
Ou a uma águia, sob correntes rígidas,
Ser chamada de rei de todas as aves?
Maldita seja a soberania, se a liberdade está perdida:
Responda-me, então, sem hesitar,
Quem canta feliz sem cantar com o coração?”

17.

“Se queres alegrar-te com meu canto,
Deixa-me voar livre, sem perigo,
E todos os dias, pela manhã,
Voltarei a cantar no teu loureiro,
Com notas frescas e claras;
Sob tua janela ou diante do teu salão,
Sempre que quiseres me chamar.”

18.

“Ser aprisionada e oprimida pelo medo
De maneira alguma condiz com minha natureza;
Mesmo que me alimentasses com leite e pão branco,
E coalhada doce fosse meu pasto,
Eu preferiria me ocupar diligente,
Logo cedo pela manhã, arranhando no vale,
Para encontrar meu alimento entre pequenos vermes.”

19.

“O lavrador está mais feliz em seu arado,
Logo cedo pela manhã, ao alimentar-se de bacon,
Do que alguns que têm tesouros abundantes
E carecem de liberdade junto às suas posses.
Ser livre é muito mais valioso
Do que ser como um urso preso a uma estaca,
Que não pode se mover, a menos que autorizado.”

20.

“Toma esta resposta como conclusão:
Nunca me forçarás a cantar em cativeiro,
Até que tenha liberdade para voar nos bosques,
Livre, para me mover em galhos ásperos e planos.
E, com razão, não deverias desprezar
Meu desejo, mas sim rir e apreciar,
Pois um camponês gostaria que todos fossem iguais a ele.”

21.

“Muito bem”, disse o camponês, “já que não será
Como eu desejo, por mais que tente convencê-la,
Contra tua vontade, tu deves escolher uma entre três opções:
Ou cantar alegremente dentro da gaiola,
Ou irei te levar à cozinha,
Arrancar tuas penas, tão claras e brilhantes,
E depois assar ou assar-te para meu jantar.”

22.

Então disse o pássaro: “Não nego a razão,
E quanto ao meu canto, já te dei uma resposta;
E, se minhas penas forem arrancadas,
Se eu for assada ou cozida em uma torta,
De mim, terás apenas uma pequena refeição.
Mas se seguires meu conselho,
Poderás obter grande vantagem comigo.”

23.

“Se concordares em ouvir minha orientação
E me deixares partir livre da prisão,
Sem resgate ou qualquer outra cobrança,
Oferecerei a ti uma grande recompensa,
As três grandes sabedorias, conforme a razão;
De valor maior – presta atenção ao que ofereço –
Do que todo o ouro que está em teu cofre.”

24.

“Confia em mim, não te enganarei.”
“Pois bem”, disse o camponês, “dize-me.”
“Não”, disse o pássaro, “primeiro, compreenda:
Quem ensina sabedoria deve ser livre,
Convém a um mestre ter sua liberdade
Para ensinar sua lição adequadamente;
Não suspeites de mim, não planejo traição.”

25.

“Pois bem”, disse o camponês, “fico contente,
Confio na promessa que fizeste a mim.”
O pássaro voou e o camponês ficou satisfeito,
Enquanto o pássaro tomou seu voo para o loureiro.
Então o pássaro pensou: “Agora que estou livre,
Nunca mais, em minha vida,
Lutarei com redes ou galhos com cola.”

26.

“É um tolo quem, escapando do perigo,
Quebrou suas correntes e fugiu da prisão,
Retorna ao lugar: pois criança queimada teme o fogo.
Que cada homem se previna com sabedoria e razão,
Contra doces armadilhas que escondem veneno.
Não há veneno mais perigoso e agudo
Do que aquele disfarçado com aparência de doçura.”

27.

“Quem não teme o perigo, no perigo cairá,
Águas calmas escondem profundezas traiçoeiras;
O canto da codorna pode ser falso,
Até que a codorna rasteje para dentro da rede;
O caçador pode enganar, mesmo chorando:
Evita suas armadilhas e não dê ouvidos a lágrimas,
Pois pequenos pássaros podem ser pegos pela cabeça.”

28.

“E agora que escapei de tão grande perigo,
Serei prudente e me precaverei;
Pois de caçadores nunca mais serei alvo,
E de seus galhos com cola voarei para longe.
O perigo é risco para quem nele permanece:
Vem cá, camponês, presta atenção ao meu discurso;
Das três sabedorias, te ensinarei agora.”

29.

“A primeira sabedoria é esta:
Nunca dês crédito muito rápido
A qualquer história ou notícia que ouças,
Pois a razão e a prudência devem ser consideradas;
Entre as histórias, há muitas grandes mentiras,
E acreditar rápido demais tem causado
A muitos homens grande dano e atraso.”

30.

“A segunda é esta, baseada na Escritura:
Nunca desejes aquilo que é impossível recuperar.
Os desejos mundanos estão sempre no risco,
E quem deseja voar muito alto,
Frequentemente cai de repente e despenca com suavidade.
Portanto, modera teus anseios com sabedoria,
Para que não te percas no desejo.”

31.

“A terceira é esta: cuidado pela manhã e à noite:
Lembra-te disso e aprende comigo:
Por tesouro perdido, nunca te desesperes demais,
Pois se ele não pode ser recuperado,
Quem sofre tristeza por perdas dessa ordem
Soma à sua dor inicial muitas outras dores,
Multiplicando sua angústia por imprudência.”

32.

Após essa lição, o pássaro começou a cantar,
Rejubilando-se muito por ter escapado;
E lembrou-se também das injustiças
Feitas pelo camponês ao capturá-la,
E da opressão e do tempo em cativeiro.
Feliz por estar livre e fora de perigo,
Disse ao camponês, pairando sobre sua cabeça:

33.

“Tu foste um tolo por natureza,
Ao deixar-me partir, tamanha foi tua ignorância.
Deverias agora queixar-te e lamentar-te,
E em teu coração sentir grande tristeza,
Pois perdeste um tesouro tão valioso
Que poderia ter pago o resgate
De um rei poderoso.”

34.

“Existe uma pedra chamada Fagonce,
Que antigamente surgiu em minhas entranhas;
Ela pesa uma grande onça de ouro puro,
Com cores cintilantes, como um rubi perfeito.
Ela torna os homens vitoriosos nas batalhas,
E aquele que carrega esta pedra
Está seguro contra todos os inimigos mortais.”

35.

“Quem possui esta pedra preciosa
Nunca sofrerá pobreza ou carência,
Mas terá sempre tesouros abundantes,
E todos os homens o tratarão com reverência.
Nenhum inimigo poderá causar-lhe dano;
Mas de tuas mãos, agora que estou livre,
Nada mais terás, então lamenta se quiseres.”

36.

“Ora, como eu já te disse antes,
Sobre a pedra que havia em mim,
Agora que a perdeste para sempre,
Deverias estar triste e nada contente.
Camponês, digo-te uma verdade:
Fui criada e nasci no doce Paraíso,
E tal tesouro não é para seres como tu.”

37.

“Agora, falarei mais sobre a pedra,
A qual chamo de Fagonce:
Ela possui um cheiro doce e agradável,
Que perfuma o ar com fragrâncias divinas;
Com Enoque e Elias já servi,
Cantando com uma voz tão bela,
Que supera em doçura qualquer harpa.”

38.

“O diamante negro que está nos mares da Morênia,
E a pedra branca carbúnculo que rola nas ondas;
O citrino e o rubi de altíssima preciosidade,
Que superam as gemas comuns conhecidas,
Na arte lapidária, de acordo com a antiga lei:
Ele supera todas as pedras sob os céus,
Seguindo o curso natural dos sete planetas.”

39.

“Não é para qualquer camponês ter tal tesouro,
Que excede todas as pedras na lapidária;
Com todas as suas virtudes, ele traz alegria,
Graça e contentamento sem igual,
E garante ao homem uma vida sem tristeza.
Mas, ó camponês tolo, ultrapassaste tua sorte,
Pois sou livre agora, como sempre fui.”

40.

“Como os clérigos encontram na Bíblia,
Às portas do Paraíso, quando ele foi expulso,
Por um anjo belo e silencioso,
Ali também rei Alexandre fui eu que derrubei,
E, de todas as pedras, esta era a menor.
Pedras assim raramente são encontradas,
E o pobre camponês agora está cheio de pesar.”

41.

“Mais uma coisa posso te contar, camponês,
Se estiveres disposto a ouvir-me:
O Pássaro de Hermes é o meu nome,
Em todo o mundo tão vasto e largo,
Com o brilho da graça ao meu redor,
Se alguém pudesse me ter sob sua proteção,
Seria mais rico do que qualquer imperador.”

42.

“Alexandre, o conquistador, minha pedra derrubou
De seu elmo, quando ela caiu,
Parecendo nada mais que uma simples ervilha redonda,
Pois não servia a nenhum homem em combate.
Por isso, digo com toda a firmeza,
Que essa grande graça veio dos céus,
E não se encontra entre os mortais.”

43.

“Ela traz amor e torna o homem gracioso,
Fazendo-o querido aos olhos de todos,
Traz paz entre os que vivem em discórdia,
Consola os tristes e alegra os corações pesados,
Como o sol brilhante com sua cor reluzente.
Mas sou tola por te contar tudo isso,
Ou por ensinar a um camponês o valor das pedras preciosas.”

44.

“Não se deve colocar uma pérola preciosa,
Como rubis, safiras e outras pedras índigo,
Esmeraldas ou pérolas brancas e redondas,
Diante de porcos, que amam sujeira por instinto;
Pois uma porca se deleita, como encontro,
Mais em lixo fedorento para seus filhotes,
Do que em todas as joias que vêm de Granada.”

45.

“Cada coisa busca seu semelhante:
Os peixes, o mar; as bestas, a terra;
O ar, para as aves, é mais adequado;
O lavrador, feliz com sua enxada,
E o camponês com um forcado em sua mão.
É perda de tempo me demorar mais,
Tentando explicar a ti as virtudes das gemas.”

46.

“O que tiveste, agora não terás mais,
Rejeito tuas armadilhas e redes;
Deixar-me ir foi uma grande tolice,
Pois perdeste riquezas de valor inestimável.
Agora estou livre para voar e cantar
Onde me aprouver; e tolo é aquele
Que se liberta e depois escolhe o cativeiro.”

47.

“Teus ouvidos são meio surdos à sabedoria,
Como um asno que ouve uma harpa;
Deves ir tocar tua flauta em uma folha de hera,
Pois é melhor para mim cantar nos espinhos agudos
Do que falar com um camponês dentro de uma gaiola.
Já foi dito, muitos anos atrás,
Que o servo de um camponês está sempre perdido.”

48.

“Agora, camponês, contei-te tudo,
Com minhas virtudes e grande experiência;
Para alguns, seria melhor que ouro;
Mas, para ti, não tem valor algum.
Como o cajado de um pastor é melhor para ti
Do que uma lança afiada ou uma joia preciosa.
Adeus, agora, rústico coração,
Nunca mais cairei em mãos de camponeses.”

49.

O camponês sentiu seu coração partir em dois,
De tanta tristeza que quase morreu;
“Ah!”, disse ele, “posso chorar e lamentar,
Pois como um miserável nunca prosperarei,
E viverei para sempre na pobreza.
Por loucura e teimosia,
Perdi toda a minha riqueza.”

50.

“Eu era como um senhor”, chorou contra a Fortuna,
“E tinha um grande tesouro em minha posse,
Que poderia ter me sustentado por muito tempo.
Com aquela pedra, teria vivido como um rei
Se a tivesse colocado em um anel;
Carregando-a comigo, teria sido rico,
E nunca mais teria voltado ao arado.”

51.

Quando o pássaro viu o camponês lamentar,
Pesado de coração e semblante entristecido,
Ela voou em sua direção e retornou,
E, pairando sobre ele, disse estas palavras:
“Ó tolo camponês, aprende a lição!
De tudo o que te ensinei, não guardaste nada,
E esqueceste toda a sabedoria.”

52.

“Não te ensinei a não dar crédito apressado
A qualquer história ou notícia que ouvisses?
Pois nem tudo o que brilha é ouro,
E nem todas as pedras que têm cor azul
São safiras, como se pode pensar.
Perdeste a lição mais importante,
E tua ignorância te fez sofrer.”

53.

“Todo o meu corpo não pesa uma onça;
Como poderia eu conter uma pedra
Que pesa mais do que uma grande joia?
Teu cérebro é fraco e tua mente está vazia.
Das três sabedorias, perdeste todas.
Nunca mais acredites em tudo que ouves,
Pois tua pressa te trouxe dano.”

54.

“É inútil continuar a ensinar-te,
Pois é como tocar harpa para um asno;
E louco é aquele que ensina a um tolo,
Ou que tenta ensinar boas maneiras a um camponês.”

55.

Com isso, o pássaro deixou o camponês
E voou livre, cantando em triunfo.
O camponês, arrependido e envergonhado,
Aprendeu tarde demais que a pressa e a avareza
O haviam levado à ruína.

 

ADÃO OU O PROCESSO EM FORMA DE MISSA


Nicolas Melchor Cibenensis
(A Ladislau, rei da Hungria e Boêmia)


INTROITO DA MISSA:

(Tom baixo, alegremo-nos e deve ser cantado)

O fundamento da arte é a dissolução dos corpos, os quais devem ser dissolvidos, não em água das chuvas, mas em água mercurial, da qual nasce a verdadeira Pedra Filosofal.


VERSÍCULO:

(Entrada do vitríolo e do sal vítreo, em partes iguais, testemunhando a dissolução):

Glória ao Pai, e ao Filho, pelo Espírito Santo.


KYRIE:

Fonte de bondade, inspirador da sagrada arte, da qual procedem todos os bens dos fiéis, tende piedade de nós.


CRISTO:

Santo, Pedra abençoada da ciência que, pela salvação do mundo, inspiraste a luz do saber para extirpar os turcos, tende piedade de nós.


KYRIE:

Fogo divino em nossos corações, para que possamos expandir os segredos da arte em tua glória, tende piedade de nós.


GLÓRIA IN EXCELSIS:

(Tom baixo duplo, cante-se ao Deus forte)


COLETA:

Deus, doador de toda bondade, especialmente ao fim dos tempos, por tua bondade e sabedoria, a teu servo N.N., não por seus méritos, mas por tua infalível piedade, inspiraste a luz da sagrada arte da Alquimia. Rogamos que o que ele recebeu como dom de tua majestade aproveite à saúde do corpo e da alma, e que com isso mortifique todos os vícios e infunda a graça da virtude, para que empregue fielmente a sagrada arte somente para a glória do teu nome e a propagação da fé cristã. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


EPÍSTOLA:

Ó profundidade das riquezas, da sabedoria e da ciência de Deus!


GRADUAL:

Ergue-me, Águia, e vem, vento austro: cuida do meu jardim e fluirão seus aromas!


VERSÍCULO:

Desce como a chuva sobre as folhas das árvores e como as gotas que destilam sobre a terra. Aleluia.

Ó feliz criador da terra, mais branco que a neve, mais doce que a suavidade, resplandecente no fundo de um vaso como um bálsamo! Ó medicina salvadora dos homens, que em breve tempo curas todos os sofrimentos do corpo e dás fim à longa vida, renovas a natureza humana, expulsas a pobreza, distribuis a riqueza, afastas a tristeza e conservas a vida saudável! Ó fonte divina, da qual surge a verdadeira água da vida para recompensa de todos os teus fiéis! Aleluia!


SEQUÊNCIA DO SANTO EVANGELHO:

(Tom baixo, cante-se “Ave preclara”)

(Que desejo chamar de testamento da arte, pois toda a arte da Alquimia está oculta sob palavras misteriosas. Bem-aventurado aquele que entende esta sequência.)

Salve, ó luz preciosa do céu, luz radiante do mundo! Aqui te unes à lua, ocorre a cópula marcial e a conjunção de Mercúrio. Dessas três coisas, principalmente através do leito do rio, nasce aquele gigante forte, buscado por milhões pelo magistério da arte. Dissolvidas as três, não em água da nuvem (pois esta jamais melhora nossa goma), mas convertidas em Água Mercurial, esta nossa goma abençoada, dissolvida por si mesma, já é chamada esperma dos filósofos.

Dirige-se agora a copular, desposar-se com uma esposa virgem e impregnar-se no banho mediante a temperança do fogo. Porém, a virgem não se impregna de repente, a menos que receba um beijo com abraços reiterados. Assim, é concebido no ventre, e um feto feliz é procriado, seguindo a ordem da natureza.

Então, no fundo do vaso aparece o Etíope, forte, inteiramente queimado, descolorido, calcinado e completamente morto, sem vida, pedindo ser enterrado, regado com sua umidade e calcinado suavemente, até que, pela força do fogo, apareça branquíssimo. Muitas vezes ele primeiro toma uma bebida, derramada no ar, e, depois de ser lavado pelo fogo, renasce do próprio suor, limpo do corpo anteriormente tenebroso.

Eis a admirável geração do Etíope, ou renovação: dela surge o homem novo, pelo Lavado da regeneração, chamado pelos filósofos de enxofre da natureza, e Filho deles, a Pedra dos Filósofos. Mas quão cegos são os tolos, enganados pela ignorância da filosofia natural e pelo desprezo ao fogo!

Aqui está a coisa única, a raiz única, a essência única, à qual nada estranho é adicionado, mas somente o supérfluo é removido pelo magistério da arte. Agora deve ser fortalecido, fermentado por sua natureza, regado com sua água, e destilado moderadamente. Então, começa a reinar, lutar contra o fogo e subir ao céu, sendo coroado com uma diadema, após subjugar todos os inimigos e rebeldes.

Este é o tesouro dos tesouros, a suma medicina dos filósofos, o segredo celestial dos antigos. Bem-aventurado aquele que o encontra! Quem viu tais coisas, as escreve e declara abertamente, e sei que seu testemunho é verdadeiro.

Bendito seja Deus pelos séculos dos séculos, por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

(Leia-se o Evangelho de Mateus e Lucas 10):
“Eu te louvo, Senhor Deus, Pai do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes deste mundo e as revelaste aos pequenos.”


CREDO IN UNUM…

(Sempre deve ser recitado)


OFERTÓRIO:

A Pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isso foi feito pelo Senhor, e é admirável aos nossos olhos.


SECRETA:

Deus onipotente, pela vítima saudável que ardentemente imolamos à tua majestade, suplicamos tua clemência, para que este nosso artifício, em honra do teu nome e da abençoada arte da Alquimia, seja sempre dedicado e consagrado à reforma da Igreja Universal, por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.


COMMUNE:

Ao nosso Rei que vem do fogo iluminado e coroado com uma diadema, honra perpetuamente.


COMPLENDA:

Recebemos, Senhor, da nossa salvação, o auxílio para a fraqueza, e, agradecendo à tua majestade, rogamos que sirva para a salvação da alma e do corpo, para a extirpação dos turcos e para o fortalecimento da fé cristã, pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.


ITE MISSA EST, ALELUIA.

FINAL

Uma Obra de Saturno

Johann Isaac Hollandus De “Of Natural & Supernatural Things”. Londres, 1670. Transcrito por Joshua Ben Arent


O Prefácio

Caro leitor,

Os Filósofos escreveram muito sobre seu Chumbo, que é preparado a partir do Antimônio, como Basílio ensinou; e sou da opinião de que esta Obra Saturnina do excelentíssimo Filósofo M. John Isaac Holland não deve ser entendida como o Chumbo comum, (se a matéria da Pedra não for muito mais considerada), mas sim como o Chumbo dos Filósofos. Se o Saturno vulgar é ou não a Matéria da Pedra Filosofal, você encontrará satisfação suficiente nos 17 Considerações ou Documentos subsequentes. Esta obra é publicada para o benefício de todos os Amantes desta Arte, pois explica e declara a Pedra do Fogo. Saúdações.


Uma Obra de Saturno

Meu filho deverá saber que a Pedra chamada Pedra Filosofal vem de Saturno. Portanto, quando ela estiver aperfeiçoada, faz projeção tanto no corpo humano contra todas as doenças, que possam atacá-lo por dentro ou por fora, sejam quais forem ou por qualquer nome chamadas, assim como nos metais imperfeitos.

E saiba, meu Filho, como uma verdade, que em todo o trabalho vegetal não há segredo maior ou mais elevado do que em Saturno; pois nós não encontramos aquela perfeição no Ouro que existe em Saturno; porque, internamente, ele é um bom Ouro, nisso todos os Filósofos concordam, e ele não precisa de mais nada, senão que você remova primeiro o que é supérfluo nele, ou seja, sua impureza, torne-o limpo, e então vire seu interior para fora, que é sua vermelhidão; então ele será um bom Ouro; pois o Ouro não pode ser feito tão facilmente quanto Saturno, pois Saturno é facilmente dissolvido e coagulável, e seu Mercúrio pode ser facilmente extraído, e este Mercúrio, sendo purificado e sublimado, como usualmente se faz com o Mercúrio, digo-lhe, meu Filho, que este Mercúrio é tão bom quanto o Mercúrio extraído do Ouro, em todas as operações; pois, se Saturno for Ouro internamente, como de fato é, então seu Mercúrio deve ser tão bom quanto o Mercúrio do Ouro. Portanto, digo-lhe que Saturno é melhor em nosso trabalho do que o Ouro; pois, se você quisesse extrair o Mercúrio do Ouro, precisaria de um ano para abrir o corpo do Ouro antes de extrair o Mercúrio, e o Mercúrio pode ser extraído de Saturno em 14 dias, sendo ambos igualmente bons.

Se você quiser fazer um trabalho somente com Ouro, deverá trabalhar nele por dois anos inteiros para que fique bem feito; mas você pode finalizar um trabalho de Saturno em 30 ou 32 semanas no máximo. E, estando ambos bem feitos, são igualmente bons; Saturno não custa nada ou custa muito pouco, requer pouco tempo e pouco trabalho; isso digo-lhe em verdade.

Meu Filho, guarde isso em seu coração e entendimento, este Saturno é a Pedra que os Filósofos não nomeiam, cujo nome é oculto até hoje; pois, se seu nome fosse conhecido, muitos iriam operar, e a Arte se tornaria comum, porque este trabalho é breve, barato e simples.

Por esta razão o nome permanece oculto, por causa do mal que poderia surgir disso. Todas as parábolas enigmáticas que os Filósofos falaram sobre uma Pedra, uma Lua, um Forno, um Vaso, tudo isso é Saturno; pois você não deve adicionar coisa alguma estranha a ele, apenas o que vem dele. Portanto, não há pessoa tão pobre no mundo que não possa operar e promover este trabalho; pois a Prata pode ser facilmente feita de Saturno em pouco tempo, e, em um tempo um pouco maior, o Ouro pode ser feito dele. E, embora um homem seja pobre, ainda assim ele pode muito bem alcançá-lo e ser capaz de fazer a Pedra Filosofal.

Portanto, meu Filho, tudo de que precisamos está oculto em Saturno, pois nele está um Mercúrio perfeito, nele estão todas as cores do mundo, que podem ser descobertas nele; nele estão as verdadeiras cores preta, branca e vermelha, nele está o peso, Saturno é o nosso Latim.

Exemplo: O olho de um homem não pode suportar coisa alguma que seja imperfeita, por menor que seja, mesmo que seja o menor átomo de poeira, isso lhe causaria muita dor, que ele não conseguiria descansar. Mas, se você pegar a quantidade de um grão de feijão de Saturno, raspá-lo suavemente e colocá-lo no olho, não causará dor alguma; a razão disso é porque ele é internamente perfeito, assim como o Ouro e as Pedras Preciosas. Por meio desses e outros discursos, você pode observar que Saturno é a nossa Pedra Filosofal, e o nosso Latim, do qual o nosso Mercúrio e nossa Pedra são extraídos com pouco trabalho, pouca arte e pouca despesa, e em pouco tempo.

Portanto, advirto você, meu Filho, e todos aqueles que conhecem seu nome, que o ocultem das pessoas, em razão do mal que poderia surgir; e você deverá chamar a Pedra de nosso Latim, e chamar a Água de Vinagre, na qual nossa Pedra deve ser lavada; esta é a Pedra e a Água sobre as quais os Filósofos escreveram tantos volumes grandiosos. Há muitos e diferentes trabalhos na Pedra Mineral, e especialmente naquela Pedra que Deus nos deu gratuitamente, sobre a qual tantas parábolas estranhas foram escritas no Livro Mineral.

Mas esta é a verdadeira Pedra que os Filósofos procuraram, porque ela faz projeção sobre todos os metais imperfeitos, especialmente sobre o Mercúrio rápido, e, ademais, faz projeção sobre todas as doenças, quaisquer que sejam, que possam afetar o corpo humano, bem como sobre todas as feridas, cânceres, fístulas, feridas abertas, bubões, abcessos e tudo o que possa ocorrer externamente ao corpo humano. Portanto, esta Pedra não está sob o trabalho Mineral, mas sim sob o Vegetal.

Ela é o princípio do Livro Vegetal e o fundamento; esta Pedra é chamada Lapis Philosophorum, a Pedra Mineral é chamada Lapis Mineralis, e a terceira Pedra é chamada Lapis Animalis. Esta Pedra é o verdadeiro Ouro Potável, a verdadeira Quintessência que procuramos, e não outra coisa neste mundo além desta Pedra. Portanto, os Filósofos dizem: Quem conhece nossa Pedra e pode prepará-la, não precisa de mais nada. Por esta razão, eles procuraram esta coisa e nenhuma outra.


Conclusão

Por fim, meu Filho, entenda que o conhecimento desta Arte é um dom divino, confiado apenas aos justos. Se você a usar com humildade, para o bem da humanidade e para glorificar o Criador, encontrará nela todas as riquezas e curas que um homem poderia desejar. No entanto, se a usar com intenções egoístas ou impuras, Deus retirará seu favor, e você será punido pela própria Arte que buscou.

Lembre-se, portanto, de que nós, Filósofos, ocultamos o nome desta Pedra por uma boa razão: ela deve permanecer nas mãos dos sábios, e não dos ignorantes. Que este conhecimento seja sua herança, e que você o use com sabedoria e retidão.

Bendito seja Deus em todas as Suas Obras.

Fim.

 

A PEDRA DE TOQUE OU PRINCÍPIOS DOS FILÓSOFOS

Que devem servir de regra para a obra

I
A natureza deixou alguns seres imperfeitos, pois não formou a pedra, mas apenas sua matéria que, de fato, não pode fazer o que faz a pedra depois de sua preparação, porque se encontra impedida por obstáculos acidentais.

II
A substância que se busca é a mesma coisa que aquela de onde ela deve ser extraída.

III
Essa identidade é específica, ou seja, existe apenas em relação à espécie; não é particular ou numérica.

IV
Da unidade extraí o número ternário e retornai o número ternário à unidade.

V
Toda coisa seca bebe seu úmido.

VI
Não há outra água permanente senão aquela que é seca e se adere aos corpos, de modo que, se ela foge, os corpos fogem com ela e ela os segue se eles fogem.

VII
Quem ignora o meio de destruir os corpos também ignora o meio de produzi-los.

VIII
Todas as coisas que se dissolvem pelo calor se coagulam com o frio e vice-versa.

IX
A Natureza se regozija em sua natureza, a Natureza melhora a natureza e a leva à sua perfeição.

X
É necessário, para a conservação do universo, que cada coisa deseje e busque a perpetuidade de sua espécie.

XI
Nas produções físicas perfeitas, os efeitos são semelhantes e conformes à causa particular que os produz.

XII
Não é possível haver geração sem corrupção e, em nossa obra, a corrupção e a geração são impossíveis sem o céu filosófico.

XIII
A menos que intervenhais na ordem da Natureza, não engendrareis o ouro, a menos que tenha sido previamente prata.

XIV
A dissolução dos corpos é a mesma coisa que sua coagulação, se considerarmos apenas o menstruo e o momento da dissolução.

XV
Se dissipastes e perdestes o verdor do mercúrio e o rubor do enxofre, perdestes a alma da Pedra.

XVI
Em nossa obra, nada estranho entra; ela não admite nem recebe nada que venha de outra parte.

XVII
As soluções filosóficas evitam, ao corpo dissolvido, suas impurezas naturais, que não podem ser tornadas sensíveis por nenhum outro meio.

XVIII
Todo agente exige uma matéria preparada; por essa razão, um homem não pode gerar com uma mulher morta.

XIX
Na obra, a fêmea dissolve o macho e o macho coagula a fêmea.

XX
O mercúrio dos filósofos é seu composto muito secreto, ou seu Adão, que carrega e esconde em seu corpo Eva, sua mulher, a qual é invisível; mas quando chega ao branco, esta se torna macho.

XXI
Os filósofos disseram sabiamente que o mercúrio contém tudo o que faz o objeto da busca dos sábios.

XXII
Que vosso calor seja contínuo, vaporoso, digerente, circundante e que seja conduzido por meio de um agente.

XXIII
Tomai cuidado com a ordem em que aparecem as cores críticas, para que uma não preceda a outra e que cada uma se apresente em seu devido tempo.

XXIV
Essas cores críticas são quatro: o negro e o branco, o citrino e o vermelho perfeito. Alguns filósofos lhes deram o nome de elementos.

XXV
Se a cor branca preceder a negra, falhastes no regime do fogo, e se o vermelho aparecer antes do citrino, isso indica uma secura excessiva da matéria.

XXVI
Tomai o maior cuidado para que a negrura não apareça duas vezes: quando os corvos voarem uma vez de seu ninho, não devem mais voltar a ele.

XXVII
Tomai também cuidado para que não se rompa a casca do ovo, que não se rache e não deixe passar o ar; do contrário, nada de bom fareis.

XXVIII
O fermento não é composto senão de sua própria massa; assim, não mistureis o branco com o vermelho, nem o vermelho com o branco.

XXIX
Se não tingirdes o mercúrio, ele não tingirá.

XXX
É preciso que os corpos ou metais inferiores, que se deseja transmutar em ouro ou prata por projeção, estejam vivos e animados.

XXXI
Quanto mais perfeitos forem os corpos, mais receberão e se carregarão de tintura.

XXXII
Se a pedra não for fermentada pelo menos duas vezes, não poderá dominar ou subjugar o mercúrio dos corpos e transformá-lo em sua natureza.

XXXIII
Se for usada demasiada tintura na projeção, o corpo inferior se tornará demasiadamente fixo e não poderá entrar em fusão; se houver tintura insuficiente, ele apenas se tingirá fracamente.

XXXIV
Nossa pedra, antes de ser capaz de tingir os metais, expulsa as doenças de seu gênero, proporcionais ao grau de perfeição que adquiriu.

XXXV
Quando atinge uma brancura fixa e permanente, cura as doenças lunares, e quando está vermelha, as doenças solares. Mas, preparada de uma ou outra forma, as doenças astrais resistem, pois estão absolutamente submetidas à fatalidade.

XXXVI
Os sábios, afastando os profanos, admitirão apenas os eleitos em seus mistérios sagrados; uma vez que possuam este raro presente da sabedoria divina, darão graças ao Ser Supremo e se colocarão todos sob o estandarte de Harpócrates.

A LUZ SURGINDO POR SI MESMA DAS TREVAS

POEMA SOBRE A COMPOSIÇÃO DA PEDRA DOS FILÓSOFOS,
ESCRITO PELO SENHOR MARCO ANTONIO CRASELLAME,
FILÓSOFO ITALIANO


CANTO PRIMEIRO

I

O Caos tenebroso surgiu como uma Massa confusa do fundo do Nada, com o primeiro som da Palavra todo-poderosa. Diz-se que o desordenado o havia produzido, e que algo semelhante não poderia ser obra de um Deus, tão informe que era. Todas as coisas estavam nele, num profundo repouso, e os elementos estavam ali confundidos, pois o Espírito divino ainda não os havia distinguido.

II

E agora, quem poderia explicar de que maneira os céus, a terra e o mar foram formados, tão leves em si mesmos e, no entanto, tão vastos ao considerarmos sua extensão? Quem poderia explicar como o Sol e a Lua receberam, lá em cima, o movimento e a luz, e como tudo o que vemos aqui embaixo obteve Forma e Ser? Quem poderia, enfim, compreender como cada coisa recebeu sua própria denominação, foi animada pelo seu próprio espírito, e como, ao sair da Massa impura e desordenada do Caos, foi regulada por uma lei, uma quantidade e uma medida?

III

Ó vós, filhos e imitadores do divino Hermes, a quem a Ciência de vosso pai revelou a Natureza desnuda: somente vós e unicamente vós sabeis como aquela mão imortal formou a Terra e os Céus a partir da Massa informe do Caos, pois a vossa Grande Obra mostra claramente que, da mesma maneira como se faz o vosso Elixir filosófico, Deus fez todas as coisas.

IV

Mas não cabe à minha frágil pena traçar tão grande retábulo, pois ainda sou apenas um pobre filho da Arte, sem experiência alguma: não que os vossos escritos doutos não me tenham mostrado o verdadeiro objeto a perseguir, ou que eu não conheça bem aquele Iliaster que contém tudo o que nos é necessário, assim como aquele composto admirável com o qual soubestes levar da potência ao ato a virtude dos elementos.

V

Não que eu ignore que vosso Mercúrio secreto nada mais é que um espírito vivente, universal, inato, que desce incessantemente, em forma de vapor aéreo, do Céu à Terra para preencher seu ventre poroso, para depois nascer entre os enxofres impuros, crescendo e passando da natureza volátil à fixa, dando a si mesmo a forma de umidade radical.

VI

Não que eu desconheça que, se nosso Vaso oval não estiver selado durante o Inverno, jamais poderá reter o vapor precioso, sem o qual nosso belo Filho morrerá no nascimento, se não for prontamente auxiliado por uma mão habilidosa e pelos olhos de Linceu. Do contrário, ele não poderá ser alimentado com seu primeiro humor, à semelhança do homem que, após ser nutrido com sangue impuro no ventre materno, vive de leite ao vir ao mundo.

VII

Contudo, embora eu saiba todas essas coisas, não me atrevo a argumentar convosco, pois os erros alheios sempre me deixam na dúvida. Mas se sois mais movidos pela piedade que pela inveja, dignai-vos expulsar do meu espírito todas as dúvidas que o aprisionam. E, se puder ser tão afortunado a ponto de explicar com distinção em meus escritos tudo o que concerne ao vosso Magistério, fazei, vos conjuro, com que receba de vós a seguinte resposta: Trabalha audaciosamente, pois sabes tudo o que é necessário saber.


CANTO SEGUNDO

Sobre como o Mercúrio e o Ouro vulgares não são o Ouro e o Mercúrio dos Filósofos,
e como, no Mercúrio dos Filósofos, está tudo o que os Sábios buscam.
Aqui se examina, de passagem, a prática da primeira operação que o artista experiente deve seguir.


ESTROFA I

Que os homens pouco versados na Escola de Hermes se confundem quando, com espírito de avareza, se apegam ao som das palavras. Frequentemente, confiando nos nomes vulgares de prata viva e ouro, eles se entregam ao trabalho, imaginando que, com ouro comum, através de um fogo lento, poderão fixar, por fim, aquela prata fugitiva.

II

Mas se pudessem abrir os olhos do espírito e compreender o sentido oculto dos Autores, veriam claramente que o Ouro e a Prata viva do vulgo carecem daquele fogo universal, que é o verdadeiro Agente. Esse Agente ou espírito abandona os metais assim que estes são expostos à violência das chamas nos fornos; por isso, o metal, fora da mina, privado desse espírito, é apenas um corpo morto e imóvel.

III

Na verdade, Hermes falava de outro Mercúrio e outro Ouro: um Mercúrio úmido e quente, sempre constante ao fogo, e um Ouro que é todo fogo e toda vida. Esta diferença não é capaz de se perceber facilmente, pois os metais vulgares são corpos mortos privados de espírito, enquanto os nossos são espíritos corporais sempre vivos.

IV

Ó grande Mercúrio dos Filósofos! Em ti se unem o Ouro e a Prata, depois de serem levados da potência ao ato: Mercúrio todo Sol e toda Lua, tripla substância em uma, e uma substância em três. Ó maravilha! O Mercúrio, o Enxofre e o Sal me fazem ver três substâncias em uma única essência.


CANTO TERCEIRO

Aqui se aconselha aos alquimistas vulgares e ignorantes
que desistam de suas operações sofísticas, pois estas são
inteiramente opostas ao que a verdadeira Filosofia nos ensina
para realizar a Medicina Universal.


ESTROFA I

Ó vós, que buscais fazer Ouro por meio da Arte, permanecendo incessantemente entre as chamas ardentes de vossos carvões! Deixai de vos fatigar em vão, para que uma esperança louca não consuma vossos pensamentos no fumo.

[…]


FINAL

Nosso Magistério se encontra em uma única Raiz, já conhecida por vós, e talvez revelada mais do que eu deveria. Essa Raiz contém em si duas substâncias, que, embora inicialmente apenas Ouro e Prata em potência, se tornam Ouro e Prata em ato, desde que saibamos igualar perfeitamente seus pesos.

Regras Filosóficas ou Canons Concernentes a Pedra dos Filósofos

Aos Amantes dos Estudos Herméticos

Todos os livros dos Filósofos que tratam da obscura Medicina Hermética são nada mais que um Labirinto Espagírico, no qual, na maior parte das vezes, os Discípulos da Arte caem em várias ambiguidades e enganos, de modo que, até hoje, são poucos os que encontraram um fim verdadeiro. Pois, se nesse Labirinto alguma via fácil se mostra aos Errantes e Perdidos, parecendo desatrelá-los e guiá-los para fora, logo surgem esquinas intransponíveis que os mantêm em um cativeiro perpétuo. Assim, se nos Escritos dos Filósofos, vias manifestas e simples às vezes se apresentam, parecendo à primeira vista claras aos Pesquisadores conforme a letra, logo operadores desavisados, enganados pelas palavras abertas dos Filósofos, são envolvidos em inúmeros enganos. A isso pode-se adicionar que muitos Pseudoquímicos iludem a muitos por meio de fraudes e enganos vistosos, dispersando e vendendo operações e processos falsos, nos quais prometem Montanhas de Ouro aos crédulos, semeando joio e mandando que esperem trigo.

Por isso, movido pela compaixão, ofereci estas Regras, cheias de Razões Físicas e Verdade, nas quais toda a Arte está claramente representada, como em um Quadro de Escrita. Examine-as e pondere-as cuidadosamente, fortaleça sua opinião com argumentos firmes, e então você não poderá errar. Pois aquele que acredita em qualquer sofisma sem julgamento deseja ser enganado. A verdadeira Arte está oculta sob muitas coberturas, pelas quais os desavisados são facilmente confundidos. Portanto, antes de começar a trabalhar, pese bem e considere prudentemente as causas naturais das coisas; ou então, não comece o trabalho. É melhor empregar seu tempo em meditação diligente e julgamento profundo do que sofrer a punição de uma temerária e insensata precipitação.

B.D.P.

Algumas Regras ou Cânones Filosóficos Concernentes à Pedra dos Filósofos

O que buscamos, está aqui ou em lugar nenhum.

Cânon I. Aquilo que está mais próximo da Perfeição, é mais facilmente levado à Perfeição.
2. As coisas imperfeitas não podem, por nenhuma Arte, alcançar a Perfeição, a menos que primeiro sejam purificadas de seu enxofre feculento e da grosseria terrena misturados ao seu Enxofre e Mercúrio; o que uma Medicina perfeita realiza.
3. Tornar o Imperfeito fixo, sem o Espírito e o Enxofre do Perfeito, é totalmente impossível.
4. O Céu dos Filósofos resolve todos os Metais em sua primeira matéria; ou seja, em Mercúrio.
5. Aquele que se esforça para reduzir Metais a Mercúrio sem o Céu Filosófico, ou a Água-Viva Metálica, ou seu Tártaro, estará gravemente enganado, porque a impureza abundante no Mercúrio, advinda de outras dissoluções, é até mesmo discernível a olho nu.
6. Nada é perfeitamente fixo que não pode ser inseparavelmente unido ao que é fixo.
7. O Ouro fusível pode ser transformado em Sangue.
8. Tornar a Prata fixa não é dissolvê-la em pó ou água, pois isso seria destruí-la radicalmente; ela deve necessariamente ser reduzida a Mercúrio.
9. A Lua não pode ser transmutada em Sol, exceto se retornar ao Mercúrio fluido (exceto pela Tintura física), o mesmo se aplica aos outros Metais.
10. Os corpos imperfeitos junto com a Lua são levados à perfeição e convertidos em Ouro puro, se forem primeiro reduzidos a Mercúrio; e isso por um Enxofre branco ou vermelho, pela virtude de um Fogo apropriado.
11. Cada corpo imperfeito é levado à perfeição por sua redução a Mercúrio; e, depois, pela cocção com Enxofres em um Fogo apropriado: pois deles são gerados Ouro e Prata; e aqueles que tentam fazer Ouro e Prata de outra maneira são enganados e trabalham em vão.
12. O Enxofre de Marte é o melhor, que, sendo unido ao Enxofre do Ouro, traz à luz uma certa Medicina.
13. Nenhum Ouro é gerado, exceto o que antes era Prata.
14. A Natureza compõe e cozinha seus Minerais por um processo gradual; e assim, de uma única Raiz, procria todos os Metais, até o Último fim dos Metais, que é o Ouro.
15. O Mercúrio corrompe o Ouro, resolve-o em Mercúrio e torna-o volátil.
16. A Pedra é composta de Enxofre e Mercúrio.
17. Se a preparação dos Mercúrios não for ensinada por algum Artista habilidoso, não será aprendida apenas pela leitura dos livros.
18. A preparação do Mercúrio para o Menstruo Filosófico é chamada de Mortificação.
19. A prática dessa grande Obra excede o mais alto Arcano da Natureza; e, a menos que seja mostrada por Revelação Divina ou pela Obra em si, por um Artista, nunca é obtida a partir de livros.
20. Enxofre e Mercúrio são a matéria da Pedra; portanto, o conhecimento dos Mercúrios é necessário, para que se obtenha um bom Mercúrio, pelo qual a Pedra será mais rapidamente aperfeiçoada.
21. Na verdade, existe um certo Mercúrio oculto em cada corpo, pronto para ser extraído sem outra preparação; mas a Arte de extraí-lo é muito difícil.
22. O Mercúrio não pode ser convertido em Sol ou Lua, nem fixado, exceto por meio de um Compêndio de Abreviação da grande Obra.
23. Congelar e fixar é uma única Obra; de uma única coisa apenas, no Vaso.
24. Aquilo que congela e fixa o Mercúrio, também o tinge, na mesma prática.
25. Os graus de Fogo a serem observados na Obra são quatro: no primeiro, o Mercúrio dissolve seu próprio corpo; no segundo, o Enxofre seca o Mercúrio; no terceiro e quarto, o Mercúrio é fixado.
26. As matérias sendo radicalmente misturadas em profundidade, através de suas partes mais ínfimas, tornam-se inseparáveis, como neve misturada com água.
27. Diversos Simples, sendo postos em putrefação, produzem diversos outros.
28. É necessário que a forma e a matéria pertençam à mesma espécie.
29. Um Enxofre homogêneo possui a mesma natureza mercurial que produz Ouro e Prata; e este Enxofre puro é Ouro e Prata, embora não discernível ao olho em tal forma, mas sim dissolvido em Mercúrio.
30. Pode ser extraída uma certa unção fixa do Ouro, sem uma dissolução filosófica do Ouro em Mercúrio, a qual serve como um fermento gerador de Sol e Lua; isso é realizado por meio de uma abreviação da Obra, que Geber chama de Rebis.
31. Os metais, sendo resolvidos em Mercúrio, são novamente reduzidos a um corpo, com uma pequena quantidade de Fermento sendo adicionada; caso contrário, eles sempre manterão a forma de Mercúrio.
32. O Céu ou Tártaro dos Filósofos, que reduz todos os metais a Mercúrio, é a Aqua-Vita Metálica dos Filósofos, a qual também chamam de Fezes dissolutas.
33. Enxofre e Mercúrio consistem na mesma natureza homogênea.
34. A Pedra dos Filósofos nada mais é que Ouro e Prata dotados de uma Tintura de excelência e mais que perfeição.
35. Sol e Lua, em suas espécies próprias, não possuem mais do que é suficiente para si mesmos, sendo necessário reduzi-los à natureza e ao poder de um Fermento, por preparação, e digeri-los, para que a massa possa ser multiplicada.
36. Os extremos principais no Mercúrio são dois, a saber: demasiada crueza e uma cocção demasiadamente elaborada. [Nota: as palavras originais são nimis exquisita, mas o autor sugere que minus exquisita seria mais adequado.]
37. Os Filósofos observam como máxima que tudo que é seco rapidamente absorve a umidade de sua própria espécie.
38. A Calx da Lua, sendo alterada, absorve rapidamente seu próprio Mercúrio; a Fundação Filosófica dos Minerais.
39. O Enxofre é a Anima, mas o Mercúrio é a matéria.
40. O Mercúrio é retido pelo Enxofre dos corpos imperfeitos, é coagulado em um corpo imperfeito e passa à mesma espécie metálica do corpo imperfeito cujo Enxofre o coagulou e concretizou.
41. Fazer Sol e Lua dos corpos imperfeitos, por meio do Enxofre, é totalmente impossível; pois nada pode dar ou fornecer mais do que possui.
42. O Mercúrio de todos os metais é sua semente feminina e seu Menstruo, sendo levado tão longe pela Arte de um bom Operador; pois, pela projeção da grande Obra, ele recebe e atravessa as qualidades de todos os Metais, até alcançar o Ouro.
43. Para que uma Tintura vermelha possa ser extraída, o Mercúrio deve ser animado apenas com o Fermento de Sol; mas para o branco, com o Fermento de Lua apenas.
44. A Obra dos Filósofos é aperfeiçoada com um trabalho muito simples, realizado sem grandes custos, a qualquer tempo e em qualquer lugar, por qualquer pessoa, desde que tenha a matéria verdadeira e suficiente.
45. Os Enxofres de Sol e Lua retêm ou fixam os espíritos de sua própria espécie.
46. Sol e Lua são os verdadeiros enxofres, espermas ou sementes masculinas da Pedra.
47. Tudo o que tem o poder de reter e fixar deve necessariamente ser estável e permanente.
48. A Tintura que dá perfeição aos metais imperfeitos flui da fonte de Sol e Lua.
49. Aqueles que tomam o Enxofre de Vênus estão enganados.
50. Nada é dado por natureza a Vênus que seja necessário à grande Obra Espagírica ou que sirva para a fabricação de Sol e Lua.
51. Note que o Ouro convertido em Mercúrio, antes de sua Conjunção com o Menstruo, não pode ser Anima, nem Fermento, nem Enxofre, e de forma alguma é proveitoso.
52. A Obra, quando levada ao fim, pode ser tornada ígnea por repetição.
53. Na abreviação da Obra, os corpos perfeitos devem ser reduzidos a Mercúrio fluido e uma Água seca, pela qual possam receber devidamente um Fermento.
54. A preparação do Mercúrio feita por sublimação (aplicada após a revificação) é melhor do que a que é feita por amalgamação.
55. A Anima não pode imprimir a forma, a menos que o espírito intervenha, o qual nada mais é que o Sol convertido em Mercúrio.
56. O Mercúrio recebe a forma do Ouro pela mediação do Espírito.
57. Sol, sendo resolvido em Mercúrio, é o espírito e a anima.
58. O Enxofre e a Tintura dos Filósofos designam um mesmo Fermento.
59. O Mercúrio vulgar é tornado igual a todos os Mercúrios dos corpos e se aproxima muito de sua semelhança e natureza.
60. Um Fermento torna o Mercúrio mais denso e ponderoso.
61. Se o Mercúrio comum não for animado ou se carecer de anima, ele não oferece nada relevante, seja para a Obra universal ou particular.
62. O Mercúrio, estando devidamente mortificado, é então impresso com uma anima.
63. Sol pode ser preparado como um Fermento, de modo que uma parte possa animar dez partes de Mercúrio comum; mas esta Obra não tem fim.
64. O Mercúrio dos corpos imperfeitos está em um meio-termo entre o Mercúrio comum e o Mercúrio dos corpos perfeitos; mas a Arte de extraí-lo é muito difícil.
65. Visto que o Mercúrio comum, pela projeção da Pedra, é transformado em Sol ou Lua, ele pode ascender mais alto, ser exaltado e tornar-se igual a todos os Mercúrios dos corpos.
66. O Mercúrio comum animado é um grande Arcano.
67. Os Mercúrios de todos os corpos são transformados em Ouro ou Prata, por meio de uma Abreviação da Obra.
68. Um calor úmido e suave é chamado de Fogo Egípcio.
69. É digno de nota que a Lua não é a mãe da Prata comum, mas um certo Mercúrio, dotado das qualidades da Lua Celestial.
70. A Lua Metálica possui natureza masculina.
71. O Mercúrio vulgar, devido ao frio, assume a natureza de uma mulher estéril.
72. Os Mercúrios dos Semi-minerais assemelham-se à natureza da Lua em aparência.
73. Todas as coisas são produzidas a partir do Sol e da Lua, isto é, de duas substâncias.
74. Masculino e Feminino, ou seja, Sol e Mercúrio, crescem juntos em um.
75. O Mercúrio comum, sem preparação, está distante da Obra.
76. Quatro partes de Mercúrio e uma parte de Sol, isto é, do fermento, constituem um verdadeiro matrimônio do masculino e do feminino.
77. A solução ocorre quando o Sol é resolvido em Mercúrio.
78. Sem putrefação, nenhuma solução é aperfeiçoada.
79. A putrefação perdura e se estende até a brancura.
80. O grande Segredo consiste na purificação do Espírito, pela qual o Menstruo é preparado, pois é ele que dissolve o Ouro.
81. O Mercúrio dissolve o Ouro em uma Água de sua própria forma, isto é, em um Mercúrio fluido, como ele próprio é.
82. A dissolução é o início da coagulação.
83. Sol, sendo convertido em um Mercúrio fluido, permanece nessa forma por pouco tempo.
84. O Fermento seca o Mercúrio, torna-o mais denso, retém e fixa-o.
85. O Sol dos Filósofos é chamado de sua Fonte.
86. A matéria é convertida, pelo poder da putrefação, em um lute ou pasta, que é o início da coagulação.
87. Existe um certo compêndio pelo qual o Enxofre é extraído do Sol e da Lua, e por meio dele qualquer Mercúrio pode ser fixado em ouro e prata.
88. A matéria nunca deve ser removida do fogo, nem deixada esfriar; caso contrário, a obra será destruída.
89. Quando a matéria atinge a cor negra, é necessário aplicar o segundo grau de fogo.
90. A lavagem ou purificação dos Filósofos é uma semelhança; pois somente o fogo realiza e aperfeiçoa todas as coisas.
91. O veneno e a impureza são removidos sem a adição de qualquer coisa, pela força do Fogo, que sozinho realiza todas as coisas.
92. O Fogo, com sua virtude aguda e penetrante, purifica e limpa cem vezes mais que qualquer outra coisa.
93. Na geração e vegetação de qualquer coisa, se o calor se extinguir, a morte logo invade a matéria em crescimento.
94. O Espírito é o calor.
95. A matéria, uma vez trazida à brancura, não pode ser corrompida nem destruída.
96. Toda corrupção da matéria é impressa com um veneno mortal.
97. O vidro ou vaso é chamado de a Mãe.
98. A virtude do Enxofre não se estende além do limite de uma certa proporção, nem pode exceder a um peso infinito.
99. Esta questão deve ser observada: por que os Filósofos chamam seu Menstruo de matéria da Pedra?
100. O Enxofre merece o nome de forma, mas o Menstruo, de matéria.
101. O Menstruo representa os elementos inferiores, isto é, Terra e Água; mas o Enxofre, os dois superiores, Fogo e Ar, como um agente masculino.
102. Se você quebrar a casca de um ovo de modo que o pintinho saia, ele nunca poderá ser chocado; assim também, se você abrir o vaso e a matéria sentir o ar, nada poderá ser realizado.
103. A calcinação feita com Mercúrio em um forno de reverberação é melhor que as demais.
104. Os modos de falar dos Filósofos devem ser cuidadosamente notados, pois por sublimação eles entendem a dissolução dos corpos em Mercúrio pelo primeiro grau do Fogo; a segunda operação que se segue é o espessamento do Mercúrio com o Enxofre; a terceira é a fixação do Mercúrio em um corpo perfeito e absoluto.
105. O número dos que erram é infinito, pois não consideram o Mercúrio, tal como está em sua própria forma e amalgamado com a calx dos corpos perfeitos, como o sujeito e a matéria da Pedra.
106. A Medicina branca é levada à perfeição no terceiro grau do Fogo; e esse grau não deve ser excedido na preparação da Medicina branca; pois se você fizer o contrário, destruirá a obra para o branco.
107. O quarto grau do Fogo traz a matéria ao vermelho, no qual também aparecem diversas cores.
108. A obra, depois de alcançar o grau de brancura e não sendo conduzida à vermelhidão perfeita, permanece imperfeita, não apenas para a tintura branca, mas também para a tintura vermelha; portanto, ela fica morta até que termine em uma vermelhidão perfeita.
109. Após o quinto grau do Fogo, para aperfeiçoá-la, a matéria adquire novas virtudes.
110. A obra não atinge a perfeição até que a Medicina seja incerada e tornada sutil, como cera.
111. A incerção da obra é realizada com uma quantidade dupla ou tripla de Mercúrio, em relação àquele que deu origem à Pedra.
112. A incerção da Medicina branca é feita com a água branca, sem a animação do Mercúrio pela Lua; mas a incerção da tintura vermelha é feita com Mercúrio animado com o Sol.
113. É suficiente que a matéria, após a incerção, permaneça como um lute ou pasta.
114. Repita a incerção até que ela suporte uma prova perfeita.
115. Se o Mercúrio com o qual a Medicina é incerada se converte em fumaça e se perde, não vale nada; portanto, não o manipule mal, pois, nesse caso, a matéria regredirá.
116. A Medicina sendo devidamente incerada, explicará a você o Enigma do Rei que retorna da Fonte.
117. O Sol, sendo reduzido à sua primeira água ou Mercúrio, se for resfriado ou interrompido pelo Mercúrio comum, a obra perece.
118. Os Filósofos tomam a matéria preparada e cozida pela Natureza e a reduzem à sua prima materia; pois todas as coisas retornam à sua origem, assim como a neve é inseparavelmente resolvida em água.
119. Os sábios reduzem anos a meses, meses a semanas e semanas a dias.
120. A primeira cocção do Mercúrio, que a Natureza realiza, é a única causa de sua perfeição singular, além da qual ele não pode ascender por si mesmo; pois é necessário auxiliar sua simplicidade, semeando o Ouro em sua Terra apropriada, que não é outra coisa senão Mercúrio puro, que a Natureza digeriu apenas um pouco, mas não perfeitamente.
121. Na segunda cocção do Mercúrio, além da primeira feita pela Natureza, a virtude do Mercúrio é multiplicada dez vezes.
122. A Pedra é feita do Mercúrio pela repetição da cocção, com o Sol sendo misturado, pois, assim, tanto o macho quanto a fêmea são cozidos duas vezes.
123. O Sol deve ser adicionado ao Mercúrio, para que ele seja dissolvido em Enxofre, e então cozido na Pedra dos Filósofos.
124. Todos os Filósofos de todas as épocas contemplaram o Mercúrio, embora nem sempre o conhecessem ou o compreendessem.
125. Todo Mercúrio, de qualquer origem que seja, quando devidamente tomado e de forma correta, apresenta a matéria da Pedra.
126. Tudo o que contém Mercúrio pode ser o sujeito da Medicina Filosófica.
127. Aquele que entende os escritos dos Filósofos ao pé da letra está gravemente enganado quando afirmam que seu Mercúrio é um só.
128. Um Mercúrio supera o outro em calor, secura, cocção, pureza e perfeição, e deve ser preparado sem que sua forma se corrompa ou se perca; o tesouro e o segredo da Pedra estão justamente nisso.
129. Se a preparação do Mercúrio comum fosse conhecida pelos verdadeiros estudantes da Filosofia, eles não precisariam buscar outro Mercúrio dos Filósofos, nem outra aqua-vita metálica, nem outra Água da Pedra; pois a preparação do Mercúrio vulgar contém tudo isso em si mesma.
130. Cada Mercúrio de metais e minerais pode, por graus sucessivos, ser cozido e exaltado à qualidade dos Mercúrios de todos os outros corpos, até atingir um corpo solar; portanto, pode ser conduzido ao grau e virtude do corpo metálico que se desejar.
131. O Mercúrio comum, antes de uma preparação legítima, não é o Mercúrio dos Filósofos; mas, após a preparação, ele é chamado de Mercúrio dos Filósofos, contendo em si mesmo o verdadeiro caminho e método de extrair o Mercúrio dos outros metais; e é o início da Grande Obra.
132. O Mercúrio comum preparado é considerado a aqua-vita metálica.
133. O Mercúrio passivo e o Menstruo não devem perder de forma alguma a forma externa de Mercúrio.
134. Aquele que usa sublimado, pó calcinado ou precipitado em vez de Mercúrio fluido (para completar a Obra Filosófica) erra e está completamente enganado.
135. Aquele que dissolve o Mercúrio em uma água límpida, para completar a Obra Filosófica, está gravemente equivocado.
136. Produzir Mercúrio a partir de uma água límpida está além do poder de qualquer coisa, exceto da Natureza.
137. Na grande Obra Física, é absolutamente necessário que o Mercúrio cru dissolva o Ouro em Mercúrio.
138. Se o Mercúrio for reduzido a água, ele dissolve o Ouro em água; e, na obra da Pedra, é altamente necessário que o Ouro seja dissolvido em Mercúrio.
139. A semente e o Menstruo devem ter a mesma forma externa.
140. A doutrina dos Filósofos é que devemos irritar ou estimular a Natureza; portanto, se o Menstruo estiver seco, será em vão esperar por uma dissolução.
141. A semente da Pedra deve ser tomada em uma forma semelhante e próxima à dos metais.
142. É absolutamente necessário tomar a semente da Medicina Filosófica que se assemelha ao Mercúrio comum.
143. É o segredo dos segredos conhecer que o Mercúrio e a matéria são o Menstruo da Pedra, e que o Mercúrio dos corpos perfeitos é a forma.
144. O Mercúrio, por si só, não oferece nada de valor à geração.
145. O Mercúrio é o elemento da Terra, no qual a semente do Ouro deve ser semeada.
146. A semente do Ouro não é apenas destinada à multiplicação de sua quantidade, mas também de sua virtude.
147. Um Mercúrio perfeito requer um elemento feminino para a obra da geração.
148. Todo Mercúrio surge e participa de dois elementos: o cru vem da Água e da Terra; o cozido, do Fogo e do Ar.
149. Se alguém quiser preparar e exaltar o Mercúrio em um metal, deve-se adicionar a ele um pouco de fermento, para que seja exaltado ao grau metálico desejado.
150. O grande Arcano de toda a Obra é a dissolução física em Mercúrio e a redução à primeira matéria.
151. A dissolução do Sol deve ser realizada pela Natureza, e não pela obra das mãos.
152. Quando o Sol é unido ou casado ao seu Mercúrio, ele permanecerá na forma de Sol, mas a maior preparação estará na calx.
153. É uma questão entre os sábios se o Mercúrio da Lua, unido ao Mercúrio do Sol, pode ser usado no lugar do Menstruo Filosófico.
154. O Mercúrio da Lua possui uma natureza masculina, mas dois machos não podem gerar mais do que duas fêmeas.
155. O Elixir consiste nisso: deve ser extraído e escolhido de um Mercúrio puríssimo.
156. Quem deseja operar deve trabalhar na solução e sublimação dos dois Luminares.
157. O Ouro dá uma cor dourada; a Prata, uma cor prateada; mas aquele que souber tingir o Mercúrio com Sol ou Lua alcançou um grande Arcano.

F I M

Aqui você tem, caro leitor, esses cânones filosóficos, sem os quais dificilmente alcançarás o fim desejado. Se receberes estes fundamentos herméticos com uma mente grata e te exercitares nesta teoria com piedosa meditação, o tempo poderá, no futuro, dar-te a prática dessas regras, não uma prática imperfeita ou mutilada que mostrei a alguns, mas uma prática íntegra e completa, confirmada por muitos argumentos e sólidas razões. Por ora,

Adeus.

 

153 AFORISMOS ALQUÍMICOS

A todos os Amantes da ARTE QUÍMICA

Senhores,
Há cerca de um mês, recebi, entre outras coisas, esses 153 Aforismos Químicos, vindos de Amsterdã, onde foram recentemente impressos em latim, tendo sido transmitidos de Viena, como se percebe pela epístola do autor a seu amigo. Quando os li e os ponderei bem, com o pouco discernimento de que disponho, pensei que nada poderia ser mais gratificante aos Filhos da Arte do que publicá-los em inglês, o que fiz com todo o cuidado e exatidão possíveis.

Os outros 157 Cânones Filosóficos retirei de Bernardus G. Penotus, do porto de Aquitânia, onde estão inseridos junto com 115 curas famosas de Paracelso, a Epístola de Pontanus e outras coisas filosóficas, impressas no ano de 1582. Juntos, formam um compêndio da Arte Química e podem servir aos estudiosos como um vade mecum, ou pequeno companheiro de bolso, com o qual possam se entreter em seus momentos de retiro. Que possa ser tanto agradável quanto proveitoso aos discípulos de Hermes é o único desejo de,

Senhores,
Seu pronto servidor,
Chr. Packe

Da minha casa, na Placa do Globo e Fornalhas Químicas, na Postern Street, próximo à Moorgate.
8 de dezembro de 1687.

O AUTOR AO SEU AMIGO

Veja aqui, meu estimado amigo, parte de um certo excelente escrito, organizado em breves aforismos, como um compêndio de tudo o que os filósofos costumam observar sobre a grande Obra de sua Pedra. Não que todas as coisas sejam aqui expostas, pertencentes à descrição completa da Tintura Física; pois há mais ainda por vir, com as quais o autor pretende adornar este trabalho. Ele determinou fortalecer estes aforismos com a autoridade dos principais filósofos, explicando com precisão as semelhanças, figuras e outras formas obscuras e confusas de expressão que frequentemente surgem nos escritos dos filósofos.

Assim, no final, aquelas coisas que até agora foram entregues de maneira excessivamente intricada e confusa pela maioria dos escritores possam aparecer em alguma ordem metódica. Não obstante, o principal objetivo deste autor não é tanto expor ou apresentar suas próprias invenções, mas reduzir os ditos valiosos de outros à ordem; algo que ele submete voluntariamente ao julgamento e exame daqueles que avançaram mais do que ele na Arte.

Embora eu conheça o propósito do erudito autor, prefiro transmitir este pequeno trabalho a você, mesmo imperfeito como está, para que você o pondere e mande imprimir, a fim de que os Filhos da Arte não fiquem por mais tempo sem esta pequena ajuda, que pode fornecer luz àqueles que erram e se extraviam em meio às trevas. Que o autor possa julgar, a partir do resultado deste trabalho, se valerá a pena divulgar a obra inteira ao mundo. Adeus, meu bom amigo, e permita-me continuar a ter um lugar em sua consideração.

Datado em Viena,
2 de setembro de 1687.

153 Aforismos Químicos

Aforismo I. A Alquimia é o conhecimento perfeito de toda a Natureza e Arte, aplicado ao Reino dos Metais.
Aforismo II. Por causa de sua excelência, é chamada por muitos outros nomes.
Aforismo III. E foi primeiramente inventada por um certo Alchemus, como alguns acreditam.
Aforismo IV. Em todos os tempos, ela foi altamente estimada pelos Filósofos devido à sua grande utilidade.
Aforismo V. A ponto de os Adeptos, movidos pela compaixão, não quererem ocultá-la por completo.
Aforismo VI. No entanto, eles a transmitiram de forma confusa, enigmática e sob alegorias.
Aforismo VII. Para que não caísse nas mãos dos indignos.
Aforismo VIII. Mas para que fosse conhecida apenas por seus verdadeiros Filhos.
Aforismo IX. Com os quais os sofistas não teriam nenhuma relação.
Aforismo X. Por isso, esta Ciência é um Dom de Deus, que Ele concede a quem Lhe apraz.
Aforismo XI. Seja pela revelação de um amigo fiel ou iluminando o entendimento do investigador.
Aforismo XII. Aquele que busca essa ciência deve fazê-lo com oração, leitura diligente, meditação profunda e trabalho assíduo.
Aforismo XIII. Portanto, é necessário que o estudante desta Arte tenha um coração puro, caráter íntegro, firmeza de propósito e seja um guardião religioso dos segredos.
Aforismo XIV. Além disso, é preciso que tenha bom intelecto, saúde física e fortuna suficiente.
Aforismo XV. Porque esta Arte requer o homem por completo; uma vez descoberta, ela o possui, e uma vez possuída, liberta-o de todos os negócios longos e sérios, fazendo-o desprezar todas as outras coisas, considerando-as como estranhas e irrelevantes.
Aforismo XVI. As partes da Alquimia são duas, a saber: Teoria e Prática.
Aforismo XVII. Visto que a Arte nada pode fazer com os metais sem imitar a Natureza.
Aforismo XVIII. É necessário que o conhecimento da Natureza preceda o conhecimento da Arte.
Aforismo XIX. Assim, a Alquimia, no que se refere à Teoria, é uma ciência pela qual as origens, causas, propriedades e paixões de todos os metais são conhecidas em sua raiz; para que aqueles que são imperfeitos, incompletos, misturados e corruptos possam ser transmutados em verdadeiro Ouro.
Aforismo XX. Visto que a causa final na Física coincide com a forma, os princípios e causas dos metais são sua matéria, forma e causa eficiente.
Aforismo XXI. A matéria dos metais é remota ou próxima.
Aforismo XXII. A matéria remota são os raios do Sol e da Lua, cuja conjunção produz todos os compostos naturais.
Aforismo XXIII. A matéria próxima é o Enxofre e o Mercúrio, ou os raios do Sol e da Lua determinados para a produção metálica, sob a forma de uma certa substância úmida, unctuosa e viscosa.
Aforismo XXIV. Na união desse Enxofre e Mercúrio reside a forma dos metais.
Aforismo XXV. Visto que essa forma é variável, de acordo com o modo diverso da mistura e do grau de cocção, daí surgem diversos metais.
Aforismo XXVI. A Natureza apenas efetua essa união no interior da Terra, através de um calor temperado.
Aforismo XXVII. Da união dessa Água, surgem imediatamente duas propriedades ou paixões comuns a todos os metais, a saber: fusibilidade e extensibilidade.

Aforismo XXVIII. As causas da fusibilidade metálica são o mercúrio, tanto fixo quanto volátil, e o enxofre volátil, não fixo.
Aforismo XXIX. A causa da extensibilidade é a viscosidade ou aderência do mercúrio, seja ele fixo ou volátil.
Aforismo XXX. Os metais, portanto, são corpos minerais, de substância densa e compacta, com composição muito forte; fusíveis e extensíveis ao martelo em todas as direções.
Aforismo XXXI. Os metais geralmente são classificados em seis: ouro, prata, estanho, chumbo, cobre e ferro.
Aforismo XXXII. Destes, dois são perfeitos: ouro e prata.
Aforismo XXXIII. Os outros quatro são imperfeitos.
Aforismo XXXIV. Dois são macios: estanho e chumbo.
Aforismo XXXV. E dois são duros: cobre e ferro.
Aforismo XXXVI. A perfeição dos metais consiste na abundância de mercúrio e na uniformidade da substância, ou na união perfeita dos princípios, que é realizada por uma cocção longa e temperada.
Aforismo XXXVII. Daí surgem várias propriedades ou características que distinguem os metais perfeitos dos imperfeitos.
Aforismo XXXVIII. A primeira é que os metais perfeitos facilmente absorvem mercúrio, mas rejeitam enxofre.
Aforismo XXXIX. A segunda é que eles não são queimados ou inflamados, mas suportam o exame do copel e do cimento; ou, pelo menos, do primeiro.
Aforismo XL. A terceira é que as partes que os compõem, isto é, o úmido e o seco, não podem ser dissipadas, separadas ou destruídas pelo fogo, que dissolve todas as coisas.
Aforismo XLI. A quarta é que eles suportam a maior extensibilidade dentre todos os metais.
Aforismo XLII. A quinta é que são os mais pesados de todos os metais, exceto o chumbo em relação à prata.
Aforismo XLIII. A sexta é que, quando aquecidos ao rubro, emitem um brilho celeste ou azul; nem são derretidos antes de se tornarem incandescentes por algum tempo.
Aforismo XLIV. A sétima é que eles nunca contraem ferrugem.
Aforismo XLV. A imperfeição dos metais consiste na abundância de enxofre e na não conformidade de sua substância; ou na mistura imperfeita dos princípios devido a uma cocção breve, súbita ou intemperada.
Aforismo XLVI. Pelas características que surgem dessa água, a forma dos metais imperfeitos é claramente diferente das propriedades dos metais perfeitos.
Aforismo XLVII. A primeira delas é que os metais imperfeitos facilmente aceitam enxofre, mas não mercúrio, exceto quando diferem pouco dele, devido à sua coagulação imperfeita; como é o caso do estanho e do chumbo.
Aforismo XLVIII. A segunda é que eles são queimados e inflamados; nem suportam o teste do copel e do cimento.
Aforismo XLIX. A terceira é que suas partes essenciais (o úmido e o seco) são dissipadas e separadas pelo fogo.
Aforismo L. A quarta é que eles são menos extensíveis que os metais perfeitos.
Aforismo LI. A quinta é que eles são mais leves que os metais perfeitos, exceto o chumbo em relação à prata.
Aforismo LII. A sexta é que, quando aquecidos ao rubro, adquirem uma cor negra ou um branco brilhante; e são derretidos antes de se tornarem vermelhos, ou mais lentamente que os metais perfeitos.
Aforismo LIII. A sétima é que eles contraem ferrugem.

Aforismo LIV. O ouro é um metal perfeitamente digerido, de cor amarela, mudo (sem som), brilhante e o mais pesado de todos os metais, suportando o teste do copel e do cimento.
Aforismo LV. A prata é um metal menos perfeito que o ouro, mas mais perfeito que todos os demais metais, digerido, de um branco puro, limpo, sonoro e resistente ao copel.
Aforismo LVI. O estanho é um metal macio, digerido de forma imperfeita, branco, brilhante com uma certa tonalidade azulada, ligeiramente sonoro, e o mais leve de todos os metais.
Aforismo LVII. O chumbo é um metal macio, digerido de forma imperfeita, azulado, mudo e pesado.
Aforismo LVIII. O cobre é um metal duro, digerido de forma imperfeita, de uma tonalidade vermelha opaca, azulado e sonoro.
Aforismo LIX. O ferro é um metal duro, digerido de forma imperfeita, de um branco impuro, azulado, escurecendo-se e altamente sonoro.

Aforismo LX. Todos os metais, portanto, têm a mesma origem e surgem dos mesmos princípios.
Aforismo LXI. Eles não diferem entre si, exceto na quantidade e qualidade de seus princípios e na mistura, de acordo com o grau de sua cocção.
Aforismo LXII. Daí decorre que os metais imperfeitos possuem a predisposição para receber a forma dos metais perfeitos.
Aforismo LXIII. Contanto que sejam purificados de suas partes sulfúricas e heterogêneas, que são as causas de sua imperfeição, por meio de uma cocção perfeita.

Aforismo LXIV. Essa purificação pode ocorrer apenas pela Natureza, nas profundezas da Terra, ao longo do tempo.
Aforismo LXV. Ou pela mesma Natureza, instantaneamente, acima da Terra, com a ajuda da Arte.
Aforismo LXVI. Por meio da projeção de um medicamento, que, em um instante, penetra e tinge os metais imperfeitos quando derretidos, e o mercúrio é aquecido.
Aforismo LXVII. Essa transmutação dos metais imperfeitos em perfeitos, longe de ser apenas possível,
Aforismo LXVIII. É também verdadeira.
Aforismo LXIX. Isso é confirmado pela opinião comum dos Filósofos e pela experiência.
Aforismo LXX. Portanto, a Pedra ou o Medicamento dos Filósofos, por meio do qual essa transmutação é realizada, deve conter em si mesma a forma do ouro ou da prata comuns.
Aforismo LXXI. Pois, caso careça dessa forma, não poderia introduzi-la ativamente.
Aforismo LXXII. Todo composto natural distingue-se de outros compostos naturais por sua forma particular, realmente e efetivamente distinta de todas as outras formas de diferentes compostos naturais.
Aforismo LXXIII. Assim, entre todas as substâncias pertencentes a uma das três famílias da Natureza – a Vegetal, a Animal e a Mineral – apenas o ouro comum contém, em si mesmo, a forma, qualidades, acidentes, características e propriedades do ouro comum.
Aforismo LXXIV. Por isso, somente o ouro comum será o único sujeito do qual deve ser extraída a forma do ouro, para a composição da Pedra dos Filósofos.
Aforismo LXXV. O ouro comum é apenas simplesmente perfeito pela Natureza, ou seja, não possui perfeição além daquela necessária para ele, como ouro.
Aforismo LXXVI. E, portanto, não pode comunicar sua perfeição a outros metais imperfeitos.
Aforismo LXXVII. Assim, se trabalharmos para que o ouro comum introduza a forma do ouro nos metais imperfeitos, visando sua perfeição, é absolutamente necessário que o ouro comum se torne mais do que perfeito; ou seja, que adquira mais “aureidade” e virtude do que o necessário para a sua própria perfeição.
Aforismo LXXVIII. Nenhum composto natural pode ser tornado mais perfeito, a menos que seja novamente submetido às operações da Natureza.
Aforismo LXXIX. E sempre que isso ocorre, ele adquire uma forma mais perfeita em sua espécie.
Aforismo LXXX. Para que isso seja feito, é necessário dissolvê-lo em uma matéria semelhante àquela de que a Natureza o produziu mais proximamente.
Aforismo LXXXI. Pois, naturalmente, não há nova geração sem uma corrupção prévia.
Aforismo LXXXII. E visto que o ouro comum, como dito acima, tem sua origem mais próxima em uma umidade unctuosa e viscosa,
Aforismo LXXXIII. É evidente que ele não pode ser tornado mais do que perfeito, a menos que seja dissolvido em sua matéria original.
Aforismo LXXXIV. Todo agente natural assimila a si mesmo o paciente, seja em substância ou em qualidade.
Aforismo LXXXV. Portanto, para dissolver o ouro comum em uma substância úmida, unctuosa e viscosa, é necessário um agente também úmido, unctuoso e viscoso.
Aforismo LXXXVI. Não qualquer um, mas um que seja homogêneo e da mesma natureza do ouro.
Aforismo LXXXVII. Tal agente deve conter eminentemente a forma do ouro, ou ser capaz de obtê-la por uma nova especificação e determinação, quando se insinua particularmente no ouro comum.
Aforismo LXXXVIII. Pois, uma vez que ele deve misturar-se natural e radicalmente com os princípios do ouro, penetrando cada mínima parte dele, após a mistura, nenhuma separação poderá jamais ser feita.
Aforismo LXXXIX. De maneira que substâncias heterogêneas jamais poderiam unir-se dessa forma.
Aforismo XC. Além disso, esse agente deve ser mais sutil, mais ativo e mais espiritual do que o ouro comum; e, portanto, a primeira matéria do ouro.
Aforismo XCI. Pois nada pode ser naturalmente dissolvido, exceto por aquilo de que é composto.
Aforismo XCII. Concluímos, então, que nenhuma substância vegetal, animal ou mineral que não seja da natureza metálica (como pedras e sais), por qualquer artifício de depuração, preparação ou sutileza, pode tornar o ouro comum mais do que perfeito.
Aforismo XCIII. Nem os espíritos metálicos que não são da natureza do ouro; como o enxofre, o arsênico e outros minerais menores ou intermediários compostos deles, embora sejam mais sutis e ativos que o ouro.
Aforismo XCIV. Porque, sendo o ouro livre de todo enxofre, ele não admite tais espíritos.
Aforismo XCV. Embora a virtude e eficácia dos espíritos minerais sejam tão grandes no reino dos metais que não podem ser alterados senão por eles.
Aforismo XCVI. Portanto, para que o ouro comum, por meio de sua dissolução, possa ser tornado mais do que perfeito, com o objetivo de levar os metais imperfeitos à perfeição, é altamente necessário recorrer a um espírito metálico da mesma natureza que o ouro, capaz de unir-se a ele.

Aforismo XCVII. Ora, como foi dito anteriormente, o ouro comum nada mais é do que um argento-vivo puro, perfeitamente digerido pela Natureza nas minas da Terra.
Aforismo XCVIII. Conclui-se, portanto, que ele deve ser dissolvido e tornado mais do que perfeito não por qualquer espírito, mas apenas pelo argento-vivo cru e indigesto.
Aforismo XCIX. Mas não o argento-vivo comum, nem o extraído dos corpos, que é obtido dos metais.
Aforismo C. Embora o ouro tenha grande afinidade com esses tipos de argento-vivo.
Aforismo CI. Pois estes, por estarem muito próximos da natureza do ouro,
Aforismo CII. São apenas sujeitos de uma transmutação passiva.
Aforismo CIII. Na qual a Natureza deixou de operar de forma igual ao ouro.
Aforismo CIV. Portanto, por não serem a primeira matéria do ouro,
Aforismo CV. Eles não podem agir sobre ele.
Aforismo CVI. Mas sim pelo argento-vivo dos Filósofos; ou seja, aquela umidade natural unctuosa e viscosa que é a raiz de todos os metais.
Aforismo CVII. Essa semente metálica, como não é aparente aos nossos sentidos nas minas,
Aforismo CVIII. E visto que criar uma semente está além do poder do homem, sendo uma prerrogativa de Deus,
Aforismo CIX. Deduz-se necessariamente, a partir do que foi dito, que deve haver algum mineral que nos forneça esse Mercúrio dos Filósofos.
Aforismo CX. Esse mineral deve, portanto, aumentar a tintura, a fusibilidade e a penetração do ouro.
Aforismo CXI. E entre os minerais, nenhum outro aperfeiçoa a cor do ouro pálido, facilita seu fluxo e o torna mais penetrante além da antimonita.
Aforismo CXII. Portanto, a antimonita parece ser o único mineral do qual, e por meio do qual, se obtém o referido Mercúrio.
Aforismo CXIII. Contudo, como a antimonita não pode comunicar mais tintura ao ouro do que a perfeição natural do ouro exige,
Aforismo CXIV. E como o ouro, como já dissemos, deve ser tingido mais perfeitamente pelo Mercúrio dos Filósofos,
Aforismo CXV. Esse Mercúrio não pode ser obtido da antimonita sozinha.
Aforismo CXVI. Mas por meio dela, como um intermediário, a partir de outros corpos metálicos imperfeitos que abundam na tintura do ouro.
Aforismo CXVII. Dentre os quais existem apenas dois: Marte (ferro) e Vênus (cobre).
Aforismo CXVIII. Concluímos, portanto, que é a partir da antimonita, e com a ajuda de Marte e Vênus, que nosso Menstruo Real deve ser extraído pelo trabalho da Arte e da Natureza.
Aforismo CXIX. A antimonita, Marte e Vênus consistem em enxofre e mercúrio.
Aforismo CXX. O enxofre, como dissemos, é contrário à natureza do ouro, devido à sua unctuosidade, combustão e impureza terrosa.
Aforismo CXXI. Portanto, a matéria do nosso Menstruo deve, antes de tudo, ser purificada de seu enxofre combustível,
Aforismo CXXII. De modo que apenas o seu mercúrio sirva para nossa intenção.
Aforismo CXXIII. Esse mercúrio, sem qualquer preparação adicional, ao ser projetado sobre o ouro, não adere proveitosamente a ele, mas, como outros espíritos minerais, foge da força do fogo, deixando o ouro inalterado e impuro, ou levando-o consigo.
Aforismo CXXIV. Isso ocorre devido à aquosidade terrosa, impura e volátil que ainda existe nele.
Aforismo CXXV. Portanto, para que desse mercúrio possa ser feito o Mercúrio dos Filósofos, que se une ao ouro e o torna mais do que perfeito, é absolutamente necessário depurá-lo e livrá-lo de suas fezes.
Aforismo CXXVI. Nenhum composto natural pode ser purificado perfeitamente sem ser dissolvido.
Aforismo CXXVII. E toda dissolução de um composto natural termina na umidade da qual foi formado.
Aforismo CXXVIII. Assim, visto que a matéria do nosso Menstruo é metálica,
Aforismo CXXIX. E, como é evidente acima, surge de uma umidade unctuosa e viscosa,
Aforismo CXXX. É necessário, para sua purificação perfeita, que seja resolvida nessa umidade unctuosa e viscosa.

Aforismo CXXXI. Essa dissolução da matéria requer a sua calcinação prévia.
Aforismo CXXXII. Pois, naturalmente, nenhuma coisa seca é dissolvida em umidade, exceto o sal ou aquilo que, pela força do fogo, adquiriu natureza semelhante.
Aforismo CXXXIII. Nossa matéria, portanto, deve ser primeiro calcinada para ser adequada à dissolução.
Aforismo CXXXIV. Nenhuma dissolução total de um corpo seco previamente dissolvido em um licor pode ser completada, nem suas partes essenciais podem ser separadas, sem que ocorra a sua putrefação.
Aforismo CXXXV. Por isso, isso deve ser feito com a matéria do nosso Menstruo para a sua depuração completa, assim como com o ouro, para a sua mais-que-perfeição, como já foi mencionado.
Aforismo CXXXVI. Mas todo corpo úmido se corrompe e se putrefaz com um calor leve e gentil.
Aforismo CXXXVII. Portanto, nossa matéria, resolvida em uma substância úmida, viscosa e unctuosa, deve ser promovida e dissociada ainda mais por digestão.
Aforismo CXXXVIII. Dessa forma, as partes sutis podem ser elevadas das partes grosseiras, e o puro pode ser separado do impuro, por sublimação.
Aforismo CXXXIX. Para a realização dessas operações, a Natureza nos oferece apenas dois meios: o Fogo e a Água.
Aforismo CXL. As partes combustíveis e voláteis são separadas pelo Fogo.
Aforismo CXLI. Mas as partes terrosas e feculentas são separadas pela Água.
Aforismo CXLII. Na referida sublimação filosófica do mercúrio e na sua união com o ouro, através de várias dissoluções e coagulações, consiste a prática da Alquimia.
Aforismo CXLIII. Para que daí resulte um medicamento universal, extremamente potente na perfeição dos metais imperfeitos e na cura de todos os corpos doentes, sejam quais forem.
Aforismo CXLIV. Esse medicamento é comumente chamado Pedra dos Filósofos, porque resiste ao fogo.
Aforismo CXLV. E, por outras razões, também recebe vários outros nomes.
Aforismo CXLVI. A partir do que foi dito, a excelência química é corretamente definida como a elevação dos princípios metálicos, por meio de várias dissoluções e coagulações filosóficas, até o mais alto grau de perfeição.
Aforismo CXLVII. Pois, como a Natureza, no reino mineral, não prossegue além da perfeição do ouro comum,
Aforismo CXLVIII. Ela precisa ser assistida pela Arte, para que se torne mais do que perfeita.
Aforismo CXLIX. Portanto, a prática da Alquimia consiste, em geral, em duas operações: a preparação do Mercúrio dos Filósofos e a composição do Elixir ou Medicamento.
Aforismo CL. Embora essas operações não sejam muito difíceis,
Aforismo CLI. Elas, no entanto, não estão isentas de perigos e insucessos.
Aforismo CLII. Esses obstáculos só podem ser evitados pela indústria e por um artista experiente, corajoso e prudente.
Aforismo CLIII. E essas operações não exigem grandes despesas ou custos.

O CAMINHO INICIATICO NA CONSTRUÇÃO DA ESTRELA FLAMÍGERA

Ora et Labora in Silentium

Estrelas possuem um significado profundo. Desde os primórdios da civilização a humanidade mira os céus e seus astros. É a partir da contemplação intuitiva e de uma reflexão constante acerca de seu significado, que um vasto compêndio de concepções metafísicas e religiosas foi construído em praticamente todas as civilizações. Dos céus estelares derivam as divindades e a representação do paraíso celeste. Nas diversas concepções religiosas, aos céus ascende a essência imortal de todos os seres, pois para elevar-se no firmamento pressupõe-se a presença do vazio, da plena liberdade dos grilhões da matéria.

Estrelas são identificadas pela sua qualidade de lançar luz sobre as trevas. Presentes no firmamento elas representam a esperança do caminhante noturno, que segue adiante e com persistência o rumo do oriente e da aurora nascente. Nesse sentido, o obreiro Maçom segue a senda do aprendizado sob a abobada estrelada do Templo Maçônico. São também identificadas simbolicamente com o espírito, que se projeta na escuridão do inconsciente daquele que deverá despertar.

Todos os seres, sencientes ou não, possuem corpos mais sutis, que coexistem com o mais denso corpo físico, sendo que nosso próprio planeta Terra também assim se configura. Dentro dessa realidade, podemos afirmar que os demais entes celestes também emanam energia sutil, no âmbito de cada um dos sete planos de existência conhecidos (ou concebidos), sendo que tais vibrações acabam por influir em um outro grau, na própria percepção humana.

Desta feita, a representação do céu no Templo Maçônico, acaba por indicar, simbolicamente, a vibração das energias sutis que emanam do firmamento e auxiliam a senda de aprendizado do Maçom.

A senda Maçônica nos ensina que o Aprendiz ainda se encontra sob muita fraca luz, em plena noite de reflexões, sendo guiado apenas pelos céus estrelados, os Mestres do firmamento. Quando a aurora se aproxima, o avanço da escuridão dá lugar ao arauto do amanhecer. Já com a proximidade da alvorada, ao mirar o Oriente o Aprendiz que persistiu em caminhar na noite escura, galga um degrau a mais e torna-se Companheiro Maçom. Este agora deverá polir a recém lapidada pedra bruta, e reúne agora virtudes tenazes e suficientes para merecer lançar seu olhar em direção a estrela da manhã, que surge radiante e imponente no horizonte oriental, prenunciando a alvorada, que por sua vez dará lugar a poderosa luz solar vindoura. A pequena estrela da manhã se transmutara oportunamente no grandioso disco solar. A estrela guiara o agora Companheiro Maçom, tomando-o discípulo, ensinando-o acerca de seus deveres para com a humanidade acerca do valor do trabalho e do cultivo da Moral, das Virtudes e das Ciências

Esta estrela da manhã, que no esquema conceitual e referencial Maçônico, é denominada Estrela Flamígera, ou estrela de cinco pontas, ou ainda pentagrama, se constitui em um poderoso símbolo para aquele que adentra o umbral do templo e alça o seu segundo degrau. Tal símbolo procede das esferas de pensamento ideais e se manifesta em muitas tradições, dentre as quais, por exemplo, o pentagrama pitagórico, que expressa o símbolo central da Luz, do cerne místico, de onde o universo se expande. Ela vem representar o próprio homem que se regenera, em meio as trevas do mundo profano, e que faz uso do compasso e do esquadro em sua construção interna. No quadro do grau de do Companheiro Maçom, a Estrela Flamígera tem a letra G em seu centro, identificado com a letra hebraica iod, que representa o princípio divino no coração do iniciado.

O pentagrama possui ampla simbologia, mas sempre remete ao número cinco. Representa a união de dois opostos, o número dois (princípio feminino) e o três (princípio masculino), que em harmonia produzem o andrógino celeste, um microcosmo completo. Eliphas Levi cita o pentagrama como uma das chaves para as altas ciências ocultas, e Paracelso também o considerava um signo poderoso, tratando como representação do casamento espiritual entre o céu e a terra, transmitindo a perfeição. A baixa magia medieval também utilizava o poder implícito em signos pentagramáticos para os mais variados tipos de sortilégios. Citando, com reservas Ragon, Boucher escreve:

… ela era (a estrela flamígera), entre os egípcios, a imagem do filho de Isis e do Sol, autor das estações e emblema do movimento; desse Hórus, símbolo dessa matéria primeira, fonte inesgotável de vida, dessa fagulha do fogo sagrado, semente universal de todos os seres. Ela é, para os Maçons, o emblema do Gênio que eleva a alma a grandes coisas. O autor lembra que o Pentagrama era o símbolo favorito dos pitagóricos… Eles traçavam esse símbolo sobre suas cartas como forma de saudação, o que equivalia à palavra latina vale – passe bem. O pentagrama era ainda chamado de higia (de Higia ou Higéia, deusa da saúde) e as letras que compunham essa palavra eram colocadas em cada uma de suas pontas.

Aquele que agora alça mira pelos horizontes do saber tenta erguer sua ainda embaçada visão para o mais além, buscando respostas para perguntas inquietantes e aparentemente inatingíveis. Alguns desistem de olhar para o alto e acabam sendo tomados pela impaciência deixando-se cair no esquecimento e abandonando as técnicas de polimento da pedra bruta. Outros aprendem a trilhar a senda com paciência, deixando de lado o ego. É nesse momento, quando parece que a noite mais avança e a esperada aurora do conhecimento parece não chegar, que cabe mirar para o alto e procurar inspiração na luz estelar.

Sossegado o ego turbulento, abandonando-se ao vazio do mundo das formas, o Maçom que vislumbra os degraus a serem galgados na escada de Jacó poderá encontrar a estrela referencial. Esta escada tripartite representa a senda do homem celeste, e no seu primeiro nível referencial ensina ao Companheiro o valor do cultivo do equilíbrio, da equidade e da justiça. O segundo conjunto de degraus se relacionam aos sentidos concretos e abstratos que são inatos aos seres, e o último bloco, composto por sete degraus, remetem a apreciação e reverência às artes filosóficas e científicas.

O Maçom então acaba por descobrir que a estrela reflete a si mesmo e cabe aprender como construí-la dentro de si. O estudo disciplinado e o acúmulo de conceitos e referências podem fornecer ao estudante Maçom não só uma mudança de valores internos, mas uma profunda transformação no meio social em que vive. Da Teoria da Relatividade depreendemos que os corpos, sejam celestes ou não, mais massivos deformam o espaço-tempo a sua volta. De forma semelhante podemos afirmar que um tipo de “massa espiritual sutil”, acumulada pelo estudante Maçom, pode influir externamente, reverberando vibrações no meio em que ele vive. E tal massa espiritual se constitui das boas obras construídas, da vida sadia e fundada na ética, do respeito aos ditames da moral, do estudo regular, e da prática da ecologia interna. É o momento de reforçar o abandono dos vícios do corpo e da mente, focando na importância de viver equilibradamente, com temperança e austeridade.

O Grau do Companheiro é então o do cultivo, da Moral, das Ciências, e das Verdades. É o momento em que a semente que foi plantada no coração e desabrochou com o nascimento para a vida Maçônica, no grau de Aprendiz, começar a crescer e a frutificar.

A forma de construir a estrela interna passa pelo entendimento de alguns conceitos e da reflexão constante acerca deles. O Maçom é um construtor. Ele estuda e concebe a validade dos conceitos de construção como um referencial filosófico para a melhora de si mesmo. E a construção passa por um entendimento teórico e prático acerca das ciências éticas e filosóficas. No contexto das ciências filosóficas, se abrange o estudo da Geometria Sagrada, que é a expressão do mundo ideal das formas.

A Geometria Sagrada é uma das mais antigas ciências filosóficas. A simbologia geométrica era largamente utilizada por sistemas filosóficos ou religiosos que não admitiam a idolatria da figura de seres vivos. Dessa feita, as construções geométricas eram tratadas com sacralidade, pois reproduziam o próprio pensamento da divindade. Muitos conceitos matemáticos que são demonstrados modernamente por métodos algébricos, antes, na antiguidade, eram demonstrados e concebidos a partir de reflexões sobre construções geométricas.

A título de exemplo, tomemos a questão da quadratura do círculo. Este era um dos conceitos fundamentais para a escola Pitagórica na antiguidade, e que persiste até hoje. A quadratura do círculo se traduz pela transmutação da semicircunferência descrita pelo Sol (quadrante solar) no céu durante o dia, no polígono quadrático do templo na Terra ou mundo manifestado. Quando se projeta essa semicircunferência, definem-se os pontos cardeais no templo. Esse processo possui um aspecto importante a considerar: na matemática o procedimento geométrico e algébrico de construir um quadrado, usando régua e compasso, com a mesma área de um círculo dado é tarefa quase impossível porque envolve números irracionais, isso quer dizer que para encontrar a solução exata devemos transcender a assertividade dos números inteiros e racionais, e admitir números infinitos, ou irracionais, o que transcende a nossa compreensão da realidade. Fazendo uma analogia com este princípio, podemos dizer que realizar a quadratura do círculo, do ponto de vista filosófico, consiste em construir um modelo divino na matéria, fazendo uso de uma simbologia que não pode ser entendida concretamente, mas apenas intuitivamente, como fazemos na compreensão dos números irracionais.

Partindo dessa concepção, vamos propor um modelo de construção geométrica da Estrela Flamígera, baseada em conceitos geométricos básicos, associados a uma reflexão filosófica, simbólica e meditativa a cada um dos passos propostos. Tal associação não é absoluta e faz coro a inúmeras possibilidades de interpretação.

Existem muitas formas de construir geometricamente um polígono estrelado regular de cinco pontas (Estrela Flamígera). O método apresentado a seguir é bem conhecido no âmbito da teoria geométrica. Sugerimos uma postura meditativa acerca dos passos apresentados, cabendo ao leitor explorar o que hora é proposto fazendo associações com a sua própria experiência acumulada ao longo de sua senda de aprendizado.

000

I

Partiremos de um ponto, representação da unidade absoluta e sem dimensões, de onde tudo veio e para onde tudo retornará. Este ponto simboliza o ovo do mundo, o início da realidade negativa, o Ain Soph Aur cabalístico. É “a primeira diferenciação nas manifestações periódicas da Natureza eterna, sem sexo e infinita, ou o Espaço Potencial no Espaço Abstrato” (BLAVATSKY, SD, 4):

.

A emanação se inicia quando a divindade se vislumbra na eternidade e vem à tona o desejo de existir. Então dela emana uma linha. Este “é o símbolo da Mãe-Natureza, divina e imaculada, no Infinito absoluto, que abrange todas as coisas” (BLAVATSKY, SD, 5). A unidade é a harmonia entre o pensamento consciente e o inconsciente, onde pode haver um equilíbrio entre os opostos, do racional com o irracional, e de tudo o que é concreto com o mundo das formas abstratas.

Para efeitos práticos, vamos tornar a linha horizontal, como um segmento de reta AB, e a partir dela será desenvolvida a construção:

II

 “Quando o diametro horizontal se cruza com o vertical , o símbolo se converte na cruz do mundo, signo do começo da vida humana.” (BLAVSTKY, SD, 5). É o nascimento da natureza, principio feminino receptáculo de toda vida. Aqui surge a multiplicação e a síntese das formas. A dualidade arquetípica reúne toda a criação, mas também é o símbolo do conflito, pois é a marca de todas as ambivalências. Aqui uma reta r surge quando duas circunferências de raio AB e centro em A e B definem os pontos C e D:

III

Tracemos então uma terceira circunferência de raio AB, com centro em D. Note que ela passa pelos pontos A e B e intercepta as demais circunferências nos pontos E e F:

Com o terceiro círculo formamos a trindade, que representa a harmonia do absoluto manifestada em essência na matéria. Representa a trindade do ser vivo e o próprio intelecto da divindade. Assim como o dois é o número da terra o três é o do céu, representando ainda a perfeição, nada podendo a ele ser acrescentado. Para os cristãos, Deus é um em três pessoas, para os budistas a expressão da perfeição se dá na Joia Tripla – Buda, Darma, Sanga – , no hinduísmo a manifestação divina é tripla – Brama, Vishnu e Shiva – , os reis magos são três, que simbolizam as três funções do rei do mundo – rei, sacerdote e profeta – , personificada na pessoa do Cristo; as virtudes teologais são três e também são três os elementos da grande obra alquímica – enxofre, mercúrio e sal. Oswald Wirth escreve que

…os primeiros sephirot são classificados em três ternários. O primeiro é de ordem intelectual e corresponde ao pensamento puro ou ao espírito; inclui o Pai-Princípio, o Verbo-pensamento criador e virgem-Mãe que concebe e compreende – Keter, Hokhmah, Binah. O segundo ternário é de ordem moral e relativo ao sentimento e ao exercício da vontade, ou seja a alma; reúne a graça misericordiosa, o julgamento rigoroso e a beleza sensível – Hesed, Gevurah e Tiferet . O terceiro ternário é de ordem dinâmica: relaciona-se com a ação realizadora e, por isso com o corpo; engloba o princípio que dirige o progresso, a ordem correta da execução, e as energias realizadoras do plano – Netzah, Hod e Yesod (WIRTH, 70,72)

Este ternário universal se expressa por diversos símbolos gráficos, dentre os quais o mais simples é o triângulo. Este triângulo equilátero (representado na figura por CEF) é um importante símbolo maçônico, o Delta Luminoso, e representa a divindade, a harmonia e a proporção. O triângulo divino possui vértice superior com ângulo de 36º e os dois da base com 72º, sendo, portanto, isósceles, e associado ao elemento fogo – os demais possuem a seguinte associação: equilátero a terra, retângulo a água e escaleno ao ar. No entanto, o triângulo maçônico está associado ao número de ouro, com 108º no vértice superior e 36º em cada vértice da base, sendo então possível inscrever nele a estrela flamígera. Os triângulos mencionados relacionam seus ângulos internos numerologicamente ao 9, que é associado à sabedoria filosófica oculta.

Para a tradição judaica o três representa Deus, cujo nome não se pode pronunciar. Na alquimia representa o fogo e é associado ao coração. Um triângulo equilátero pode ser dividido em dois tornando-se a dualidade com dois triângulos retângulos. Na tradição pitagórica estes dois triângulos resultantes representam a dualidade espírito-matéria, sendo que Platão menciona no Timeu que o triângulo retângulo é uma representação da matéria, enquanto o equilátero é associado à divindade. Existe ainda a relação entre os triângulos que compõem o signo de Salomão, indicando a natureza divina e humana do Cristo, simbolizados pela montanha e pela caverna.

IV

O ponto G, de interseção entre a reta r, que foi a emanação da natureza, com a última circunferência formada vai definis as retas s e t:

Aqui temos o surgimento da cruz do mundo, formada pelas retas s e t, perpendiculares entre si. O número quatro é então associado a essa cruz e ao quadrado. Este número está relacionado à matéria sólida e tangível. Também podemos associá-lo ao mundo, representado pelo cruzamento das linhas paralelas e meridianas, indicando a totalidade da criação e do que foi revelado por Deus aos homens. São então quatro os pontos cardeais, os pilares do Universo, as fases da lua, as estações, os elementos, rios do Paraíso, as letras do nome de Deus – YHVH, sintetizando a mesma totalidade dos elementos, associando o Y ao homem, H ao Leão, V, ao touro e H à águia – e do primeiro homem – Adão. Para os pitagóricos representa a tétrada e a década (pela adição dos quatro primeiros números), representando a chave de um simbolismo numérico capaz de ordenar o mundo. Entre os dervixes e sufis, o adepto deveria transpor quatro portas em sua via iniciática para vencer os sentidos, estando cada porta associada a um dos elementos. O quatro surge então como um receptáculo de potencialidades, aguardando a manifestação do cinco, a evolução para uma outra forma de percepção da realidade.

V

Neste quinto passo definimos os pontos H e I como a intersecção das retas s e t com a duas primeiras circunferências originadas na emanação:

Com estes nove pontos distribuídos no desenho, temos que o ponto central representa o cinco. O cinco é a união de dois e três e está no meio dos nove primeiros números. Portanto é o símbolo da união, da harmonia e do equilíbrio, da ordem e da perfeição divinas. É o símbolo gráfico do homem, e do universo. Indica também os cinco sentidos e as formas sensíveis da matéria. É também a quintessência ou éter, que será transcendido até o seis, o homem individual em relação ao Homem Universal.

Para Santa Hildegarda de Bigen, citada por Davy, o homem

se divide, de comprido, i.e., do alto da cabeça aos pés, em cinco partes iguais; no sentido da largura, formada pelos braços estendidos da extremidade de uma das mãos à da outra, divide-se ele em cinco partes iguais. Levando em conta essas medidas iguais no comprimento e essas cinco medidas iguais na largura, o homem deve ser inscrito num quadrado perfeito. (DAVY, 170)

Ou seja, a quintessência é inscrita no mundo material. A obra de Deus encarna e seu corpo é uma reação da matéria à presença do Espírito. E Davy prossegue:

O pentagrama é o emblema do microcosmo e do andrógino. Nas miniaturas medievais, o homem microcosmo é muitas vezes representado de braços e pernas abertos, a fim de melhor indicar as cinco pontas do pentagrama. (DAVY, 170)

Essa figuração formam uma cruz com a interseção no peito do homem. Sendo o quadrado o símbolo da terra, o homem é a cruz no mundo. Esta imagem indica que o número cinco rege a estruturação do homem.

VI

Nesta sexta etapa os pontos H e I serão o centro de duas novas circunferências de raio AB:

O seis indica a oposição da criatura e do criador, porém não expressa exatamente uma oposição, mas antes uma distinção. Aqui o homem pode inclinar-se para o bem, visando união com Deus, como também para a revolta e o afastamento Dele. Este passo representa a perfeição do destino místico, expressa pelo símbolo gráfico dos seis triângulos equiláteros inscritos em um círculo, sendo cada lado de cada triângulo equivalente ao raio deste círculo, correspondendo o seis à quase exatamente a relação entre a circunferência e o raio (2π).

Disso resulta que não existe a perfeição correspondente, entre o homem encarnado e Deus, e isso faz do seis o número da prova entre o bem e o mal, da criação do discernimento intuitivo que emana da essência divina.

O seis é representado no I-Ching pelo hexagrama Song, que significa “carruagem atrelada com seis dragões”, que indica a ideia de Céu em ação sobre as águas, e que são também seis as influências celestes.

Outra importante simbologia é a identificada com a estrela de Davi, emblema de Israel e que carrega uma série de interpretações profundas, relacionadas a união de duas naturezas, uma ascendente e outra descendente, que são harmonizadas no centro. São dois triângulos imbricados (2 x 3 triângulos) e as vezes representados inscritos em uma circunferência.

VII

Chegamos a última etapa, onde devemos definir o ponto J, como sendo a interseção das últimas duas circunferências construídas. O ponto J é o emblema da consciência divina no homem.

As sete etapas nos convidam a meditar acerca da constituição oculta do homem, que se organiza em matéria e espírito. Essa constituição setenária do homem, popularizada entre os estudantes do oculto por Eliphas Levi e posteriormente Blavatsky, indica sete princípios diretores em cada ser, que deverão ser corretamente harmonizados a medida que se avança no aperfeiçoamento espiritual. Para fins práticos, verificamos a seguir o esquema proposto por Blavatsky, o qual pode ser identificado em muitas tradições esotéricas do ocidente e do oriente:

(*imagem adaptada de “A Chave da Teosofia”, de Helena P. Blavatsky).

Os veículos, que compõem a quadratura inferior e perecível tendem a se dissolver ou sublimar a medida que o processo de espiritualização avança. Só o que perene e duradouro é a trindade superior, a mônada imortal. A ponte dinâmica entre a trindade e a quadratura se designa por Anthakarana, – associado a escada de Jacó – a qual representa o esforço do Maçom enquanto esquadreja e faz polir a pedra bruta e realiza a obra de transmutação. Isso resulta no triângulo se sobrepondo ao quadrado inferior, tal como a abeta superior do avental do aprendiz se manifesta na consciência quando da sua ascensão ao Grau 2 assim dando segmento aos degraus superiores da escada do aprendizado.

O número sete está expresso em diversos símbolos e em muitas manifestações da natureza. Sete são os dias da semana, os graus da perfeição, as esferas ou graus celestes, os galhos da árvore cósmica, a totalidade das ordens planetárias e angélicas, magistralmente poetizado por Dante na Comédia, dentre muitas outras referências existentes. Os egípcios consideravam o sete como símbolo da vida eterna, e ainda como um ciclo completo de perfeição. Segundo Blavatsky, a soma dos sete primeiros números (1+2+3+4+5+6+7) soma 28, ou quatro ciclos de sete, correspondendo a atual idade da humanidade.

O número sete representa os lauréis da iniciação e indica o fim de um ciclo de mudanças. As iniciações são sempre um momento de transmutação e renovação. Se dão diariamente, na forma de pequenas iniciações quotidianas, que são um importante instrumento pedagógico, e que preparam para as raras grandes iniciações.

O sete está presente na estrela de seis pontas, se considerarmos o elemento central, que é equidistante a todas as partes. Aqui ele representa a totalidade do espaço e do tempo, o universo em movimento, pois a ele se dirigem as seis direções do espaço e mais o tempo.

A vida moral também é expressa no setenário, pois reúne as virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e cardeias – prudência, temperança, justiça e força. A própria essência da matéria também é expressa em sete vibrações, identificada, por exemplo, com as cores da luz visível e das notas musicais audíveis pelo atual estado da consciência humana. Hipocrates escreveu que “o número sete, por suas virtudes ocultas, mantém no ser, todas as coisas; da vida e movimento; influencía até mesmo os seres celestes”.

 Nos contos e fábulas geralmente encontramos sete personagens que grupalmente expressam algum estado de consciência, ou etapas de evolução: 1. Consciência do corpo físico: desejos satisfeitos de modo elementar e brutal; 2. Consciência da emoção: os impulsos tornam-se mais complexos com o sentimento e a imaginação; 3. Consciência da inteligência: o sujeito classifica, organiza e raciocina; 4. Consciência da intuição: as relações com o inconsciente são percebidas; 5. Consciência da espiritualidade: desprendimento da vida material; 6. Consciência da vontade: que faz com que o conhecimento passe para a ação; 7. Consciência da vida: que dirige toda atividade em direção à vida eterna e a salvação.

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Com esta construção chegamos ao pentágono plenamente definido pelos pontos ABHIJ e a partir de seus vértices inscrevemos o pentagrama ou Estrela Flamígera:

Apagando as linhas de construção, ou deixando que a intuição se sobreponha ao pensamento concreto, podemos vislumbrar o homem ideal e harmonicamente definido. A figura do homem vitruviano, definido pelo arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio e imortalizado pelo gênio Leonardo DaVinci representa a beleza das formas e a harmonia das proporções. Mas isso não se manifesta apenas no plano concreto. Tal símbolo nos convida a refletir acerca da harmonia entre a mente e o espírito. A mente é o instrumento de que dispomos para racionalizar acerca dos fatos, mas ela deve ser transcendida pela intuição e pelo não-pensamento, que é a forma de expressão do espírito. E a trilha iniciática de construção da Estrela Flamígera se traduz neste processo de investigação dos mistérios ocultos, que conduz o Maçom ao ouro filosofal.

AS FERRAMENTAS DO MESTRE

O potencial do espírito é praticamente infinito. O processo de manifestação dele neste mundo é permeado por um contínuo aperfeiçoamento, ou uma presença maior enquanto prossegue vivenciando experiências quotidianamente. Por bilhões de anos os espíritos seguem construindo sua maneira de interação com o mundo manifestado, e o artefato mental e intelectual de que dispõe, neste processo interativo, segue cada vez mais se aperfeiçoando.

O ser humano, bem como alguns outros seres, desenvolveu uma precisão notável ao lidar com os diversos materiais que o cercam. É só observar a capacidade de nossas mãos para lidar com tarefas que requeiram grande precisão. O cirurgião em seu ofício, por exemplo, faz uso de suas mãos em processos que requerem precisão milimétrica. A inteligência e a maturidade intelectual vêm acompanhadas da agudeza com que lidamos com a plasmação ou transformação dos objetos.

Com o tempo, os seres percebem que seus corpos são limitados, porém sua inteligência não. O intelecto reconhece que pode utilizar a matéria das mais diversas formas. Esta descoberta é uma reminiscência de sua vivência nas esferas celestiais, haja vista que lá, o mundo mental permitia plasticidade imediata sobre as formas. Aqui, no mundo da dureza manifestada, o Intelecto busca soluções para imitar a capacidade perdida de a tudo modificar. Só é possível então, a priori, submeter as formas materiais com o auxílio de ferramentas, sendo estas a extensão do intelecto agente.

Toda a capacidade humana de transformar o mundo manifestado se dá por intermédio do ferramental criado desde as eras históricas primordiais. E as ferramentas se desdobram em níveis de complexidade cada vez maior, sendo que algumas imitam tão bem o ser humano e seu intelecto, que por vezes até o supera. Mas tal superação se dá tão somente ao nível mental. Pois tais ferramentas nada mais são que projeções arquetípicas da vastíssima capacidade do espírito. Nenhuma delas pode imitar a presença divina que existe no ser humano. Mas há exceções, que fogem ao âmbito deste trabalho, e fica o convite ao leitor para se aprofundar na pesquisa.

Para o Maçom especulativo, o ferramental é baseado em símbolos correlacionados com o ofício de edificação do Templo. Tais ferramentas, são associadas ao ato de construir, mas no âmbito do interesse Maçom se referem à construção do Templo. Em princípio, na construção do Templo Interno, que se relaciona ao sistema de autoaperfeiçoamento moral, bem como de investigação das Leis inexploradas da Natureza, que são diretivas fundamentais no esquema referencial da Maçonaria.

Dito isto, podemos explorar o simbolismo de algumas ferramentas que são usualmente utilizadas pelo M⸫ M⸫ em seu ofício.

O Esquadro tem por objetivo tornar os corpos retificados ou quadrados. Segundo Jules Boucher o termo vem da raiz latina exquadra ou exquadrar que significa justamente esquadrejar. Como joia do Venerável Mestre, indica o 1º Logos ou Vontade criadora, a qual deve prevalecer sobre todo o restante da Loja ou do corpo maçônico. É também indicativo de que deverá atuar sob a égide da prática do que é Bom, Belo, Justo e Verdadeiro. Unindo duas perpendiculares, o esquadro também remete a ideia de equilíbrio e equidade, da justa Sabedoria que o Maçom deve adquirir, primando para que o espírito prevaleça sobre a matéria. Outro aspecto importante é que a figura do esquadro remete perfeitamente à proporção pitagórica, estando o lado direito do mesmo maior que o do esquerdo, indicando a prevalência do ativo (direito), sobre o passivo. Desta forma, o papel do Venerável é formar Maçons perfeitos, esquadrejando-os com o sentido de incutir-lhes as virtudes que os tornem retos ou virtuosos.

O Compasso remete a ideia de circunferência, pois é o instrumento utilizado na construção de tal objeto geométrico. Uma circunferência possui um centro, um ponto sem dimensão que representa o imanifestado, o princípio de toda criação, e uma linha periférica infinita que a define, representação do universo manifestado – finito, porém sem limites. As inúmeras circunferências que são possíveis de traçar com o instrumento indicam as várias amplitudes intelectuais de que o Maçom pode fazer uso, no correto entendimento acerca das Leis inexploradas da Natureza. A mobilidade do Compasso, que pode alterar sua angulação, o torna um elemento criativo. Aqui representa o homem, com dois braços unidos sob um centro pensante, capaz de dirigir as intenções e pensamentos. No grau de Mestre, o Compasso é aberto a 45º, indicando estabilidade mental, haja vista que com esta abertura ele não corre o risco de desliza, alterando a forma da circunferência, danificando-a. Neste caso, ao deslizar ou desvirtuar a abertura angular, haverá prejuízo a obra a ser construída.

Estando associados o Compasso e o Esquadro, no Grau de Mestre, ficará o primeiro sobreposto ao segundo, indicando a prevalência do espírito sobre a matéria.

O Mestre já domina o Malho e o Cinzel, porém é significativo que nunca se esqueça do sentido destes instrumentos, eis que a falta de hábito em lidar com eles pode resultar em um tipo de inércia intelectual, podendo o Mestre se tornar uma figura estagnada e caricata, apenas um arremedo do real sentido do Mestrado Maçônico. Assim, não esqueçamos que o Malho se refere a Vontade de criação, ou decisão pelo autoaperfeiçoamento, e o Cinzel com a agudeza mental necessária a investigação, a qual deverá estar sempre sendo esmerado pelo estudo e pesquisa, no estudo comparado das diversas filosofias, ciências, arte e religiões, dentro outras representações do pensamento humano.

Dois outros instrumentos são de significativa importância ao Mestre Maçom, eis que ele deverá, em um ou outro momento, personificando o indispensável simbolismo nos trabalhos em Loja. O primeiro deles é a Perpendicular ou Prumo, que ilumina o Segundo Vigilante, e que se relaciona a retidão da consciência e da profundidade de observação, que deve nortear o Maçom. Para Gedalge, “é o emblema da pesquisa, em profundidade, da verdade e do equilíbrio”, e o símbolo da retidão de pensamentos e de conduta. A perpendicular sempre busca o equilíbrio, logo também é relacionado a estabilidade dentro da Ordem. Segundo Mackey “é aquilo que está vertical e ereto, e sem inclinação nem para um ou outro lado, logo remete ao significado de Justiça, Fortaleza, Prudência e Temperança.  Já o segundo instrumento, que orna a faixa do Primeiro Vigilante, é indicativo da igualdade tanto original quanto social que deve ser cultivada na Maçonaria, devendo ser um dos princípios basilares a ser praticado e internalizado por todos os Irmãos. Segundo Nicola Aslan, o Nível indica noções de medida, imparcialidade, tolerância e igualdade, bem como o correto emprego dos conhecimentos, tutelados por este símbolo. Também é a representação do uso correto do conhecimento e da pesquisa da verdade.

Por fim falemos da Prancha de Traçar. Está simboliza o caráter pedagógico e administrativo do ofício do Mestre, pois além de estar no caminho do autoaperfeiçoamento, é responsável pela orientação e instrução aos Companheiros e Aprendizes. Daí a importância de o Mestre cultivar um caráter ilibado, haja vista que o ensino não se dará tão somente nas esferas intelectuais, mas também no âmbito moral e ético. A Prancha de Traçar também indica que o Mestre atuará em todos os aspectos diretivos da Loja, exercendo suas atribuições no ofício do planejamento e da administração.

Em algumas Lojas, a Prancha de Traçar é utilizada para organizar a chave do alfabeto maçônico, o qual indica ao Maçom que ele deve sempre expressar seu pensamento de maneira racional, simbolicamente representado pelo alfabeto maçom, isto significando que ele deve expressar seu modo de agir e pensar sempre “maçonicamente”, ou de maneira virtuosa.

O alfabeto maçônico, é sempre escrito com linhas retas, em esquadria, simbolizando o elemento material, que nosso pensamento está vivenciando, e nunca em linhas curvas, sendo que estas últimas indicam a espiritualidade, a qual não pode ser compreendida pela letra morta. Isso indica, nas palavras de Jules Boucher que “desta forma, o Maçom é convidado a libertar-se da letra para tratar do espírito”, ou seja, que transcendendo o racional o Maçom aperfeiçoa a linguagem intuitiva do espírito.

Cada instrumento reúne energias mentais poderosas, sendo que seu profundo arcabouço conceitual deverá ser motivo de meditação constante, a fim de que fique gravado no corpo mental do Maçom. Ciente de sua importância na formação do próprio caráter, e do seu real significado simbólico, o Mestre estará em condições de seguir se aperfeiçoando, tornando-se assim um referencial de mudança dentro do meio em que realiza a grande obra de transmutação interna.