Arte Real

Sic Transit Gloria Mundi

O SIMBOLISMO HERMÉTICO DA LUA CHEIA

Em várias tradições culturais mundo afora, os símbolos têm uma função central na interpretação do Universo e da vida. Dentre os diversos elementos simbólicos observados, a Lua ocupa uma posição de destaque, haja vista que, junto ao Sol, representa um arquétipo da divindade gravado desde tempos imemoriais na psique humana. A Lua Cheia, em particular, representa um simbolismo mais profundo. Cercada de poder e significado, é vista como um momento de ápice de revelações e transmutação de natureza espiritual.

Na tradição hermética, a Lua é considerada um tipo de reflexo da luz solar, representação da divindade, ou da essência do espírito puro e criador. Ao estar completamente iluminada, expressa o máximo de tal reflexão, sendo então indicativo do ápice do conhecimento espiritual, que neste momento está plenamente acessível à consciência humana. O hermetismo enfatiza que o mundo material é apenas um reflexo imperfeito do mundo espiritual. Analogamente a Lua Cheia como reflexo do Sol, representa a plenitude da expressão divina no mundo material.

A noite em si apresenta simbolismos diversos. Um deles a relaciona as trevas da ignorância, na qual o ser humano, afastado da consciência de sua verdadeira natureza espiritual, desconhece a sua verdadeira origem. Então cerimonias realizadas durante a Lua Cheia – presentes em várias tradições – tencionam despertar a consciência daqueles que a realizam, o despertar da natureza espiritual nas trevas da ignorância.

Tal simbolismo apresenta e traduz a ideia de que o ser humano, enquanto se esforça num processo de purificação e evolução interna, se torna mais capaz de ele próprio refletir a Luz Divina na matéria, ou ainda uma luminosa postura virtuosa no meio em que exerce suas ações. A metáfora da Lua Cheia indica, portanto, o estado em que o buscador da verdade se encontra em plena comunhão com o que é divino em si, sendo capaz de refletir, ou transmitir, a sabedoria em seus atos ao mundo material.

As fases que a Lua percorre, desde o estado de nova até cheia, representam a jornada do buscador da verdade, que desde as fases de escuridão e sublimação, atinge o ponto máximo de iluminação e conhecimento. E como a natureza é organizada por ciclos espirais ascendentes, após a fase de Cheia a Lua representa um ocaso de hibernação para iniciar um novo ciclo. Assim o adepto deve ter a consciência de que após um ciclo de aprendizado pleno na ação efetiva, vem uma fase de autoanálise e recomeço de um novo ciclo de aprendizado.

Mircea Eliade escreve que a Lua é um

“astro que cresce, decresce e desaparece, cuja vida depende da lei universal do vir-a-ser, do nascimento e da morte… a lua conhece uma história patética, semelhante à do homem… mas sua morte nunca é definitiva… Este eterno retorno às suas formas iniciais, esta periodicidade sem fim, fazem com que a Lua seja por excelência o astro dos ritmos da vida… Ela controla todos os planos cósmicos regidos pela lei do vir-a-ser cíclico: águas chuva, vegetação, fertilidade…” (Tratado da História das Religiões)

 Sendo também um símbolo dos ritmos biológicos, ela estabelece um parâmetro cultural importante, que expressa o tempo vivo, do qual ela é a medida, por suas fases regulares. Todos os ciclos regidos pela Lua, todas essas simetrias temporais e periódicas, foram percebidas intuitivamente pelos seres, desde os primórdios, marcando um dos primeiros parâmetros naturais de identificação do homem com os ciclos arquetípicos que regem e regulam a natureza.

Por três noites, durante a fase de nova, a Lua tem seu brilho anulado. Neste período ela simboliza aquele que está morto, que desapareceu do mundo manifestado e que voltará a vida após um período de renovação, como já dito. Aqui ela se identifica com o neófito em provação, com o aprendiz que desce aos submundos obscuros em busca da luz iniciática, ou com o Mestre que foi morto e oculto e desperta em um novo mundo.

Identificando-se com o que é frio e indireto, a Lua também simboliza o conhecimento teórico, antítese das ações práticas. Aqui a Lua se relaciona ao simbolismo da coruja, animal noturno e vigilante, capaz de ver sob as trevas, e que expressa simbolicamente as qualidades da razão.

 O elemento água se relaciona a Lua. Estatisticamente as chuvas vem em maior precipitação durante as fases de mudança, especificamente sob a cheia. Nesta fase, isso se processa devido a um aumento da pressão barométrica, o que resulta em maior capacidade da atmosfera em reter humidade, e consequentemente mais chuva. Esta relação profunda com a água, percebida desde os primórdios, relaciona a Lua com a fauna e flora aquáticas, com a produção de água, que irriga e floresce as colheitas e, consequentemente, com a fecundidade. As águas primordiais simbolizam o oceano de onde procede o mundo manifestado, o que justifica a Lua símbolo da fecundidade. Em algumas tradições a Lua também é chamada de Soma – a taça – que contém o líquido criador da imortalidade. Aqui fazemos relação da Lua com o útero materno, que contém a capacidade de gerar a manifestação do espírito na matéria.

As divindades femininas possuíam forte importância junto as tradições culturais antigas, e a Lua tem forte relação com o princípio feminino representado pelas deusas, tais como Isis, no Egito antigo, Artemis na Grécia, e Diana em Roma, dentre muitas outras. Nesse contexto, a Lua Cheia é o símbolo do auge do poder feminino, expressando fertilidade, intuição e sabedoria. Por séculos os cultos solares prevaleceram e a figura do Deus-Pai ofuscou a importância que o sagrado feminino deve ter para que haja o devido equilíbrio entre os opostos na natureza e na psique humana em particular. E como vivemos em um universo regido pela dualidade, está deve se fazer presente na construção do ser integrado à natureza. Para a tradição hermética, este equilíbrio é muito valorizado. Durante a Lua Cheia o princípio feminino está em sua maior força e na Lua Nova o que prevalece é o masculino. Muitas manifestações religiosas resgatam a presença da mãe do mundo como fator imprescindível na formação do ser integral.

Muitas tradições relacionam a Lua com alguma divindade ou com um ciclo natural, expressando positividade ou negatividade. No hinduísmo ela é o emblema de Shiva, a divindade transformadora, e regenerativa do universo. Ela também é relacionada a Diana e Hécate (na tradição romana antiga), que se identificam, respectivamente, às portas do céu e do inferno, conforme a tradição do deus Janos, que tem suas faces voltadas aos opostos. Para os chineses a Lua é relacionada ao princípio feminino Yin, símbolo da fecundidade. Entre os povos pré-colombianos ela assume muitos aspectos, mas no geral a relacionavam a criação e ao princípio formador das águas, a fecundidade e a proteção do princípio feminino em todas as coisas.

Em algumas culturas, no entanto a Lua é vista como uma divindade de natureza masculina. Otto Zerries, em sua obra “Os princípios arcaicos dos povos sul-americanos”, cita o caso dos índios gês do Brasil, para os quais a Lua é uma divindade de natureza masculina, e que não possui nenhuma relação com o Sol. Para alguns povos semitas a Lua é do sexo masculino e o Sol feminino, haja vista que algumas tribos nômades costumavam viajar a noite e tinham a Lua como seu guia e protetor. Inclusive a mudança periódica lunar inspirou os Judeus a adotá-la como seu símbolo, haja vista que durante muitos milênios foram um povo errante e que muitas vezes precisou modificar seu rumo migratório com regularidade, tal como a Lua o faz em seu deslocamento zodiacal anual.

O poeta Rumi escreve: “O Profeta reflete Deus como a Lua reflete a Luz do Sol. Também o místico que vive do brilho de Deus, se parece com a Lua, pela qual se guiam os peregrinos de noite”; sendo que na tradição islâmica a Lua adquire importante simbolismo, como um dos signos do poder de Alá e do cânone islâmico. Ela representa também a morte e a ressurreição (o crescente lunar).

A tradição hermética também considera a Lua Cheia como manifestação do inconsciente, da intuição e do lado mais emocional da psique humana. Indica também o momento de maior receptividade espiritual, em que as mensagens intuitivas e simbólicas do inconsciente se tornam mais claras. Neste período ocorre a gestação das ideias e da sabedoria oculta, que tende a se revelar de forma plena. A tradição celta acreditava que dormir ao relento sob a Lua Cheia, potencializa o contato com o mundo espiritual, daí a tradição de se construírem “torres de sonho”, onde o adepto dormitava e na alvorada recebia importantes ensinamentos e presságios desde o mundo sutil.

Outro aspecto interessante é o que relaciona a superfície lunar a todo um bestiário, segundo o que dita a imaginação de diferentes povos. Assim, cães, lebres, raposas, jaguares, ou até mesmo figuras humanas são indicadas como presentes na superfície lunar. Durante os eclipses lunares – quando a sombra da Terra obscurece a Lua – algumas culturas acreditam que a Lua está sendo devorada por alguma entidade extracósmica, razão pela qual fazem enorme estardalhaço para afugentar a criatura (este que escreve presenciou manifestações desse tipo, em sua já longínqua infância).

A Lua faz a volta completa no ciclo zodiacal em 28 dias. Assim, inicialmente a horoscopia era realizada levando em consideração o ciclo lunar, ao contrário da moderna astrologia, a qual considera o ciclo do Sol no zodíaco.

Este ciclo de 28 dias é considerado fator de suma importância em muitas tradições também. Sidarta Gautama meditou por 28 dias sob a figueira de Bodhi antes de atingir a iluminação do nirvana. Também entre os brâmanes existem 28 estados angélicos antes de se atingir a plenitude. Para os hebreus, as 14 falanges da mão direita têm relação com a Lua crescente e serve para abençoar, já as 14 da esquerda se relacionam com a mão esquerda e a lua minguante, simbolizando as maldições que esta pode lançar. As duas mãos juntas, com suas 28 falanges, são o símbolo do ciclo lunar.

O ciclo lunar remete aos de nascimento, crescimento, declínio, morte e renascimento. Para a tradição hermética o ciclo dos seres também se processa pela antítese entre o crescimento espiritual e escuridão e eventualmente iluminação. A Lua Cheia é identificada com a culminância desses ciclos, como se fosse um ponto de equilíbrio entre as forças opostas do universo.

As práticas alquímicas, muito presentes na tradição hermética tratam a Lua Cheia como a conclusão da obra, o instante em que o alquimista alcança a transmutação final. Assim a obra alquímica e o ciclo lunar se dariam da seguinte forma: a Lua Minguante e a Lua Nova estão interligadas ao “nigredo” ou a fase negra da decomposição alquímica. A Lua Crescente representa o “albedo” e a “citrinitas”, a fase de purificação e da iluminação; e por fim a Lua Cheia simboliza o “rubedo”, a fase final, quando a transmutação ocorre e a matéria é efetivamente transformada no ouro espiritual.

Luz e Sombra: Integração dos Opostos

 O universo apresenta uma constante tensão entre opostos. A luz e a escuridão, a consciência vigílica e o inconsciente, o espírito e a matéria são exemplos de onde podemos intuir esse embate. Quando a Lua Cheia ilumina o céu noturno, isso por si só constitui uma metáfora significativa da integração desses opostos, que temporariamente se tornam um. Esta harmonia temporária deverá ser definitiva quando o processo de autoaperfeiçoamento se concretizar, naquele que busca a verdade. É quando ocorrera a sublimação espiritual e a união do microcosmo humano com o macrocosmo universal. Esta união se constitui em um processo interno, que se dará no âmbito consciencial de cada um, e que encontrara a divindade dentro de si, evocando um dos princípios herméticos elementares: o da correspondência.

O processo hermético passa por esse reconhecimento de que a luz não pode existir sem o seu oposto. Desta forma, a Lua Cheia se torna um símbolo desse processo de unificação, no qual o sábio reconhece tanto os seus aspectos luminosos quanto os sombrios, de sua própria natureza. Então o brilho da Lua Cheia revela ao iniciado a escuridão que existe ao seu redor, indicando o conhecimento que ilumina as profundezas do inconsciente.

No simbolismo Maçônico, a Lua e o Sol são equilibrados pelo Venerável Mestre, fator de equanimidade entre os opostos, e que é o fiel da balança da justiça junto as antíteses, e que conduz a harmonia do Templo. Outro fator importante remete aos trabalhos maçônicos no âmbito do silêncio, da iluminação indireta, do mistério, e do equilíbrio entre luz e sombra.

Tal como no processo de transmutação alquímica, a Lua representa o processo de sublimação do Maçom. Ela não somente conduz o estudioso no caminho da iluminação, mas também indica a importância da postura intuitiva, silenciosa e reflexiva que todos devem assumir quando em Loja, o que auxilia na criação do templo interno que cada Maçom constrói em sua jornada.

Conclusão

 O ato de contemplar a Lua, livre das amarras da razão, deixando fluir apenas a intuição, nos proporciona epifanias profundas acerca da uma realidade oculta e muito particular a cada um. Este assombro ante a grandiosidade da criação fala direto a nossa alma imortal, e pode contribuir para a união e harmonia em cada ser, que é necessária para a construção do Templo Interno. Ali, neste mundo de percepção diferenciada, o sábio buscador da verdade encontra iluminação e transmutação, ao ouro dos filósofos.

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ALEXANDER SCRIABIN (1870-1915)

(Sylvia Cranston)

No seu prefácio ao livro de Faubion Bowers, The New Scriabin, o notável pianista russo Vladimir Ashkenazy escreveu:

“Considero Scriabin um dos maiores compositores… Sua música tem um idealismo único… A base do seu pensamento era uma fé e lealdade indestrutíveis à arte como meio de elevar o espírito humano e de mostrar a luz a bondade e a verdade. Embora não possamos dizer que sem compreender sua filosofia é impossível compreender a sua música, nós penetraremos mais profundamente na sua música se estudarmos aquilo que motivava Scriabin. Não podemos separar o homem-filósofo e o compositor de uma música tão bela.”

Qual era, então, a filosofia de Scriabin? Boris Schloezer, o biógrafo russo do compositor revela que a teosofia foi a única influência externa muito forte que ele sofreu. Na biografia em dois volumes de Faubion Bowers sobre Scriabin, encontramos informação detalhada a esse respeito.

De acordo com o relato de Bowers, no começo do século, Scriabin leu a tradução francesa de “A Chave Para a Teosofia”, de Helena Blavatsky (HPB), e escreveu nessa ocasião (5 de maio de 1905): “A Chave Para a Teosofia é um livro notável. Você ficará assombrado ao ver como ele se aproxima do meu pensamento”. Bowers escreve que “a partir deste momento, mais e mais amigos e seguidores dele foram atraidos para a Sociedade Teosófica”. Os seus colegas mencionam que, ao conversar, Scriabin citava a todo momento assuntos teosóficos e a personalidade de Blavatsky. Uma tradução em francês de A Doutrina Secreta era considerada um dos sens objetos mais preciosos.

Em 1922, o apartamento de Scriabin na Rússia foi transformado em museu do estado e restaurado de modo a ficar idêntico a como era durante a sua vida. Os seus livros, incluindo A Doutrina Secreta, foram localizados e readquiridos. Esse apartamento, diz Bowers, tinha uma tremenda influência na inspiração de jovens cmpositores e era “um local de reunião para a juventude”.

Após o seu contato com a teosofia, o trabalho de Scriabin passou a ter um forte tom místico. O musicólogo Gerald Abraham compara o primeiro trabalho orquestral do compositor, um concerto para piano composto em 1896-97, com a maior composição de Scriabin, sua quinta sinfonia, Prometheus, escrita em 1909-10, e comenta: “É difícil acreditar que em treze anos um compositor pudesse ter evoluido de um concerto elegante, gracioso, com um estilo semelhante ao de Chopin, Para um trabalho considerado nos seus dias como pertencendo à primeira fila da vanguarda renovadora”.

Bowers observa:

“Tem havido poucos compositores especificamente misticos como Scriabin. As contrapartes mais significativas não são encontradas na música, mas na poesia, com William Blake, ou na pintura, com Nicholas Roerich… A filosofia de Scriabin necessitava acima de tudo ser transubstanciada em música.”

O compositor desejava despertar novamente os seres humanos para os seus eus essenciais. Scriabin escreveu que “nos mistérios da antiguidade havia uma transfiguracão real, segredos e santidades reais”, mas “todos os nossos pequenos santos de hoje esqueceram completamente os seus antigos poderes”. Quando esses “pequenos santos” tentavam atacar Blavatsky e qualificá-la de fraudulenta, Scriabin defendia-a dizendo: “Todas as pessoas realmente grandes estão sujeitas a esse tipo de calúnia e ‘ignomínia’”.

Em 1987, a biografia escrita por Schloezer sobre Scriabin foi publicada pela primeira vez em inglês. Entre as muitas referências feitas à teosofia e a HPB em todo livro, Schloezer escreve:

“[Scriabin] sentia que seu próprio desenvolvimento devia-se muito à obra A Doutrina Secreta, da sra. Blavatsky; na verdade, ele sentiu uma admiração tremenda pela sra. Blavatsky até o fim da sua vida. Ele era particularmente fascinado pela coragem dela ao escrever uma síntese tão comparava à grandeza dos dramas musicais de Wagner… A visão teosófica do mundo serviu como incentivo para o seu próprio trabalho. “Eu não discutirei com você a verdade da teosofia”, disse ele a [Schloezer] em Moscou,“mas eu sei que as idéias da sra. Blavatsky auxiliaram-me no trabalho e deram-me forcas para cumprir a minha tarefa”.

CONSTRUINDO UM TEMPLO INTERNO

Um dos primeiros passos na caminhada do Maçom, em sua jornada, rumo a autoconsciência passa por uma misteriosa deferência por tudo o que é grandioso e desconhecido.

Esse é um passo importante. O assombro com a vastidão da natureza, do universo, do mistério da vida, inclina o Maçom ao desejo de expressar o que aprende, seja na forma escrita ou verbal, fazendo uso de sua própria percepção dos fenômenos concretos e de suas impressões metafísicas. Esta reflexão sobre o mundo é intuitiva, manifestando-se inicialmente por símbolos que se materializam em pensamentos e palavras.

O sistema da natureza, que o Maçom principia por desvelar, contém, em potencial, todo o conhecimento acerca da evolução do universo, de suas leis e quiçá de sua finalidade.

O desejo humano inicial de devotar reverência à natureza, expressa-se na construção de templos físicos de madeira e pedra, evoluindo até imponentes construções que atravessam o tempo e que carregam em si todo o sistema do mundo. O simbolismo presente nos templos, é a expressão da autoconsciência adquirida por seus criadores, que escreveram em pedra suas histórias de autodescoberta interior.

Templos verdadeiros não são construídos de forma aleatória. Respeitam o sistema inscrito na natureza e lançam o Maçom a uma profunda reflexão acerca do significado da existência. O Maçom então acaba se voltando para um trabalho de transmutação de si mesmo, evoluindo para o labor interno de construção de um tipo de templo em sua própria consciência.

Templos podem ser vistos como livros esculpidos, uma forma de arte com a qual podemos transmitir saber e conhecimento e expressar outras ideias, na forma de elementos simbólicos, que são um convite à reflexão. Em certo momento, o templo se torna um tipo de espelho, onde o Maçom vê a si próprio, vislumbrando um modelo do que deve ser internamente construído.

Todo templo é um reflexo do mundo divino, sendo a expressão ou réplica terrestre do arquétipo celeste, da imagem cósmica. Todo o universo é um templo que expressa a divindade e analogamente diremos que a alma humana é o templo do espírito.

A palavra templo está relacionada ao movimento aparente dos astros no firmamento. Para os romanos, a palavra latina templum significava “o setor celeste que a ágora romana delimitava com o auxílio de seu bastão e em que observava, seja os fenômenos naturais, seja a passagem dos pássaros, designando o lugar ou edifício sagrado, onde se praticava a observação do céu”. Já para os gregos o termo temenos, e que provinha do mesmo radical tem (que significa seccionar ou seccionado, dividir), era identificado como o local reservado aos deuses, que era sagrado e intocável. Com tal característica, o templo era também identificado com o centro do mundo, de onde todo o espaço nasce e circunscreve e nele se resume. Como manifestação da divindade, o templo é a cristalização da vontade celeste.

A planta do templo é normalmente quadrangular, sendo que a sua quadratura é obtida a partir de uma circunferência traçada em torno de um quadrante solar, e a sombra deste é que indica a direção dos eixos cardeais. Quando as direções são determinadas, o espaço e o tempo surgem e iniciam sua marcha, em um processo que imita a criação do mundo.

Para o Maçom ter pleno acesso ao conhecimento que circunscreve o templo, é necessário que ele realize a obra alquímica nele mesmo, vivendo em espírito o processo de autoconstrução. A própria arquitetura do Templo Maçônico é simbólica. Sua orientação é no sentido leste/oeste, com a entrada a Ocidente e o trono do Venerável Mestre a Oriente, sendo um modelo arquetípico que se expressa em muitas culturas. O interior representa o caminho que o Maçom deverá trilhar, desde o Ocidente ao Oriente, isto é, na direção da luz. O Templo Maçônico apresenta dimensões indefinidas que indicam sua identidade arquetípica, pois seu comprimento vai do Ocidente ao Oriente, sua largura segue do setentrião ao meridião, e sua altura do nadir ao zênite. O teto do Templo contém uma abobada constelada, que representa o céu noturno, e por detrás do trono do Venerável desponta o Delta Luminoso, trindade que a tudo vê.

O silêncio evocado no Templo Maçônico deve ser um convite à reflexão e a paz. Todo Maçom deve reverenciar o templo em silêncio. Assim como o Maçom é destituído dos sentidos ordinários ao partir para o Oriente eterno, devera observar o silêncio quando estiver na trilha simbólica iniciática que compõe o recinto sagrado do Templo. Assim, toda conduta inadequada deverá ser deixada de lado, e o Maçom deverá realizar uma profunda e reverente meditação antes de adentrar o Templo, elevando-se assim intuitivamente a outras esferas de pensamento.

No entanto, sabemos que a marcha do tempo, os ciclos da natureza e da história das civilizações, com suas marés, fluxos e reflexos, a tudo muda e transforma. Só o que é imortal é a tênue reminiscência de algo eterno presente em todos os seres.

A verdadeira paz interna, dispensa o que é destruído pelo tempo. O Maçom, com o tempo, passa a focar em sua própria substância essencial, que em si é duradoura. Os edifícios de pedra um dia se tornarão desnecessários. Não será nos altares de mármore que o Ser Imortal surgirá, e sim no átrio dourado do coração do Maçom que busca a verdade.

O mesmo silêncio encontrado nos templos de pedra pode ser encontrado na vastidão dos mares e campos, no ocaso dourado do sol, no brilho argênteo da lua e dos astros no firmamento. Existe um templo a nossa volta, tão grandioso que se estende desde a imensidão do universo até o centro invisível da consciência de cada ser vivo.

Em algum momento de seu caminho o Maçom começa a olhar para dentro de si. Começa a perceber que ele mesmo é um templo. Que é composto de muitas moradas, as quais são habitadas por muitas faces diferentes de si mesmo. Cabe adentrar em cada um destes cômodos, e afastar as cortinas que impedem que a luz adentre, e limpar e iluminar o recinto. Esta luz surge de dentro, de seu Eu Real e Superior, que é o habitante do templo interno. Esta é a verdade, partilhada por todos os seres e que pode ser amadurecida por um processo de autoconstrução.

Ao avançar no caminho do ensinamento contido nas obras clássicas, bem como no esforço interno em cultivar e preservar a verdade, o Maçom segue cristalizando o processo de aprendizado e a autoconstrução se consolida.

O sistema ético que o Maçom aos poucos constrói se torna um modo natural e automático de conduta no dia a dia. Aos poucos vai se afastando de coisas inúteis e preferindo a companhia do bem e da verdade.

Os semelhantes interagem e cooperam entre si, então é natural que o bom magnetismo acabe por congregar aqueles que tem por norma o cultivo da ética e do altruísmo. Se cada Maçom se torna um pequeno centro de boa vibração, isso contribui para que ocorra uma intensa transmutação na sociedade como um todo, que passa a cumprir corretamente o seu papel histórico.

Mahatma Gandhi, como tantos outros, ensina pelo exemplo, e definiu normas de conduta ao seu Ashran (mosteiro), que são a expressão de um profundo amor ao ideal sagrado de cumprir com os deveres apontados pela natureza humana. Ele escreve:

“Com toda humildade me esforçarei para ser amigo, verdadeiro, honesto e puro, para nada possuir de que não tenha necessidade, para merecer o salário do meu trabalho e ser eternamente vigilante naquilo que bebo e como, e para ser intrépido sempre, procurar ver sempre o bem no meu próximo, seguir fielmente o svadeshi (serviço altruísta) e ser um irmão para todos os meus irmãos.”

É certo que cada esforço, pequeno que seja, rumo a meta correta da justiça interna e externa, contribui para fortalecer o caráter interior. O cultivo do hábito da meditação, proporciona expansão da consciência e sintonia com o espírito imortal.

Além disso, o contato frequente com a natureza, e suas expressões (ventos, rios, florestas, terra e céu) favorece e amplia a percepção interior, a qual torna-se capaz de absorver as mensagens ocultas que a natureza expressa. Também é possível ter um vislumbre da harmonia sagrada existente no fluxo do tempo e nas muitas dimensões do espaço que nos circunda.

Aos poucos, o Maçom aprende a se tornar um pequeno templo; um pequeno espelho do universo, que representa a expressão da Lei Universal na escala da consciência humana. Este centro da consciência que desperta aos poucos, torna-se, com o tempo, um santuário onde pode adentrar com frequência, deixando do lado de fora todas as preocupações materiais.

Para viver como um templo, é preciso ter foco nas ações corretas, abandonando ou combatendo os males do mundo. É correto o auxílio à evolução dos demais seres, nossos irmãos de caminhada. E quanto mais nos conhecemos, mais podemos conhecer os outros seres, sendo possível dialogar diretamente com suas almas e mentes, por intermédio de uma linguagem sutil e intuitiva, característico dos veículos de Budhi-Manas[1] , conceituado pelo esoterismo oriental.

Cada um é uma fortaleza em construção. Não somos, porém, como uma dura e alta muralha. Guardamos tesouros em nossos corações a medida em que vamos acumulando experiência dentro de um processo constante de aprendizado, que pode se desdobrar em muitas esferas ou planos de existência, deste mundo manifestado ou do oriente eterno.

A vida do Maçom, passa a servir de exemplo impessoal. É um tesouro interno que se vai expandindo e acaba por cooptar os seres aptos a partilhar do mesmo magnetismo. Pois aqueles que congregam do mesmo ideal de vida em um templo, constituem a base da verdadeira felicidade, e da bem-aventurança incondicionada.

A Maçonaria tem a sua base no plano celeste e no espírito imortal de seus membros. O mundo que existe fora do templo é um campo de provações que deve ser corretamente trabalhado por aqueles que estão dedicados à prática do bem; é também um ideal de construção que proporciona a digna oportunidade de convívio e cooperação na construção do futuro da humanidade. A ela oferecemos nosso trabalho e nossas bênçãos.

[1] Budhi-Manas: correspondem aos dois veículos que, juntamente com Atma, compõem a trindade sagrada da tradição oriental. Estes veículos possuem correlação com a composição da essência divina dos seres, formada pela inteligência pura (Manas), intuição (Budhi), e essência divina (Atma), conforme o esquema a seguir:

(*imagem adaptada de “A Chave da Teosofia”, de Helena P. Blavatsky).

Os demais veículos, que compõem a quadratura inferior e perecível se dissolvem junto com o corpo físico. Só o que subsiste é a trindade, a mônada imortal. A ponte dinâmica entre a trindade e a quadratura se designa por Anthakarana, a qual representa o esforço do A⸫M⸫ enquanto esquadreja a pedra bruta e realiza a obra de transmutação, o que resulta no triângulo se sobrepondo ao quadrado inferior, assim dando segmento aos degraus superiores da escada do aprendizado.

TRANSIÇÃO DOS ESPÍRITOS OU O MISTÉRIO DA MORTE

(Éliphas Lévi)

Quando o homem adormece em seu último sono, primeiro cai numa espécie de sonho, antes de acordar do outro lado da vida.

Então cada um vê num belo sonho, ou num terrível pesadelo, o paraíso ou o inferno em que acreditou durante sua existência mortal.

Por isso, muitas vezes, a alma surpresa agita-se violentamente na vida que ela acaba de deixar, e os mortos, bem mortos, quando os enter-ramos, acordam vivos sob o túmulo.

Então a alma, não mais ousando morrer, consome-se em esforços inauditos para conservar a vida, de certa forma leguminosa, de seu cadáver.

Durante o sono, ela aspira o vigor fluídico dos vivos e transmite-o ao corpo enterrado cujos cabelos crescem como erva venenosa e cujo sangue vermelho colore os lábios.

Esses mortos tomaram-se vampiros; vivem conservados por uma doença póstuma que tem sua crise como as outras e que termina com convulsões horríveis durante as quais o vampiro, para tratar de aniquilar-se a si mesmo, devora os próprios braços e mãos.

As pessoas sujeitas ao pesadelo podem ter uma idéia do horror das visões infernais. Essas visões constituem o castigo de uma crença atroz e assediam, sobretudo, os crentes supersticiosos e os ascetas fanáticos. A imaginação criou algozes, e esses monstros, no delírio que ácompanha a morte, surgem para a alma com espantosa realidade, cercam-na, atacam-na e dilaceram-na, procurando devorá-la.

O sábio, ao contrário, é acolhido por visões felizes: acredita ver seus amigos de outrora surgir e sorrir-lhe. Mas tudo isso, dissemos, não passa de um sonho, e a alma não tarda a acordar.

Então, ela terá mudado de ambiente, está acima da atmosfera que se solidificou sob os pés do seu invólucro que se tornou mais leve. Esse invólucro é relativamente pesado; existem os que não podem elevar-se acima de seu novo chão; existem outros, pelo contrário, que sobem e planam à vontade no espaço, como águias.

Mas lacos de simpatia sempre os vinculam à terra onde viveram e onde sentem viver mais do que nunca porque, destruído o corpo que os isolava, têm consciência da vida universal e participam das alegrias e dos sofrimentos de todos os homens.

Eles vêem Deus tal como é, isto é, presente em toda parte na justeza infinita das leis da natureza, najustiça que sempre triunfa por meio de tudo que acontece, e na caridade infinita que é a comunhão dos eleitos. Eles sofrem, dissemos, mas têm esperança porque amam e estão felizes por sofrer. Desfrutam tranqüilamente da doce amargura do sacrifício e são os membros gloriosos, mas sempre sangrentos, da grande vítima etena.

Os espíritos, criados à imagem e à semelhança de Deus, são criaturas como ele; mas, como ele, só podem criar as suas imagens. As vontades audaciosas e desregradas produzem larvas e fantasmas. A imaginação tem o poder de formar coagulações aéreas e eletromagnéticas que refletem os pensamentos durante um momento e, sobretudo, os erros do homem ou do círculo de homens que os põe no mundo. Essas criações de abortos excêntricos esgotam a razão e a vida dos que os fazem nascer e têm por caráter geral a estupidez e a maleficência, porque são os tristes frutos da vontade desregrada.

Os que não cultivaram a inteligência durante sua existência continuam, após a morte, em estado de torpor e de adormecimento, cheios de angústias e de inquietação. Mal recobram a consciência de si mesmos, estão no vazio e na noite, não podendo nem subir nem descer, e incapazes de corresponder-se, seja com o céu, seja com a Terra. Eles são, pouco a pouco, tirados desse estado pelos eleitos que os instruem, consolam e esclarecem. Depois, conseguem ser admitidos para novas provas cuja natureza nos é desconhecida, pois é impossível que o mesmo homem renasça duas vezes na mesma Terra. Uma folha de árvore, uma vez caída, não se liga mais ao galho. A larva torna-se borboleta, mas a borboleta jamais volta a ser larva. A natureza fecha as portas após tudo o que passa e impulsiona a vida para a frente. O mesmo pedaço de pão não pode ser comido e digerido duas vezes. As formas passam, o pensamento permanece e jamais retoma o que utilizou uma vez.

A LINGUAGEM MAÇÔNICA

(Jorge Adoun)

A Maçonaria tem uma linguagem para expressar suas ideias, que se chama “o simbolismo”. Cada símbolo tem sete significados.

O maçom deve procurar conhecer e compreender perfeitamente o idioma simbólico.

Os símbolos maçônicos são ricos em ensinamentos de elevadas significações intelectuais, filosóficas, científicas, morais, espirituais e práticas.

Todos os maçons devem trabalhar para descobrir as ideias que representam os símbolos, porque nestas ideias se encontra a verdade, e a verdade nos fará livres.

Cada grau tem sua instrução simbólica especial, porém, sua base é uma só, e radica-se no grau de aprendiz.

A Maçonaria é um fato da natureza, que se repete diariamente em todos os seres conscientes e inconscientes, para o seu aperfeiçoamento físico, intelectual, moral e espiritual.

O trabalho do aprendiz consiste em desbastar a pedra bruta, isto é, em dominar suas paixões, eliminar suas imperfeições e seus vícios, aperfeiçoar seu espírito, retirando com a razão (cinzel) e com a vontade firme (malho) todas as asperezas que possam originar perturbações na sociedade ou na instituição. Por tal motivo, o aprendiz acode à luz que iluminou sua inteligência na iniciação.

O maçom atua sempre com equidade e franqueza (sinais), com linguagem leal e sincera (palavras), com obras e fraternal solicitude (toques) para com seus irmãos.

Loja justa e perfeita é a que conta sempre com sete irmãos, dos quais cinco devem ser mestres, representando as cinco luzes: o venerável, os dois vigilantes, o orador e o secretário. Representam os cinco sentidos dentro do corpo.

Essas três luzes são: a sabedoria (do Ven, simbolizada pela estátua de Minerva); A força (do 1° Vig, pela estátua de Hércules que está no Ocidente); a beleza (representada pelo 2° Vig e a seu lado a estátua de Vênus Citérea). Em suma, essas três luzes são, a trindade divina no cosmo e no homem: Pai, Mãe, Filho; fé, esperança, ca-ridade; poder, saber, movimento etc.

As horas do trabalho maçônico (meio-dia; meia-noite) significam que o homem deve chegar à mais alta iluminação para poder trabalhar para o bem da humanidade. Meio-dia é a hora luminosa do Sol.

A Maçonaria é uma escola iniciática, uma academia de aprendizagem tradicional e universal, que aspira ao magistério da verdade e ao exercício da virtude, começando o iniciado por estudar-se a si mesmo. Então começa o verdadeiro trabalho na pedra bruta, e a renovação de seu próprio “Eu”, que é do grau de aprendiz.

A Maçonaria é a ciência positiva que determina o critério da verdade e forma novos homens de espírito ele-vado, de convicções firmes, consciência reta e moral sem mancha…

O MALHO E O CINZEL

O Universo veio a se manifestar a partir de uma misteriosa vontade criadora. Ela se desdobrou em vários níveis, desde o centro, gerando todos os sucessivos planos de existência, até o nosso estado atual cristalizado na matéria. Tal afirmação surge a partir do testemunho de inúmeros sábios e mestres, que aperfeiçoaram seus sentidos intuitivos por longo esforço. Esse desejo por autoformação e evolução é inato a todos os seres, sejam eles sencientes ou não. Em todos os reinos, quais sejam o mineral, o vegetal, o animal, o humano e o divino, os seres avançam em um misterioso processo de autoconstrução e auto-organização.

Embora o universo físico caminhe para um estado de desordem, segundo as leis da termodinâmica, ao que parece, no plano mental, o contrário se processa. Se tudo o que permeia o universo possui o tecido mental, este parece estar se refinando e aperfeiçoando à medida que o mencionado tecido físico e concreto segue em constante desordem. Este refinamento mental e espiritual tem um avanço que se assemelha figurativamente a forma de uma espiral ascendente, a qual obedece a ciclos históricos que se repetem, porém com distinção.

Os seres tomam para si a tarefa de auto organização e auto aperfeiçoamento, regidos por um tipo de inteligência superior diretora – que está presente em todos – , e que fornece as diretivas corretas de acordo com a necessidade de aprendizado de cada ser. Sabemos que a evolução natural dos seres segue de acordo com as regras de aperfeiçoamento descritas por Darwin, e segundo Carl Jung, a mente – individual e coletiva – também segue evoluindo em um processo semelhante, aprendendo e se aperfeiçoando, e adaptando-se ao meio em que vive.

De onde vem a vontade de construir-se e melhorar-se é assunto a ser tratado por especulações metafísicas profundas e que dependem da particularidade intuitiva concernente a cada ser. O certo é que o anseio pelo autoaperfeiçoamento parece ser característica inata aos seres e pode ter sido incluído como chave essencial no drama da existência. Tal chave parece ser então o principal motivador para a ascensão dos seres a planos superiores de existência, que ainda fogem a capacidade perceptiva dos limites racionais dos seres humanos.

A Maçonaria é constituída por um sistema baseado em profundo simbolismo, que foi construído ao longo dos séculos a partir da percepção intuitiva das verdades universais da natureza. Nesse aspecto, a Maçonaria é aberta a todos aqueles que desejam se iniciar no mistério da construção do Templo Interno. A história Maçônica ainda está sendo estudada e escrita, mas as suas bases filosóficas estão muito bem fundamentadas, representando um magnifico sistema de aperfeiçoamento, oportunizando que os seus membros explorem um conhecimento iniciático antiquíssimo que os põe em contato com as leis fundamentais do espírito e da matéria. Tais leis da natureza, se investigadas com profunda meditação, revelam a ignota relação existente entre o plano concreto e os superiores, nos quais o espírito habita e do qual reverberam as verdades universais, no dizer de Hermes: “assim na terra como no céu”.

O esquema de referência simbólica Maçônico inicia com a abertura das portas do Templo Interno do Aprendiz na ocasião de sua iniciação. Neste impactante momento, o Aprendiz é induzido a um processo de reconexão com sua essência divina, visitando os interiores de sua consciência e renascendo para um novo ciclo de aprendizado e existência. O Aprendiz Maçom está apenas iniciando sua jornada montanha acima, e nesse caminho ascendente, deverá aprender a dar seus primeiros passos operando e fazendo uso de suas primeiras ferramentas simbólicas de trabalho: o Malho e o Cinzel, que expressam uma necessidade primordial a todo aspirante ao caminho da sabedoria, que é a formação e forja do próprio caráter, e da prática rotineira das virtudes, com a criação de um modo de vida austero e quase estoico. Estes instrumentos do primeiro grau refletem a primordial vontade criadora do desejo de autoconstrução.

O Malho (em francês mailiet, da antiga palavra francesa mail, ou ainda do latim maileus, significando massa ou martelo) é representado como símbolo sagrado em muitas culturas mundo a fora, e principalmente é associado à força de destruição ou transformação do raio celeste. É o instrumento do deus nórdico das tempestades, Thor (palavra escandinava que é uma contração de Thonar, e que quer dizer trovão), que era considerado amigo dos agricultores, pois anunciava as tempestades e a chuva, que beneficiavam a colheita e a fertilidade. É também o instrumento de trabalho, e iniciação formadora, segundo os gregos, com que a divindade grega Hefestos fabrica os utensílios e armas mágicas dos deuses olímpicos. O encontramos ainda na iconografia hindu associado ao deus Ghantakarma, como destruidor do mal e da ignorância; na mitologia japonesa, como instrumento da divindade Daikoku, que representa a riqueza e faz uso do martelo para criar ouro filosófico; ou ainda no gaulês Sucellus e no irlandês Dagda, que o utilizam como poder criador. Numerosos cultos indo-europeus se utilizam do Malho ou Martelo como símbolo solar ou do raio.

Curioso é ainda observar que algumas culturas fazem o uso do Malho no decurso de cerimônias matrimonias, fúnebres ou de iniciação de jovens. Talvez como símbolo do despertar da consciência que se evoca nestas pequenas iniciações.

Uma interessante lenda Lituana – talvez o último refúgio do paganismo puro em solo europeu – expressa bem o arquétipo primordial do Malho, que subliminarmente permeia as culturas mundo afora: outrora não se viu o Sol durante vários meses; um rei muito poderoso o havia capturado e aprisionado na fortaleza a mais inexpugnável. Mas os signos do zodíaco vieram em socorro do Sol; eles despedaçaram a torre com um martelo muito grande e assim libertaram o Sol e o entregaram aos homens; esse instrumento merece, portanto, veneração, pois através dele a luz foi dada aos mortais. Luz esta que derrete as neves do inverno e anuncia a primavera.

Com o Malho, e em conjunto com o Cinzel, o Aprendiz Maçom deverá “desbastar a pedra bruta”, traduzindo-se este ato simbólico como auto educar-se. A Pedra Bruta é o discípulo ainda tomado pela ignorância e por suas paixões egóicas. O Malho pode ser encarado com o mesmo modo operativo do machado de dois gumes. O ato de desferi-lo sobre o material requer o soerguimento inicial em direção à própria fronte do Aprendiz. Isto quer dizer que antes de desferir o golpe, cabe tocar a testa, morada do terceiro olho ou da consciência, a fim de despertar a mesma.

O Malho também representa a inteligência perseverante, que anima o pensamento silencioso e meditativo acerca da obra, e a vontade, a energia que ativamente penetra a matéria da consciência, necessária para encerrar os vícios em masmorras definitivas. No entanto, não deve ser tratado como uma massa bruta e inerte, mas a plena representação da vontade imaterial, que é sempre firme e perseverante.

O homem precisa de um instrumento para aplicar a sua vontade sobre a obra. Daí o papel do Cinzel (do latim cisellus, derivado do latim, coesellus, de coedere, cortar), é o instrumento intermediário da vontade espiritual que induz ao discernimento, ao bom senso e a agudeza intelectual necessária para desvelar as sutilezas da personalidade, que contribuem para o autoengano e o consequente falseamento da ascensão espiritual. Sem a intervenção do Malho, o Cinzel torna-se inútil, vão e até perigoso, pois não possui uma vontade consciente o dirigindo. Cabe à vontade ativa agir, por intermédio da mão direita ativa e atuante. O Cinzel é o princípio intermediário entre a vontade ativa e o efetivo trabalho que penetra e modifica a pedra bruta, sendo esta última o princípio passivo. É a manifestação da vontade plasmadora no mundo das formas, como raio descendente na árvore da vida que se desdobra desde a coroa criadora até o reino material. O Cinzel deverá manter-se sempre amolado, isto é, cabe ao Aprendiz manter sempre em constante aperfeiçoamento os conhecimentos adquiridos, pois o esquecimento é um adversário perigoso.

Malho e Cinzel também podem ser relacionados a dualidade cósmica ativa e passiva que é uma das Leis fundamentais da natureza, presente em todo o universo. Ragon escreve que “o Malho é o emblema do trabalho e da força material, ajuda a derrubar obstáculos e a superar as dificuldades. O Cinzel é o emblema da Escultura, da Arquitetura e das Belas Artes: seu uso seria quase nulo sem o concurso do Malho. Do ponto de vista intelectual eles concorrem para um mesmo objetivo; o Malho, emblema da lógica, sem a qual não podemos raciocinar corretamente, e que não pode ser dispensada por nenhuma ciência, precisa do Cinzel, que é a imagem da causticidade dos argumentos com os quais conseguimos destruir os sofismas do erro. Disso resulta que esses símbolos representam as Belas- Artes e várias profissões industriais, e a lógica, elementos próprios para tornar o homem independente”.

 Segundo Oswald Wirth: “dois instrumentos são inseparáveis (para talhar a Pedra bruta). O primeiro representa as soluções aprisionadas em nosso espírito: é o Cinzel de aço, que é aplicado sobre a Pedra, seguro pela mão esquerda, lado passivo, que corresponde à receptividade intelectual, ao discernimento especulativo. O outro representa a vontade que executa: é o Malho, insígnia do comando, que a mão direita, o lado ativo, brande, e está relacionado com a energia que age e com a determinação moral, cujo resultado é a realização prática”.

Malho e Cinzel agem juntos e de forma descontinua. Entre uma e outra aplicação das ferramentas sobre a Pedra Bruta cabe uma pausa necessária a reflexão acerca do aprendizado adquirido. Toda caminhada se processa em ciclos de avanço e pausa. A constância e a temperança são virtudes irmãs e todo Aprendiz deve respeitar o seu próprio tempo e processo interno.

 Cabe também observar que alguns ritos associam ainda a régua de vinte e quatro polegadas ao trabalho do Aprendiz. A régua é símbolo de precisão e exatidão, e expressa a necessidade de se observar as práticas virtuosas nas vinte e quatro horas do dia. É a lembrança de que o Aprendiz deve ter a consciência e a atitude maçônica presente em todos os seus atos.

O Maçom começa sua caminhada como Aprendiz e prossegue nesta mesma pedagogia de autoaprendizado por todo o seu caminho nos graus subsequentes. A jornada é a mesma do herói mitológico que sai de sua zona de conforto e desce pelos caminhos desconhecidos de sua própria personalidade, trabalhando no Sacro Ofício (ou sacrifício) de dominar seu ego e suas paixões, enquanto trava batalhas internas pela conquista de si mesmo, da mítica Jerusalém Celeste onde haverá de construir o sagrado Templo Interno. Será vitorioso, quando ao final, após inúmeras lições, reencontrar a sua própria e imortal essência divina, o verdadeiro ouro filosófico.

A ELEVAÇÃO

No momento em que o Sol completa um ciclo zodiacal, após um longo percurso, em trânsito pelas sete esferas celestes, o Aprendiz é convocado por sua própria consciência a se declarar apto ao processo cerimonial de Elevação ao segundo grau da senda Maçônica.

Falamos de completar um ciclo zodiacal em referência a uma analogia com os trabalhos internos que o Aprendiz deve conduzir. E os sete céus ou esferas celestes remetem a profunda reflexão em cada um dos sete aspectos que constituem o indivíduo. Tal como Hercules que vencerá seus doze trabalhos, o Aprendiz deverá ter observado o interior de sua personalidade, esquadrejando a pedra bruta de que é composto, e impondo controle a si próprio.

Como um alquimista que realizou a obra em negro, com o subjugo dos elementos terra e água, cabe agora dar um importante passo em sua senda iniciática.

Transpor o umbral que leva ao segundo grau é reconhecer que agora o trabalho alquímico se dará nas esferas mais sutis de consciência. É o momento de começar a trabalhar a psique interna. No dizer da Helena Blavatsky, deverá confrontar e impor controle sobre o seu mental concreto – ou mental racional e egoísta – e sobre o epicentro de suas emoções de natureza animal.

É o momento de iniciar o despertar da consciência, pois esta surge da dualidade. A consciência surge no universo a partir do contraste entre a atividade e o repouso, entre o silêncio o som de uma nota musical, parafraseando Pitágoras.

Por isso o segundo grau é associado ao confronto e a incerteza. Vencer a personalidade se configura em um dos maiores desafios ao Maçom. Somos compostos de diversos veículos que juntos compõem o que chamamos de ser, e estes se subdividem em inferiores e superiores. O trabalho do construtor sagrado é edificar o pleno acesso aos seus aspectos superiores, por intermédio do ferramental que é constituído por seus veículos inferiores. Quando tudo está harmonicamente equilibrado, o ser superior pode reinar sob si próprio e finalmente existir em paz.

Mas é improvável que nossos veículos inferiores não lutem para garantir que sua natureza egóica prevaleça neste campo de batalha sagrado que somos cada um de nós. Por isso tantos Irmãos preferem subsistir sob a tutela de seus veículos inferiores, mostrando-se adormecidos para os ideais edificante e atemporais da Maçonaria.

O agora Companheiro Maçom deve estar preparado para persistir no confronto. Por isso afirmamos que o trabalho será realizado agora sob o elemento ar. O Maçom, agora trabalhando como um alquimista, deverá observar a fluidez de suas emoções, que normalmente dominam ao sabor do vento soprado pelo ego. Deverá procurar criar o habito de observar-se a si mesmo, como um divino médico. Perscrutando e meditando sob si próprio deverá verificar qual remédio é o mais apropriado para cuidar de alguma enfermidade da alma que for descobrindo. Normalmente um vício é curado com a virtude que lhe é a antítese. Assim, o avarento deverá se curar com a generosidade, o iracundo com a amabilidade, o luxurioso com a decência, o pedante com a simplicidade, e assim por diante.

Tantos Maçons adormecem neste grau por justamente – ou injustamente – não terem tido forças ou apoio suficientes para superar os seus confrontos internos. E o combate é árduo, todos reconhecemos isso. Lutar contra si próprio é o supremo trabalho do Maçom em sua senda. Tal como narrado no clássico atemporal Baghavad Gita, quando o guerreiro Arjuna, antes da batalha na planície de Kuru, pede auxílio e conselhos ao divino Senhor Krishna, devemos também olhar ao nosso divino ser inspirador, que nos acompanha por toda a existência, e a quem nem sempre rendemos as devidas graças e deferências. Se nos colocarmos submissos a vontade Dele, deste nosso Ser Espiritual e superior, sairemos vitoriosos e melhor preparados para ingressar aos graus superiores da Divina Maçonaria.

Jorge Adoum escreve que a Elevação é um processo iluminado, pois o Aprendiz já conheceu o caminho ascensional. E esta visão clara e iluminada deverá ser aperfeiçoada no segundo grau para que o Maçom proceda o estudo e o aprofundamento da natureza do pensamento, da consciência, da inteligência, da vontade e do livre-arbítrio.

Muitos são os símbolos que serão apresentados ao Aprendiz durante o cerimonial de elevação, e a natureza de cada um deles será apresentada no decorrer das demais lições deste livro.

Com os ensinamentos de seu Mestre Interno, o Aprendiz agora está apto a receber melhor salário e conhecimentos mais aprofundados. Tornou-se um artífice da superação e deverá continuar a seguir o caminho guiado pelo seu Mestre, porque apesar dos progressos feitos na Maçonaria, ainda possui passos incertos e sujeitos a erros, necessitando de apoio e de orientação.

O MAÇOM E O TEMPO

Nada, pois, nos resta, se não uma parcela
mínima do Todo que desconhecemos,
e é nela que o formigueiro humano se agita,
 organiza e desorganiza, para depois se reorganizar,
até que um dia, no destino do planeta
que habita, com ele se dispersa no Espaço …
como poeira fecunda de outros seres,
que lhe sucedem no Tempo …

Augusto de Lima

 

Devemos trabalhar desde o meio-dia até a meia noite, sob o fluxo dos astros incrustados na esfera celeste, percorrendo uma senda cíclica por sob o ciclo zodiacal. O caminho iniciático sobre a esfera celeste configura um ciclo sagrado de trabalho. A execução do ritual em Loja é a manifestação de um tempo sagrado, em que o processo alquímico de transformação se constrói. Atuando nas esferas psíquicas sutis, a execução da Loja pode proporcionar profunda transformação no modo em que o Maçom percebe as várias esferas de consciência. A marcha no templo conduz das trevas a luz.

Considerar o tempo como algo sagrado consiste em transcender os conceitos usuais e trabalhar o fluxo do tempo como algo diferente, que perpassa mais as esferas de consciência e memória do que o cronológico ritmo do espaço-tempo.

Uma postura mágica perante o tempo implica em transformação da consciência para uma nova visão de mundo. Assim, trabalhar do Meio-Dia até a Meia Noite é uma jornada iniciática a ser desenvolvida dentro e fora do Templo. No Templo Maçônico incorporamos a experiência ao subconsciente. E no Templo Maçônico Interno que cada Maçom se torna, a prática do trabalho desde o Meio-Dia até a Meia Noite, deve ser realizada sob profunda reflexão.

A melhor forma de encarar o tempo como uma oportunidade sagrada é a correta observância aos fluxos em Loja. A circulação rotineira de energias em Loja é baseada no fluxo do tempo psíquico, pois a experiência astral de cada Irmão é partilhada por todos os demais. Cabe a cada um tomar com serenidade suas atribuições no trabalho da oficina, executando seu papel com a devida referência pelo cargo que ocupa. E se não ocupa cargo, que observe a reverência e a serenidade do momento, pois assim conseguira ser partícipe do fluxo de energias em Loja.

Acerca do assunto J. M. Ragon escreve:

A explicação corrente, apenas aceitável para um homem que tem espírito crítico, é que o homem aprende durante a primeira parte de sua vida e é somente quando chega ao meio-dia existência é que ele se torna útil à comunidade. Mas então, meia-noite corresponde à morte, as horas antes do meio-dia são visivelmente mais fecundas e úteis que os anos enfraquecidos da velhice.

 A Astrologia traz uma significação muito mais profunda a esta fórmula. Sabe-se que por analogia com a divisão do ano em doze meses ou signos, a Astrologia divide o dia em doze casas ou correntes astrais, possuindo cada uma o seu caráter nitidamente determinado. Neste sistema, meio-dia corresponde à X casa, o pôr do sol à VII e meia-noite à IV.

 Ao meio-dia, o Sol sai da X casa horoscópica, a dos negócios e da situação social, para voltar a entrar na IX, a da religião e do impulso espiritual. O homem, portanto, despe-se das coisas exteriores para voltar-se para o interior de si mesmo, para um mundo sutil e não material. A X casa é a dos negócios e das distinções sociais que é preciso abandonar ao serem abertos trabalhos de caráter filosófico, caráter que é da própria essência da IX casa.

 Depois da IX, o Sol atravessa a VIII casa, a da morte, da desagregação do antigo e do nascimento sobre um plano superior. Vários astrólogos deram a esta parte do céu (e só a esta parte) o sentido da Iniciação. Depois vem a VII casa, a do amor não físico, da dedicação e da vida social. Nascido num plano novo, o Maçom traz aqui o seu óbolo à Sociedade, tanto mais que a VI, que é a casa horoscópica seguinte, é a do serviço. Pode-se interpretar também esta passagem da VII à VI casa horoscópica como indício de que o Maçom não espera recompensa de sua ação social, mas que se prepara, ao contrário, para encontrar os espinhos da VI casa. O que quer que seja, desse serviço nasce a criação, que é a síntese da V casa depois da qual o ciclo termina pela IV, cujo sentido principal é o fim das coisas.

 Portanto, esta curta fórmula ritualística já oferece o resumo da evolução iniciática, sem falar de cada parte do dia, que possui uma influência real, mas ainda pouco conhecida pela nossa ciência, pois esta influência começa apenas a ser estudada pela astrofísica. Os longínquos criadores do nosso Ritual tomavam certamente em consideração esta variação do influxo cósmico no decorrer do dia, de maneira que as horas do Trabalho Maçônico tinham não somente o significado esotérico que acabamos de indicar, mas também constituem a prova consciente das forças cósmicas em vista da Iniciação…

O senso comum concebe o tempo como sendo constituído de ciclos ou idade. E para o Maçom uma única vida se desdobra em várias idades menores. Nos primeiros anos ou décadas de nossas vidas, dificilmente refletimos acerca do que vem a ser o tempo. Inicialmente o vemos como algo incomensurável e que parecemos ter de sobra. Como crianças ansiosas, imaginamos que “sempre haverá tempo”. A ansiedade infantil parece pretender imitar a vida adulta em sua imaginação, com jogos, e brincadeiras, como forma de perpetuar seus sonhos em projeções futuras.

Conforme os anos quedam nas faces daqueles minimamente despertos, em suas consciências se intensifica a necessidade de refletir sobre o tempo. Alguns observam o tempo fluir com esperança, outros acabam deixando a questão de lado e o veem como algo indiferente. Outros mais optam por digladiar-se contra ele, tomando-o como um adversário cruel que faz escoar os parcos dias que restam. Assim, desdobram-se em falsas soluções milagrosas que prometem estender indefinidamente a vida física. Entretanto, parece não haver solução para a velhice, pois ela se configura em uma lei natural. O corpo e a mente envelhecem, cansam e se desgastam juntos, e existe uma verdade natural inevitável que nos faz prestar obediência à lei dos ciclos de atividade e descanso.

Para algumas abordagens mais científicas e rigorosas, o tempo é o intervalo linear entre dois eventos distintos. Aqui a ideia de tempo linear, regido por equações matemáticas, invoca a ideia de previsibilidade. Uma supermente poderia abarcar todo o conhecimento matemático e equacionável que envolve o universo e poderia perfeitamente prever o comportamento dos mais diversos sistemas físicos. Poderia também essa supermente prever o comportamento dos sistemas humanos? Algumas especulações indicam que o comportamento de grandes massas humanas pode ser deduzido, sendo possível a demonstração de certas tendências de comportamento futuro.

O Maçom, entretanto, não deve se considerar como partícipe de uma grande massa de manobra. Ele é um operador de transformação social no mundo concreto, e um atanor alquímico nas esferas mais abstratas, onde constrói o templo interno, imagem do Universo.

Tempo e espaço são dois conceitos atrelados. Nossa percepção de objetos no espaço esta associada ao dimensionamento. Podemos associar vários objetos materiais que se apresentam em nosso dia a dia e a partir deles construir ideias mais amplas em nosso processo de interação quotidiana. Nossa ideia usual de tempo é semelhante. Tendemos a dimensionar o tempo como uma sucessão múltipla de eventos. Para nós o tempo parece fluir por um meio homogêneo no qual os fatos vão se justapondo e se alinhando. Nossos relógios de pulso externalizam bem tal conceito. Tais dispositivos, entretanto, não medem tempo. Na verdade, o que medem são espaços entre as divisões do display. Não podemos afirmar que o intervalo entre dois eventos é, a rigor, preciso, pois entre um e outro parâmetro de aferição, como um segundo, por exemplo, existem infinitos pontos cristalizados.

O tempo não pode ser encarado como uma sucessão de intervalos, mas como algo que flui de forma contínua, como o escoar de um rio ou um fluxo de luz ou calor. Talvez o giro contínuo dos ponteiros do segundo dos antigos relógios a corda seja uma representação mais real do fluir do tempo, do que os saltos nervosos dos ponteiros nos relógios modernos, a quartzo.

Abordagens científicas modernas passaram a considerar o tempo como função da consciência do observador. O tempo e a própria realidade só existiriam a partir do ponto de vista do observador e suas experiências assim definem o que vem a ser o sentido passado>presente>futuro.

Cada ser, no entanto, é resultado de incontáveis experiências e memórias. Esse é o sentido e o tecido do que entendemos por tempo psicológico. A consciência pode se concentrar no ínfimo momento que é o presente, e existir rigorosamente nele, sendo que tal realidade é baseada nas memórias e experiências já vividas.

Estudos recentes também sugerem que seres de espécies distintas, percebem o passar do tempo de maneira diferente. Suas consciências são responsáveis pela forma que interagem e experimentam o mundo, dentro de suas realidades. Se tal concepção se estende a individualidade então cada ser é único e um universo em si.

O tempo psicológico possui natureza circular, emulando a dinâmica da própria natureza. Por outro lado, a imobilidade de um círculo existe em seu centro. Analogamente, os seres manifestam sua existência em tempo circular, sendo que em essência possuem imobilidade.

Em uma construção geométrica, é justamente o eixo central o que possibilita o movimento de todo o resto. A essência do ser manifesta-se por intermédio do movimento que emana a partir de sua essência ou Eu Superior. Esta roda cíclica implacável pode parecer angustiante, mas é uma fonte inesgotável de aprendizado.

Talvez, ao mirar nossos relógios, em suas formas normalmente circulares, sejamos tomados dessa angústia temporal que nos escraviza. Ao contar horas e minutos entre os eventos, vendo o tempo escorrer por entre os ponteiros, cabe lembrar que a consciência transcende o movimento. Isso remete à ideia de concentração – de estar no centro.

Temos inúmeras tarefas ao longo de uma vida. Elas vão surgindo à medida que a consciência avança em sua experiência diária. Cada vez que chegamos a um ponto de nossa jornada, estamos aptos a encarar um novo desafio. Um ancião poderia pensar que uma vida inteira parece ser curta para as muitas tarefas que já realizou e que poderia realizar ainda mais. Na natureza, entretanto, tudo é corretamente mensurado, e cada um recebe o exato quinhão necessário para as tarefas que deverá realizar e para o que deverá aprender. Não existe desperdício no universo. E tampouco distribuição aleatória de responsabilidades. Existe um tipo de administração atemporal que emana do Eu Superior.

A marcha de cada um segue por uma teia enorme de adversidades. Cada Maçom flui por muitos extremos de pesquisa e por leituras diversas. Aprende com os clássicos e com o pensamento de muitos que expressaram sua forma de perceber a verdade interna do mundo. Ante tal vastidão de conhecimento, produzido ao longo de séculos, é normal se sentir pequeno, deprimido e incapaz de abarcar a imensidão da sabedoria. É como tentar olhar em minúcia o disco solar. A grandiosidade da sabedoria malmente desvelada pode ofuscar.

A luminosidade intensa do sol não permite a sua observação direta. Para estudar o sol é necessário investigá-lo em partes. A intensa luminosidade da sabedoria eterna também ofusca a limitada compreensão humana, que só pode aprofundar-se em alguns ramos de seu estudo. O estudante Maçom sabe que deve fazer uso de alguns filtros internos para descobrir a que deve seguir se dedicando. Isso tem a ver com o seu momento presente.

Tudo vem no tempo certo. Assim, é importante refletir bem acerca das metas e prioridades que temos. Confrontar o que queremos realizar com o que de fato realizamos, é um exercício de sabedoria.

Sêneca escreveu que:

“A vida é longa o bastante e nos foi generosamente concedida para a execução de ações as mais importantes, caso toda ela seja bem aplicada. Porém, quando se dilui no luxo e na preguiça, quando não é despendida em nada de bom, somente então, compelidos pela necessidade derradeira, aquela que não havíamos percebido possuir, sentimos que já passou, É assim que acontece: não recebemos uma vida breve, mas a fazemos; dela não somos carentes mas pródigos.”

É importante focar a mente no que é correto e racionalizar bem o tempo de que dispomos. A distribuição de tarefas deve estar de acordo com o que escolhemos para realizar em nossas vidas. O segredo de se levar a uma vida feliz consiste em congregar nossas habilidades com a satisfação em realizar uma tarefa útil a si e aos demais. Quando se incorpora este bom sentimento, o foco no trabalho passa a ser natural, e a ilusão do passar do tempo se desfaz.

Afirma-se que o tempo é relativo e sua duração depende da tarefa que se realiza. Entrar em um tipo de estado de fluxo mental, em uma tarefa que se tem afinidade, desfaz a ilusão do tempo.

Cada um que vai realizando descobertas sobre si mesmo tem um compromisso com o ideal de construção do futuro. Este futuro floresce a partir do reencontro com as potencialidades inatas de cada um. As tarefas corretas surgem por primeiro de um centro interno de motivação, de um certo entusiasmo que cada um vê florescer. Trata-se de um reencontro com aquilo que existe em nós, que é sagrado e intuitivamente tomado como verdadeiro. É o reencontro com o centro da roda do tempo.

Mesmo após um estafante dia de trabalho, encontramos justamente no entusiasmo a energia necessária para continuar este processo de descoberta de um equilíbrio interno.

O cansaço rotineiro por vezes tende a prejudicar uma tarefa. Porém, a vontade maior de persistir no aprendizado e de realizar boas ações, busca energias em reservas secretas. É justamente o contato com as dimensões infinitas de pensamento, que proporciona a motivação que surge de forma espontânea e surpreendente.

A duração de uma vida passa a ser suficiente, pois entendemos que estamos aprendendo as coisas necessárias. A ilusão de que o tempo é escasso desaparece. Essa ilusão é um grande obstáculo para o aprendizado

Cada ser é um ponto infinito que possui, em potencial todo o conhecimento acerca da existência. Algumas leis básicas são compreendidas e elas parecem permear a todo o universo. Quanto mais certezas adquirimos, mais serenidade interna seguimos reunindo. Este padrão vibratório, este tipo de energia é como a entropia que segue se propagando pelo universo, mas em sentido positivo, pois ela segue organizando as mentes.

Ante o tempo eterno, cada curto período de uma vida é uma oportunidade sagrada que temos para aperfeiçoar o processo de autoconhecimento e para transmitir o que aprendemos.

Quando tal o hábito se cria, o Maçom não vai estranhar quando subitamente se ver disperso e dissoluto no espaço-tempo, imergindo no oceano eterno que representa a grande obra do G⸫A⸫D⸫U⸫

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I.N.R.I

As letras que formam a palavra INRI são comumente associadas a uma frase latina colocada no cimo da cruz do Cristo pelos romanos, representando Ieshua Nazarenus Rex Iudeorum – Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus. No entanto, essas letras foram relacionadas, por muitas tradições, esotéricas, filosóficas e teológicas, a vários significados ao longo da história.

A título de exemplo, os alquimistas medievais sugerem que as letras se referem a frase Ignis Natura Renovatur Integra – Tudo na Natureza é Renovado pelo Fogo. Ou ainda Igni Nitrum Raris Invenitum – O brilho é raramente encontrado no fogo.

Os Jesuitas associaram as letras a frase Justus Necare Regis Impius – É justo matar um rei ímpio.

Embora ofereçam interpretações mais populares, no âmbito da tradição simbólica e iniciática, tais letras possuem significação mais ampla para os candidatos ao adeptado maçônico, e devem ser objeto de constante reflexão e estudo.

A Maçonaria possui raízes profundas nas tradições simbólicas iniciáticas ocidentais, que possuem sua maior expressão nas tradições Cabalística, Gnósticas e Egipcias. Portanto, os desdobramentos de um estudo aprofundado da palavra INRI, quando associado a tais tradições, oferecem importantes elementos de orientação ao estudante Maçom.

Acerca da tradição hebraica, podemos associar as letras latinas INRI às letras iniciais hebraicas que fazem referência aos elementos antigos: Yam (água), Nour (Fogo), Ruach (Ar) e Yebeshah (Terra). Daí cabe ampla associação, porém a mais importante se refere aos equivalentes hebraicos das letras latinas, que ficam como segue:

I: Yod

N: Nun

R: Resh

I: Yod

A tradição astrológica associa as letras hebraicas aos seguintes equivalentes:

I: Yod: Virgem

N: Num: Escorpião.

R: Resh: Sol.

I: Yod: Virgem

Os símbolos astrológicos possuem a seguinte associação: Virgem se refere a pureza original da natureza, a um estado de inocência edênica. Escorpião se relaciona à morte ou a transformação iniciática, que se dá de forma violenta ou súbita. O Sol, por sua vez, é o símbolo da luz, do centro que a tudo alimenta, sendo relacionado também a ressurreição. Como tudo na astrologia  faz referência aos ciclos da natureza celeste, podemos correlacionar esta simbologia com os ciclos das estações. Ao final do inverno no hemisfério norte o sol ilumina fracamente, tem seu ocaso e morte e a vida na terra se recolhe. Tudo se renova e renasce na primavera, e o mundo reinicia seu ciclo de esplendor. Virgem e Escorpião são a antítese, o nascimento e a morte.

Por outra via a tradição hermética associa os signos astrológicos as antigas divindades egípcias:

I: Yod: Virgem: Isis.

N: Num: Escorpião: Apophis (Set).

R: Resh: Sol: Horus.

I: Yod: Virgem: Isis.

Aqui cabe fazer uma interpretação simbólica com a situação do homem em estado pré edênico. A humanidade vivia sua primavera virginal no Jardim do Éden. Tal estado é abalado quando da intrusão de Lucifer ou Apophis, o portador da Luz ou do conhecimento do Bem e do Mal. Daí vem a queda na matéria ou o advento do outono. A isto segue que a humanidade ressurge com Osiris, que é o homem revigorado, aperfeiçoado pela experiência na matéria. Osiris, tal como o Cristo, foi traído e morto na matéria, sendo posteriormente o renovador de todas as coisas. Osiris declara: “Este é o meu Corpo, que eu destruo, para que possa ser renovado”.

Isis – Apophis – Osiris, formam com suas iniciais IAO, que é a divindade máxima dos gnósticos.

Este processo de iluminação é sintetizado na palavra latina LUX, que designa a luz. Isso se refere a um processo divino que transforma o psíquico do homem e o liga mais estreitamente a sua divindade ou Eu Superior. A palavra LUX, inclusive pode ser interpretada como a luz que emana da cruz de Cristo, pois a grafia latina da palavra é LVX, e todas as letras são partes da cruz.

Um antigo cerimonial iniciático relaciona a grafia da palavra LUX a verbalização das seguintes frases, seguidos de posturas específicas:

L é o sinal do luto de Isis. O adepto aqui reconhece o pesar de Isis pela morte de Osiris por Apophis.

V é o sinal de Apophis e Typhon. Osiris foi assassinado e teve o seu corpo despedaçado por seu irmão Apophis.

X é o sinal de Osiris morto.

Por fim o adepto acrescenta: “E renascido. Isis, Apophis Osiris. IAO”.

Os Rosacruzes clássicos apresentam uma fórmula semelhante no Fama Fraternitatis: “Ex Deo Nascimur. In Jesus Morimur. Per Spiritus Sanctus reviviscimus” – De Deus Nascemos. Em Cristo Morremos. Revivemos pelo Espírito Santo.

A palavra LVX possui ainda um equivalente numerológico romano ao número 65 (L+V+X). Este número então pode ser relacionado simbolicamente a luz ou iluminação. Ocorre que na interpretação cabalística, o iniciado deverá procurar unir-se ao Eu Superior, simbolizado aqui pela palavra hebraica Adonai (אדני). Esta última pode ser traduzida por “Meu Senhor”. Uma interpretação gemátrica – ou do simbolismo numerológico presente nas palavras hebraicas – indicam que suas letras possuem a seguinte correspondência:

Aleph א – 1.

Daleth ד – 4.

Nun נ – 50.

Yodי  – 10.

Totalizando 65.

Podemos então identificar uma relação entre LVX e Adonai.

Para o estudante Maçon, que aspira o Mestrado e as trilhas nos graus superiores que seguirão, a compreensão de INRI como um emblema simbólico é uma referência decisiva para o entendimento de que o caminho iniciático leva a um re-ligare ao Eu Superior, a um estado edênico, porém que agora é sublimado e aperfeiçoado pela experiência do renovatur integra proporcionado pelo processo de desapego material.

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A TÉTRADA PITAGÓRICA

Para os Pitagóricos a Tetrada ou Tetractys é um símbolo que representa um sistema iniciático completo, amplo e profundo. Ela se constrói a partir de representações numéricas que são identificadas com as emanações da criação. O Uno ou estado negativo de existência emana o número dois, que representa o estado imperfeito, o ser que se separa da Unidade ou divindade. O segundo grau então é um estado desordenado e confuso, o qual é característico de todos os números pares, haja vista que nestes a dualidade é um divisor sempre implícito. Os números ímpares conteriam o que é perfeito, pois neles somente a unidade ou outros números ímpares estariam contidos. Números primos expressam, inclusive, a máxima perfeição, pois estão relacionados somente com sua própria essência formativa e com a unidade.

A Unidade é o princípio de todas as coisas. Após a mônada universal observar a si própria, veio a incerteza, a dualidade, com a consequente manifestação nos planos materiais. A Unidade e a Dualidade engendraram o número perfeito, o 3 (a Trindade), o todo ideal que representa o início, o meio e o fim, os três Logos ou ideias primordiais que estruturam a essência do universo e de todas as suas manifestações. Com a idealização das formas, e o seu domínio pelos seres vem o 4 (Quaternário), que é a realização do ideal no material. Após o Quaternário o elemento humano se manifesta na Pentalfa, símbolo do segundo grau = Companheiro Maçom – como fator potencial de regeneração da divindade.

A compreensão do significado conjunto destes quatro números forma a década (1+2+3+4 = 10), que é a unidade futura, a ser conquistada após um longo processo evolutivo, regido pelo estudo da ética e prática da moral. A Década (10) é a soma da Unidade (1), da Contradição (2), da Perfeição (3) e da Realização (4). Estes princípios somados sintetizam o processo iniciático pitagórico.

Tal processo iniciático vinha com profunda contemplação sobre a Tétrada Pitagórica. Contemplar vem do latim Cum Templum, significando estar em consonância com o templo. Assim, para o trabalho Maçônico, contemplação se relaciona a construção intuitiva do Templo em nossa percepção interna.

Os juramentos dos Pitagóricos eram sobre a Tétrada e todos os seus temas aritméticos se davam com o auxílio de pequenas pedras (cálculos – em grego – daí o termo moderno que se refere aos princípios de contagem).

A Tétrada Pitagórica é um triângulo equilátero – símbolo do elemento terra no sentido de divindade manifestada – formado por dez pontos equidistantes, ou cálculos, cada qual com um significado simbólico, dispostos como na figura a seguir.

O termo Tétrada vem das quatro linhas paralelas que podem ser traçadas horizontalmente. Esta figura foi profundamente estudada por hermetistas, cabalistas, filósofos e esoteristas, obtendo várias interpretações. Existem muitas associações da Tétrada com outros sistemas simbólicos e iniciáticos. Como sendo uma estrutura arquetípica e universal, ela pode ser relacionada a diversos sistemas, tais como à Arvore da Vida, Tetragrammaton, Planetas em sua configuração astrológica, etc.

Nesse sentido, a Tétrada também pode ser emprestada ao simbolismo maçônico para auxiliar certos conceitos. O ponto central representa a letra G; a união de todos os pontos externos da Tétrada forma o Todo Supremo (GADU). Os três triângulos entrelaçados – que podem ser observados no interior da estrutura – representam as três luzes da Loja; os vários cálculos menores representam os vários cargos, na ordem que segue, sendo que fizemos a correlação com as sephirot para facilitar a associação com a Tétrada, conforme a figura anterior: 1 – Venerável Mestre (Kether), 2 – Secretário (Chokmah), 3 – Orador (Binah), 4 – Hospitaleiro (Chesed), 5 – Tesoureiro (Geburah), 6 – Mestre de Cerimônias (Tipharet), 7 – 2º Vigilante (Netzach), 8 – 1º Vigilante (Hod), 9 – 2º Experto (Yesod), 10 – Cobridor Interno (Malkut). Os triângulos em oposição lembram as contradições em Loja – lembrando que toda manifestação concreta possui o seu oposto no mundo manifestado; os quadrados, vistos em diagonal, lembram o pavimento mosaico; finalmente a figura ainda contém 9 triângulos inscritos, ou 3×3 que é a saudação maçônica universal.

Pelo princípio hermético do mentalismo, o Universo obedece aos ditames do pensamento. Este pode ser gradualmente refinado à medida que conseguimos elevar a forma com que lidamos com os planos mais sutis. Partimos do pensamento concreto, que é o que utilizamos quotidianamente para impor nossa vontade sobre o mundo material, e para organizar nossos pensamentos. Na sequência, com a prática e esforço de vontade, podemos influir sobre os mundos astrais e espirituais superiores.

Os tipos mentais que podemos utilizar para agir nos planos de existência são: mental concreto no mundo material; mental puro no mundo astral; intuição no mundo espiritual; e não pensamento (ou pensamento negativo) no mundo divino. Apenas podemos conceber o pensamento concreto, os demais dependem da vivência nesses planos para serem adequadamente compreendidos. Mas podemos desenvolver o hábito de pensar simbolicamente, deixando um pouco de lado as palavras na mente e utilizando símbolos para começar vivenciar a existência nos planos superiores. Para tanto propomos a seguir algumas práticas que podem ser de grande auxílio.

Práticas

I – Mentalização.

O exercício simples de mentalização proposto é baseado nos princípios de Magia Cerimonial Simbólica e inicia com a prática meditativa. O praticante deverá estipular o tempo adequado a sua capacidade consciencial atual de serenar a mente e afastar toda a turbulência mental. Após entrar em estado meditativo adequado, o praticante deverá idealizar a imagem da Tétrada Pitagórica, associando-a ao Templo Maçônico, conforme descrito anteriormente.

A seguir, o praticante deverá fixar a imagem criada em um ponto específico do campo mental, tentando concentrar-se e trazê-la para a parte de trás dos olhos, mantendo lá por um certo tempo. Na dificuldade de fixar a imagem na posição indicada, o praticante poderá idealizar um campo mental maior, transladando os olhos para bem mais à frente.

Recomenda-se que este exercício seja feito diariamente, durante a eventual prática de meditação rotineira, podendo resultar em alguns benefícios, que irão depender da compleição espiritual do praticante. Convidamos o praticante a compartilhar seus resultados com sua Coluna, a fim de desenvolvermos um estudo sobre a prática.

II – A Tétrada e o Tarô.

Outra prática se refere ao uso da Tétrada na meditação com o baralho Tarô, que não é somente um instrumento divinatório, mas um sistema simbólico que pode auxiliar no autoconhecimento. É sabido que o Taro é estruturado de acordo com os princípios cabalísticos, e para aprofundar o tema recomendamos o livro “O Tarô Cabalístico” de Robert Wang.  Os cálculos que compõem a Tétrada são organizados hierarquicamente a fim de estruturar a disposição dos Arcanos do Tarô, conforme a figura a seguir:

Não faremos uso divinatório desta prática, a postura da consulta deverá ser específica para o autoconhecimento e para conselhos de natureza maçônica. Após o embaralhamento usual – existem diversas formas de fazê-lo, mas recomenda-se o uso de todos os Arcanos Maiores e Menores – com o foco da atenção na evolução espiritual, passa-se a interpretar as cartas como segue.

A primeira linha de uma única posição representa a premissa da leitura ou a postura do consulente em relação ao Universo, formando uma base para a compreensão de todas as outras cartas.

A segunda linha de duas posições representa o Universo e o consulente, e a relação de ação e reação entre ambos. A Carta de Luz à direita representa a influência que conduz o consulente as ações positivas que toma. A Carta Escura à esquerda representa a reação do Universo às ações do consulente.

A terceira linha de três posições representa três caminhos que o consulente pode seguir. A Carta do Criador é a da direita, representando novas decisões e direções que podem ser tomadas. A do centro é a de Sustentação, representando decisões, atitudes, e fatos que não devem ser mudados e que podem contribuir para manter o equilíbrio do consulente. A Carta Destruidora é a da esquerda, representando velhas decisões e caminhos que devem ser abandonados.

A quarta linha, de quatro posições, representa os quatro elementos primordiais, símbolos da matéria que o consulente deverá aprender a controlar internamente. A carta de Fogo é a da direita, representando a força criativa dinâmica, e a vontade pessoal a ser desenvolvida. A carta seguinte corresponde ao elemento Ar, representando a mente, os pensamentos e estratégias que deverão ser controlados na direção dos objetivos. A terceira é a do elemento Água, representando as emoções, sentimentos e caprichos a serem dominados. A última carta corresponde ao elemento Terra, representando os aspectos mais densos do corpo físico a serem controlados.